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sábado, 31 de dezembro de 2011

Evangelho do Natal III

Homem de nosso sangue e nossa raça
Deus não moldou outro boneco de barro como para o primeiro Adão. Se assim tivesse procedido, Ele não teria o nosso sangue, não pertenceria à nossa família, não seria nosso irmão. Apesar de sua geração não ter se dado de forma idêntica à nossa, entretanto Ele foi concebido por uma mulher, e dela nasceu. Mulher bem-aventurada entre todas, santa e imaculada, única e cheia de graça, virgem e mãe, mas enfim, filha de Adão. Por isso Jesus, além de verdadeiro Filho de Deus, é também Filho do Homem, de nosso sangue e de nossa raça. Esta é a razão pela qual, no decurso de sua vida, Ele se fez reconhecer por estes dois títulos, pois, se pelo primeiro deles Jesus se identificava com o próprio Deus, pelo segundo, aproximava seu Sagrado Coração do nosso.
Porém, sendo Ele “Deus verdadeiro, de Deus verdadeiro, gerado e não criado, consubstancial ao Pai”, pareceria mais segundo a lógica escolher um corpo glorioso proporcionado à sua alma que sempre esteve no pleno gozo da visão beatífica. Esse corpo deveria estar isento das dores, sofrimentos e contingências tão comuns a nós, pobres mortais, filhos de Eva. Seria mais compreensível que o esplendor da majestade marcasse suas exterioridades — tal qual imaginavam e desejavam os judeus —, um Messias triunfante, dominador sobre todos os povos. Renunciou a todas essas glórias e, nessa Noite Feliz, vemo-Lo um Bebê num estábulo, conforme nos descreve Bossuet:
“‘Encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura’ (Lc 2, 12). Vós conhecereis por esse sinal que Esse é o Senhor. Ides à corte dos reis, vós conhecereis o príncipe recém-nascido por suas colchas recamadas de ouro e por um soberbo berço, o qual bem poderia ser um trono. Mas, para conhecer o Cristo que vos nasceu — esse Senhor tão elevado que Davi, seu pai, apesar de ser rei, O chama de ‘seu Senhor’ — não vos será dado outro sinal senão o da manjedoura, na qual se encontra deitado, e dos pobres panos nos quais está envolta sua débil infância. Ou seja, não Lhe foi dada senão uma natureza semelhante à vossa, debilidades como as vossas, uma pobreza abaixo da vossa. Quem de vós nasceu numa manjedoura? Quem de vós, por mais pobre que seja, dá a seus bebês uma manjedoura por berço? Jesus foi o único que se via colocado nessa situação extrema, e é sob esse signo que deseja ser conhecido. Se Ele quisesse se servir de seu poder, que ouro coroaria sua fronte! Que púrpura brilharia sobre seus ombros! Que pedrarias enriqueceriam suas roupas!” (1)
E foi por causa dessas aparências que os pastores reconheceram haver nascido “na cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo, o Senhor” (Lc 2, 11). “E nós vimos a sua glória, glória como de Filho Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (v. 14). “Ninguém jamais viu a Deus; o Unigênito de Deus que está no seio do Pai, Ele mesmo é que O deu a conhecer” (v. 18).
Eis mais um incomensurável benefício dessa Noite Feliz: Jesus nos facilita e nos conduz a conhecer a Deus.

Continua no próximo post.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Evangelho do Natal II

Deu início à era da graça
Não há no vocabulário humano palavras para exaltar suficientemente as incontáveis e preciosas maravilhas a nós concedidas naquela Noite Feliz.
Na ordem dos seres criados podemos encontrar certas analogias ilustrativas, para melhor nos fazer compreender essa infusão divina de que ora tratamos. Uma barra de ferro submetida numa forja a altas temperaturas, não tardará em tornar-se incandescente. Segundo comenta São Tomás de Aquino, a barra, sem deixar de ser ferro, adquirirá todas as propriedades do fogo; exemplo, portanto, de como, pela graça, Deus diviniza nossas almas. São Boaventura serviu-se da figura de um vitral iluminado pelo sol para nos explicar a mesma realidade sobrenatural. O que é o vitral sem os raios de luz — pergunta ele — e o que somos nós sem a graça?
Outros autores se basearam em exemplos oriundos do reino vegetal para nos tornar acessível uma certa ideia sobre esse tão rico fenômeno sobrenatural. Assim, enxertando-se um ramo de laranjeira num pé de romã, as laranjas nascerão com todas as suas características próprias e, ademais, terão a coloração e o sabor da romã. Também Deus, por meio de um insuperável enxerto da graça em nós, eleva-nos a participar de sua natureza divina.
Esse inefável milagre se inicia no Presépio, em Belém. É o mistério da Redenção: nossos pecados podem ser perdoados e, isentos de toda culpa, somos reintegrados à ordem sobrenatural.
Amou-nos como irmãos
Fixemos nosso olhar nesse Menino que se encontra reclinado na manjedoura de Belém e contemplemos Aquele no qual “foram criadas todas as coisas (...) tudo foi criado por Ele e para Ele” (Col 1, 16).
Essas afirmações contidas na Revelação pela lavra de São Paulo Apóstolo, pedem um aprofundamento: “Por Ele” quer dizer que o Menino Deus foi o Criador. “Para Ele”, ou seja, tudo o que existe — e em especial os seres inteligentes — têm a obrigação de glorificá-Lo. “N’Ele”, significa que Ele serviu de modelo para a nossa criação.
“Noite feliz, noite feliz! O Senhor, Deus de Amor, pobrezinho nasceu em Belém. Eis, na lapa, Jesus, nosso Bem. Dorme em paz, ó Jesus”. Serão as palavras que ouviremos repetir-se neste Natal, na evocativa melodia do “Stille Nacht”, um tocante raio de paz em meio aos dramas e preocupações dos dias atuais.
“Deus de amor”, Ele sempre o foi e jamais deixará de sê-lo. Esse amor é eterno como o próprio Deus. “Amo-te com amor eterno” (Jr 31, 3). Gozando de uma felicidade perfeita e infinita, não tinha Ele necessidade do homem nem dos Anjos. O amor O levou a tirar do nada inúmeras criaturas, concedendo-lhes a possibilidade de participarem de sua Vida. Foi por essa razão que “o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (v. 14), mas a Encarnação foi apenas o primeiro passo em sua via de dileção por nós. Ele se fará nosso companheiro de todos os dias, o amigo de nossa existência. Esse amor, sendo pertinaz, não se satisfez e desejou elevar-nos à categoria de sermos seus irmãos.
E que fez Ele para tal?
Continua no próximo post.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Evangelho do Natal

DIVINA SOLUÇÃO PARA UM PROBLEMA INSOLÚVEL
Aproximemo-nos da manjedoura na gruta em Belém e contemplemos um Menino reluzente de vitalidade, sabedoria e graça. A diplomacia divina não podia haver elaborado melhor forma para remediar todos os males trazidos pelo pecado. Um Homem-Deus...
Esse é o fundo de quadro de grandiosidade do Evangelho de hoje: “A todos que O receberam, àqueles que crêem no seu nome, deu poder de se tornarem filhos de Deus; eles não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (vv. 12-13).
Excelente tema para se considerar nesta festa de Natal: um Menino adorável, Deus e Homem verdadeiro, com todas as fragilidades de uma criatura, porém unida hipostaticamente ao Onipotente.
Aí está o Menino Redentor que naquela Noite Feliz nos abriu não só os braços mas — e sobretudo — a possibilidade de termos uma participação em sua divina natureza. Quão extraordinário é para nós esse dom! Apliquemo-nos em compreendê-lo melhor.
A Redenção nos tornou filhos de Deus
Estamos habituados a conferir o título de filho de Deus a qualquer pessoa a ponto de constituir, talvez, uma certa ofensa em negá-lo a quem quer que seja. Mas esta atitude não passa de um profundo equívoco, pois os não-batizados são puras criaturas, e não filhos de Deus. Da mesma forma que não posso afirmar serem os móveis filhos do marceneiro que os produziu, pois dele não receberam a natureza humana, assim também não se pode dar o título de filho de Deus a uma pessoa que não participa da natureza divina.
Pois, para ser filho, necessita-se ter a mesma natureza do pai; por isso os filhos dos coelhos chamam-se coelhos, e os dos homens são homens. E os filhos de Deus devem ser “deuses” como Ele o é.
Ademais, as capacidades de toda criatura sempre estão em proporção de sua respectiva natureza. Por exemplo, o colibri tem as aptidões que lhe são próprias, e ignorância consumada seria dar-lhe para resolver um problema de álgebra ou de simples aritmética. Assim também, são puramente humanas as forças do homem, nunca divinas.
Ora, o prêmio deve estar proporcionado aos predicados de quem o mereceu. Jamais seria adequado conceder a um corcel, por sua agilidade e capacidade físicas, um prêmio intelectual, pois, não só ele não o entenderia, como seria um verdadeiro absurdo. Da mesma forma, todos os prêmios conquistáveis pelo homem, devido à sua natureza própria, nunca poderiam ser divinos, são sempre puramente humanos.
Esta é a razão pela qual o Céu não se obtém pelos esforços, nem sequer da natureza angélica. Por mais que nos fosse dado praticar todos os Mandamentos da Lei de Deus, jamais poderíamos, por nós mesmos, entrar no Céu, pois, a essência deste consiste em ver Deus face a face, e só as três Pessoas da Santíssima Trindade possuem esse privilégio desde toda eternidade e por toda eternidade.
É justamente no Presépio que se encontra representado o retorno da vida sobrenatural para nós. Ali está Quem não só nos abriu as portas do Céu, mas também nos elevou à categoria de filhos de Deus.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Se não vos tornardes como meninos...

Final dos comentários do Evangelho de natal
A inocência: a verdadeira paz para este mundo
Peçamos a Maria que neste Natal faça nascer o Menino Jesus no presépio de nossos corações, para torná-los tão puros e inocentes quanto o d’Ele.
Conta-se um significativo fato ocorrido na época das caravelas. Debate-se a frágil embarcação sob uma terrível procela. Os tripulantes põem-se todos a rezar no tombadilho, implorando o socorro divino. Vendo bem que nada prognosticava o aquietamento daquelas enfurecidas ondas, rogam um milagre. Eis que, em certo momento, o comandante percebe entre os passageiros uma mãe estreitando ao peito seu filhinho. Sem hesitar, arranca a criança dos braços da mãe, ergue-a e suplica em alta voz: “Senhor, nós pecadores não merecemos ser ouvidos por Vós. Pior do que ser tragados por estas águas revoltas, nosso destino bem poderia ser o eterno fogo do inferno. Mas, Senhor, aqui está um inocente que clama pela vossa misericórdia e intercede por nós. Clemência, Senhor, por esta inocência!”
Antes mesmo de devolver à mãe o menino, instantaneamente, as águas tornaram-se serenas. Façamos o mesmo. A humanidade hoje atravessa uma de suas maiores crises. Neste proceloso Natal de 2003, apresentemos o Menino Jesus a Deus Pai e, pela poderosa intercessão de Maria e José, imploremos a verdadeira paz para este mundo tão conturbadamente caótico. Ou seja, peçamos que volte a reinar entre nós a virtude da inocência.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

" Se não vos tornardes como meninos..."

Continuação
Considerações próprias a alimentar nossa piedade
As considerações teológico-exegéticas sobre o Evangelho de hoje levar-nos-iam a escrever uma enciclopédia. Mas basta-nos, por ora, ressaltar a Sabedoria incomensurável de Deus, ao realizar a união de duas naturezas, tão diversas, numa só Pessoa: um profundo, e ao mesmo tempo, altíssimo mistério, impossível de explicar-se nesta terra, apesar de claramente revelado.
Aproveitemos, então, o espaço que nos resta, para alimentar nossa piedade, perguntando-nos: como agradecer a Jesus, no berço, tanta bondade para conosco? Quanto desejaríamos nós retribuir, com um amor sem limites, os infinitos e sobrenaturais dons trazidos por esse Menino! Parecer-nos-ia impossível realizar uma tal reciprocidade. Entretanto, está ela inteiramente ao nosso alcance. Para tal, não é necessário retomarmos nosso débil corpo de bebê dos primeiros momentos de nossa existência. Será suficiente colocar em prática o conselho do próprio Jesus: “Na verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como meninos, não entrareis no reino dos Céus” (Mt 18, 3).
RESTAURAR A INOCÊNCIA, PARA OBTER A PAZ
Na prática, o que significa converter-se e tornar-se “como menino”?
A criança não conhece a mentira, a falsidade nem a hipocrisia. Sua alma se espelha inteiramente em sua face; sua palavra traduz com fidelidade seu pensamento, com uma franqueza emocionante. Ela não tem as inseguranças da vaidade ou do respeito humano. Em uma palavra, ela e a simplicidade constituem uma sólida união.
O exemplo dado pelo próprio Deus
O Divino Infante, criador das leis da natureza, em dado momento a elas se submete como um pobre mortal. Ele deseja ensinar-nos mais esta virtude da criança que é obediente tal qual Jesus o era a seus pais, conforme encontramos em Lucas (2, 51): “e era-lhes submisso”. Para nosso exemplo, Ele conservou a obediência até o último suspiro de sua existência: “Humilhou-se a Si mesmo, fazendo-se obediente até à morte, e morte de cruz” (Fil 2, 8).
Que lição nos dá Jesus! A Sabedoria Eterna, um bebê em tudo dependente dos que O cercam. Essa deve ser nossa flexibilidade, resignação e disposição de alma diante de todas as circunstâncias de nossa vida, prontos a dizer “sim” a qualquer mínimo convite da graça. Eis o caminho indicado pelo Salvador, sobre as palhas da manjedoura.
Quanto nos custará, talvez, cumprir com os rigorosos deveres de uma sábia disciplina, ou de colocar-nos sob o jugo de uma autoridade, ou de nossas responsabilidades sociais e religiosas. Para agradecer a Jesus, seria bom impormos silêncio aos nossos caprichos e paixões, e imitarmos a sua obediência.
Jesus ama a pureza de coração
Se há uma nota que superlativamente nos atrai na criança, esta é, com toda certeza, a candura, que a faz ignorar a maldade. A pureza de coração, com a qual ela cria para si um universo de beleza moral que, se não trilhar as vias da santidade, ela perderá por não lutar contra a concupiscência decorrente do pecado original. Esta é a virtude que Jesus, no berço, nas praças ou no Templo, na Cruz ou na Ressurreição, mais ama (cf. Mc 10, 13-16).
Eis a maneira de retribuirmos plenamente ao Menino Jesus todos os benefícios recebidos: mantendo-nos inocentes até o dia do Juízo. Aí sim, faremos sua alegria, na companhia de Maria e José.
Mas, se a alvura de nossas vestes batismais tiver sido tisnada pelo pecado, se foram elas rasgadas pelo desvario de nossas paixões e perderam os perfumes daquela candura de outrora, como proceder?
Acima de tudo, não devemos nos deixar abater. Façamos mergulhar nossa túnica nas miraculosas águas da penitência. Elas a lavarão, reconstituirão e a impregnarão de um celestial aroma. Nossas lágrimas de arrependimento junto ao Menino Jesus, sob a maternal proteção de Maria Santíssima e os rogos de São José, infalivelmente nos obterão a restauração de nossa inocência, conforme Ele mesmo nos prometeu. (1)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

“Se não vos tornardes como meninos..."

Continuação dos comentários  sobre o Evangelho de Natal
O EVANGELHO, TESTEMUNHO DA DIVINDADE DE JESUS
O Evangelho de natal constitui uma das mais belas páginas da Escritura. Em algumas frases, pervadidas de sobrenatural unção, o Apóstolo Virgem sintetiza a história eterna e humana do Verbo de Deus, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Tal qual atestam muitos e famosos autores, trata-se de um hino a Cristo Encarnado, provavelmente escrito sem ter em vista o próprio Evangelho, e talvez até antes deste. Alguns chegam a levantar a hipótese de São João ter intercalado os grupos de versículos 6 a 8, 12 e 13, 15 a 17, quando resolveu adaptar esse canto para utilizá-lo à maneira de prólogo ao seu Evangelho.
Intuito pastoral e polêmico
São João resolveu escrever um quarto relato da vida do Salvador, apesar de já existirem os de Mateus, Lucas e Marcos, pelo seu enorme empenho em provar e documentar a divindade de Jesus, conforme ele mesmo declara: “Outros muitos prodígios fez ainda Jesus na presença de seus discípulos, que não foram escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos a fim de que acrediteis que Jesus é o Cristo, Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome” (Jo. 20, 30-31).
Vê-se claramente, por esta afirmação colocada já quase no fim de seu relato, o quanto o prólogo é uma síntese do Evangelho. E, por diversas razões, não se pode excluir a hipótese de ter o autor um certo intuito polêmico. O Cristianismo já fizera seu curso e — além de doutrinas errôneas panteístas sobre a união das duas naturezas, a divina e a humana, numa só Pessoa — havia também heresias que negavam a realidade da carne de Jesus, (cf. I Jo 4, 1-3), como, por exemplo, uma forma precoce de docetismo, assim descrita pelo próprio São João: “Porque muitos sedutores se têm levantado no mundo, que não confessam que Jesus Cristo tenha vindo em carne; estes tais são os sedutores, são o anti-Cristo” (II Jo 7).
“E o Verbo se fez carne” (v. 14)
É conveniente salientar que, em muitas passagens da Escritura Sagrada, o vocábulo “carne” não tem o significado de carne sem vida, mas é sinônimo de “homem inteiro”, com uma conotação toda especial que visa sublinhar o aspecto de fragilidade da natureza humana. Esta é a razão pela qual não se encontra no prólogo a expressão “se fez homem”, pois deseja o Evangelista acentuar ainda mais a infinita distância entre Deus e a criatura na qual Ele se encarnou. Nem sequer exprimiu-se pelos termos “fez-se corpo”, porque certamente quis evitar que alguém viesse a crer tratar-se Cristo de um ente humano sem vida, animado tão somente pela divindade.
A mesma preocupação dogmático-pastoral de São João — de deixar clara a divindade de Jesus — transparece de certa forma no Evangelho de hoje, pelo emprego dos verbos predominantemente no pretérito imperfeito, até o v. 14. E em contraposição, ao referir-se à Encarnação, ele emprega o pretérito perfeito. Nos primeiros versículos descreve a existência eterna do Verbo (“era”, “estava”, “existia”), e a partir do v. 14 procura tornar clara sua atuação no tempo (“se fez”, “habitou”), ou seja, o Verbo Encarnado é o Mesmo Filho Unigênito gerado pelo Pai, desde toda eternidade.
Pelos motivos anteriormente expostos, São João acrescenta à sua proclamação da Encarnação dois substanciais grupos de testemunhas: o Batista (vs. 6 a 9 e 15) e os próprios Apóstolos (v. 14), indispensáveis para dar solidez à sua argumentação.