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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Evangelho XXX Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013

Conclusão dos comentários ao Evangelho 30º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013




Inútil oração do fariseu
11 O fariseu, de pé, orava no seu interior desta forma: “Graças Te dou, ó Deus porque não sou como os outros homens, ladrões, injustos, adúlteros; nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo o que possuo.”
Será difícil crer não ter sido real essa oração. Em sua divindade, quantas vezes não recebeu Jesus, das criaturas humanas, pensamentos semelhantes ou até mais orgulhosos do que esse? Pode-se falar em oração? Não! Trata-se de um profundo ato de orgulho, de um auto-elogio, e de um insolente desprezo pelos demais homens.
Graças Te dou...” Nada melhor do que dar graças a Deus. É piedoso e meritório, mas essa impostação de espírito deve proceder da consideração de nosso nada, de um vigoroso sentimento de nossas fraquezas e misérias, como também da adoração a Deus por Sua infinita misericórdia, não só suspendendo os castigos que nos seriam devidos, mas muito pelo contrário, cumulandonos de dons e graças.
Não é, porém, essa a ação de graças do fariseu; ele se exalta a si próprio e insulta todos os outros. “Procura o que é que ele pede a Deus em suas palavras, e não descobrirás. Subiu ao Templo para orar e não quis rogar a Deus, mas sim louvar-se a si mesmo. Triste coisa é louvar-se em vez de rogar a Deus; além disso, acrescenta o menosprezo àquele que orava” 10. “Com isso, abriu pelo orgulho a cidade do seu coração aos inimigos que a sitiavam, a qual ele inutilmente fechara pela oração e pelo jejum: são inúteis todas as fortificações quando nelas há uma brecha por onde pode entrar o inimigo” 11.
A oração humilde salvou o publicano pecador
13 O publicano, porém, conservando-se à distância, não ousava nem sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito dizendo: “Meu Deus, tende piedade de mim, pecador.”
Atitude, espírito e palavras completamente diferentes das assumidas e formuladas pelo fariseu. No publicano, tudo é humildade, contrição e pedido de clemência. Usando de um costume que já não se vê mais nas Igrejas, batia no peito sem respeito humano. Contrariamente às “modas piedosas” de hoje, nada de leviandade de espírito, de dissipação ou de perpétua agitação; falava a Deus. Bem diferente de outros que na atualidade, entram nas Igrejas sem ter feito uma oração sequer. Muitos exemplos nos dá o publicano, inclusive no que tange à substância de seu pedido: “Meu Deus, tende piedade de mim que sou pecador”.
Sentença proferida por Jesus
14 Digo-vos que este voltou justificado para sua casa e o outro não; porque quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado.
Na hora de entrar no Templo, os dois personagens, embora pertencendo a categorias religiosas e sociais diferentes, eram, no fundo, muito semelhantes. Na hora de sair, são radicalmente diferentes. Um estava ‘justificado’, ou seja, era justo, perdoado, estava em paz com Deus, tinha sido renovado. O outro permaneceu como era no início; mais ainda, talvez tenha piorado sua posição perante Deus. Um obteve a salvação, o outro não” 12.
Fixemos bem nossa atenção: trata-se aqui de uma sentença proferida pelo infalível e soberano Juiz, o próprio Filho de Deus, não poucas vezes diferente da dos homens. Se, sem as luzes da graça fôssemos chamados a escolher um dos apóstolos para se tornar o primeiro dos Pontífices da Santa Igreja, não seria exagerado imaginar que a uns julgaríamos pretensiosos, a outros, pouco ativos, ao próprio Pedro, exagerado e imprudente. Quiçá, antes de se tornar traidor, não teríamos escolhido a Judas pela sua grande discrição, segurança e habilidade em finanças, tanto mais que ele chegou a criticar Madalena pelo desperdício de dinheiro em perfumes para o Mestre, quando havia, então, muitos pobres e necessitados. Por aí nos damos conta do que seria da própria Igreja se não fosse o Espírito Santo a dirigi-la; e do que será de nós se não nos submetermos às Suas inspirações.
A humildade levou ao céu um ladrão
A liturgia de hoje bem pode nos ser útil para um proveitoso exame de consciência: até onde somos humildes como o publicano? Ou haverá em nossas almas, alguma fímbria do espírito farisaico? Qualquer que seja o resultado desse exame, lembremo-nos de que: “A humildade levou ao Céu um ladrão, antes dos Apóstolos. Ora, se unida aos crimes ela é capaz de tanto, qual não seria seu poder se estivesse unida à justiça? E se a soberba é capaz de quebrar a justiça, o que não conseguirá caso se aliae ao pecado?” 13.
1) AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica II-II q. 161 a. 1 ad 3. 2 ) Idem, ibidem, a. 2 c. 3 ) Cf. Suca, fol. 452 4 ) Cf. Las Moradas, Morada sexta, c. 10, § 6-7. 5 ) Ibidem. 6 ) AQUINO, São Tomás de. Ibidem, a. 3 ad 1. 7 ) Idem, ibidem, a. 6 ad 1. 8 ) AGOSTINHO, Santo. Serm. 115, 2. 9 ) Idem.De peccatorum meritis et remissione, liv. II, 8. 10 ) Idem. Serm. 115, 2. 11 ) GREGÓRIO, São apud São Tomás de Aquino. Catena Aúrea. 12 ) CANTALAMESSA, Pe. Raniero. Echad las Redes — Reflexiones sobre los Evangelios — Ciclo C, EDICEP C.B., Valência, 2003, p. 333. 13) A LÁPIDE, Cornélio. In Luc. In: The great commentary of Cornelius a Lapide. S. Luke´s Gospel. 3.ed. London: John Hodges, 1903, p.447.




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