-->

sábado, 13 de agosto de 2011

A porta estreita

24 Ele respondeu-lhe: Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão.
É imperativo o conselho de Jesus: “esforçai-vos”, indicando- nos o quanto não se deve deixar para “procurar” entrar à última hora. Mas, infelizmente, é assustador o número de pessoas que, ao longo da vida, se despreocupam de saber o que lhes acontecerá após a morte. Muitos estão dispostos a trocar o Céu pelo fugaz prazer de um segundo e agem tal qual o fez Judas Iscariotes face às enganosas delícias deste mundo: “Que quereis dar-me e eu vo-lo entregarei” (Mt 26, 15). Não são poucos os que preferem Barrabás a Jesus, entregando-se às paixões e pecados em detrimento do convívio sem fim, com Deus. São Basílio descreve o modo pelo qual eles fazem essa insensata opção:
“Com efeito, a alma vacila sempre: quando reflete sobre a eternidade se decide pela virtude. Mas, quando olha o presente, prefere os prazeres da vida. Aqui vê a moleza e os deleites da carne; lá, a sujeição, a servidão e o cativeiro da mesma. Aqui a embriaguez, ali a sobriedade. Aqui os risos dissolutos, lá a abundância de lágrimas. Aqui as danças, lá a oração. Aqui o canto, lá o pranto. Aqui a luxúria, lá a castidade”.
Mas, qual é essa porta estreita? Jesus no-la indica:Nem todos os que dizem Senhor, Senhor, entrarão no Reino dos Céus, senão aquele que faz a vontade de meu Pai” (Mt 7, 21).
Ela consiste, portanto, na obrigação nossa de abater o orgulho, controlar nosso olhar, pensamentos e desejos, guardar nosso coração das afeições desordenadas, viver da fé e da esperança na prática da verdadeira caridade, etc.
25Quando o pai de família tiver entrado e fechado a porta, vós, estando fora, começareis a bater à porta, dizendo: Senhor, abre-nos. Ele responderá: Não sei donde sois.
Os Evangelhistas costumam relatar as aproximações que o Divino Mestre fazia entre o Reino dos Céus e um banquete... Segundo as praxes da época, por medidas de segurança, além de outras razões, ao chegar o último convidado, o anfitrião trancava as portas. E assim, para tornar ainda mais clara a alegoria da porta estreita para se entrar no Céu, Jesus apresenta a parábola do pai de família que se fecha em casa com os seus filhos e amigos. Os que restaram fora pedirão que lhes deixe entrar, e receberão a resposta: “Não sei donde sois”. A razão dessa resposta não vinha do fato de não haver mais lugar, mas sim, por não terem querido entrar pela porta estreita.
Que surpresa para aqueles que julgavam estar salvos devido à prática de umas tantas e poucas obrigações religiosas...
A cena descrita nesta passagem traduz em termos domésticos uma profunda realidade eterna. A família aqui representada é a divina. A ela pertencem todos os batizados que vivem na graça de Deus e, nesta morrendo, gozarão da felicidade perpétua participativa do convívio da Santíssima Trindade. De fora daquela intimidade ficarão todos os que morrerem impenitentes de seus pecados. O Pai os tratará como estranhos desconhecidos.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A VIAGEM DEFINITIVA

Ao se apresentar diante de nós uma possível viagem, nossas atenções começam a dividir-se entre o presente e o futuro, entre o ambiente atual com suas ocupações e o lugar para onde rumaremos. Se nossa ausência for de longa duração, e ainda mais se nosso destino se localizar num país bem distante, entraremos num certo estado de tensão que poderá ser maior ou menor, em função do temperamento e mentalidade de cada um, mas a indiferença total raramente acontecerá.
Passaporte, roupas, objetos, remédios, etc., constituirão um pensamento mais ou menos constante em meio às nossas atividades normais do dia-a-dia, antes de partir. O idioma, os costumes, o clima, a alimentação, etc., excitarão nossa curiosidade, alimentando o sonho de uma experiência nova, meio mitificada quanto às possíveis felicidades.
Do amanhecer ao apagar das luzes, nossa imaginação percorrerá as ruas, praças e monumentos daquela cidade onde iremos morar durante um certo tempo. As providências concretas, por menos metódico que se seja, terão prioridade em nossas responsabilidades e afazeres e a tal ponto que provavelmente teremos iniciado nossa viagem muito antes de subir no avião.
No entardecer desta vida, empreenderemos a mais importante e definitiva mudança de nossa existência rumo à... eternidade. Mas será diferente de todas as outras, pois não poderemos levar absolutamente nada de nossos pertences e nem sequer será preciso passaporte.
Ela não terá volta atrás e deverá se realizar a sós, sem acompanhantes. A partida é inadiável, desde todo o sempre foi fixada por Deus, e não terá atraso. A chegada tanto poderá dar-se no Inferno, quanto no Céu, e para este último local ainda é possível que haja uma passada pelo Purgatório.
Porém, essa é a viagem por quase todos relegada ao esquecimento. Carreira, dinheiro, prazeres, saúde — em síntese, o mundanismo — é a obsessão que transtorna as mentes desde a saída de Adão do Paraíso, prolongando pelos séculos e milênios os ecos do episódio havido entre Marta e Maria:
“Marta, porém, afadigava-se muito na contínua lida da casa. Parou então e disse: ‘Senhor, não Te importas que a minha irmã me tenha deixado sozinha com o serviço da casa? Diz-lhe, pois, que me ajude’. O Senhor respondeu-lhe: ‘Marta, Marta, tu afadigas-te e andas inquieta com muitas coisas, quando uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.’ ” (Lc 10, 40-42). De fato, só uma coisa é necessária: a salvação eterna. “Pois, que aproveitará a um homem ganhar todo o mundo, se vier a perder a sua alma?” (Mt 16, 26).