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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

EVANGELHO XX DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO C - 2013

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Continuação dos comentários ao Evangelho  - Lc 12, 49-53 - 20º Domingo Tempo Comum - Ano C - 2013
Jesus Se opõe à tranquilidade da desordem
51“Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a Terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão”.
Estamos diante de uma das afirmações mais incisivas proferidas pelo Mestre em todo o Evangelho: “não vim trazer a paz”. Como é que, o “príncipe da paz” profetizado por Isaías (9,5), Ele, que ao invocar a presença do Espírito Santo dirá: “A paz esteja convosco” (Jo 20, 19), prega não ter vindo trazê-la? Eis um versículo que causa perplexidade nos espíritos cartesianos. A explicação, porém, é simples e profunda: sua paz não coincide com a que é entendida a partir de conceitos deturpados: “não vo-la dou como o mundo a dá” (Jo 14, 27). A autêntica paz é a tranquilidade da ordem, nos ensina Santo Agostinho.8 A paz rejeitada por Nosso Senhor é a que se estabelece quando as almas estão unidas no pecado, pela cumplicidade que leva os perversos a se protegerem entre si e a viverem em aparente concórdia, numa falsa harmonia fundamentada no mal. Por vezes pode haver dissensões, originadas sempre em interesses pessoais e egoístas, enquanto no campo dos princípios mantêm-se de pleno acordo.
Um adúltero, por exemplo, protege o cúmplice para fruir de seu relacionamento ilícito; os membros de uma quadrilha de salteadores apoiam-se no momento de roubar, para se apropriarem mais facilmente do bem alheio. A aparente paz reinante entre eles é na verdade a conivência no mal, porque o princípio de união que os congrega é o pecado; estão mancomunados numa acomodação de desordem na qual não há a verdadeira paz, por não haver conformidade com a ordem. Poderíamos comparar tal situação ao paradeiro de um infecto pântano onde se encontra todo tipo de germe de doença. Embora as águas sejam calmas, não estão em ordem, porque reina a podridão, proliferam os micróbios maléficos. A origem desse mútuo apoio está no fato de ser o homem dotado de vigoroso instinto de sociabilidade e, por isso, encontrar dificuldade em praticar o mal sozinho, contrariando sua própria consciência. A fim de romper a Lei de Deus, procura sempre uma companhia que o ajude a amortecer suas à rejeição daqueles que O amam pelos parentes mais próximos, quando estes se fecham ao convite da graça.
Não se trata, é claro, de uma regra absoluta, pois, caso todos estejam no caminho da santidade, a família experimenta a verdadeira paz. Não obstante, se a chama do amor divino não penetra o conjunto, deixa de existir o principal fator de coesão, conforme ressalta o ensinamento de Santo Ambrósio: “Se é preciso dar a honra correspondente aos pais, quanto mais ao Criador dos pais, a quem tu deves dar graças por teus próprios pais! E se eles não O reconhecem de modo absoluto como a seu Pai, como podes tu reconhecê-los? Na realidade, Ele não diz que se deva renunciar a tudo o que nos é caro, porém, que se deve dar a Deus o primeiro lugar. [...] Não te é proibido amar teus pais, mas sim antepô-los a Deus; porque as coisas boas da natureza são dons do Senhor”.’°
Como os que vivem em pecado têm graves problemas de consciência, insatisfação e insegurança, desejam perverter ou destruir quem denuncia sua iniquidade. Esse ímpeto maléfico não respeita nem sequer os laços da natureza, de si tão elevados e abençoados por Deus, como vemos no martírio de Santa Bárbara ou na perseguição sofrida por São Francisco de Assis, além do testemunho de incontáveis outros bem-aventurados. Neles cumpriu-se à risca a predição feita neste versículo, pois foram perseguidos pelos próprios pais.
É esse fogo da caridade que Nosso Senhor veio trazer à Terra que desperta a inimizade dos adeptos da pseudopaz, produz um combate interno na vida familiar e gera uma situação na qual a virtude da fortaleza deve ser praticada, tornando inaceitável a união propagada pelos que desprezam a Deus. Não cabe dúvida de que, em certas ocasiões, devemos praticar a prudência e lançar mão de todos os meios para obter de Deus a salvação eterna de nossos parentes, mas tudo isso sem abandonar a firmeza de nossas convicções cristãs, as quais valem mais que qual quer vínculo terreno.
ACENDEI NOVAMENTE O FOGO DO VOSSO AMOR!
Passados dois milênios desta arrebatadora pregação do Salvador, a Liturgia de hoje vem repetir a conclamação feita por Ele, dessa vez voltada a cada um de nós. Com a mesma caridade empregada ao dirigir-Se a seus discípulos, Jesus nos convida a nos deixarmos consumir como uma chama de louvor e adoração a Ele, recebendo o fogo sagrado que viera trazer ao mundo. Abramos nossas almas para essa combustão renovadora que queima os egoísmos, sana os problemas, eleva as mentes ao desejo das coisas celestes e transpõe as barreiras da falta de confiança, de fé e de ânimo. Basta uma leve correspondência de nossa parte a esse amor para que maravilhas se operem, o poder das trevas seja vencido e se consolide o polo do bem. E quando o vento contrário da divisão se abater sobre nós, tenhamos presente que Jesus já o anunciara e não nos negará as forças para a vitória, pois os maus não podem triunfar sobre o fogo da integridade, da inocência, da radicalidade no bem; numa palavra, da santidade.
Com quanto pesar constatamos que a humanidade de nossos dias está precipitada num insondável abismo de pecado e, mais do que nunca, necessita de uma purificação. A gravidade das ofensas cometidas contra Deus e os riscos de salvação eterna pelos quais passam as almas indicam a indiferença de muitos face à mensagem salvífica do Evangelho. Nessa conjuntura cabe-nos fazer uma pergunta, e com ela um exame de consciência: em que medida temos colaborado na reversão desse quadro? Qual tem sido nossa generosidade à vista de tal situação, cuja única solução se encontra numa total entrega de nossa vida a Cristo, para a qual devemos caminhar com santa sofreguidão?
Um exemplo extraordinário de amor desapegado e cheio de fervor é-nos oferecido por Nossa Senhora. Ela estava consumida pela caridade, preocupando-Se com a situação do mundo, com o resgate das almas que se perdiam, desejando cooperar na conversão da humanidade. Ao Se considerar nada, ardia de zelo e foi, por esta razão, visitada pelo Arcanjo São Gabriel, que Lhe trouxe o prêmio por seu fogo de amor: a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade em seu seio.
Conforme comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, “a principal alegria de Nosso Senhor durante a vida terrena estava numa lâmpada acesa na casa de Nazaré: o Coração Sapiencial e Imaculado de Maria, cujo amor excedia o de todos os homens que houve, há e haverá até o fim do mundo”.11 Peçamos à Virgem Santíssima que Se digne transmitir-nos uma centelha da caridade ardente de seu Coração, a fim de que seu Divino Filho Se utilize de nós como fiéis instrumentos na propagação desse fogo purificador por toda a face da Terra.
 10) SANTO AMBRÓSIO, op. cit., LVII, n.136, p.415.

11) CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência. São Paulo, 7 abr. 1984.

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