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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Evangelho IV Domingo do Advento – Ano A – 2013 – Mt 1, 18-24

Comentário ao Evangelho – 4º Domingo do Advento  - Ano A  – 2013 – Mt 1, 18-24
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Evangelho -  Mt 1, 18-24
18 “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua Mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, Ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. 19 José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-La, resolveu abandonar Maria em segredo. 20 Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: ‘José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque Ela concebeu pela ação do Espírito Santo. 21 Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois Ele vai salvar o seu povo dos seus pecados’. 22 Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: 23 ‘Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, o que significa: Deus está conosco’. 24 Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado e aceitou sua esposa” (Mt 1, 18-24).
Dois silêncios que mudaram a História
Duas criaturas puramente humanas intervêm no mais grandioso acontecimento da História: a Encarnação do Verbo. Diante do silêncio de Maria face à realização n’Ela desse sublime Mistério, São José atravessa uma provação terrível e lancinante. E pratica, também em silêncio, um dos maiores atos de virtude jamais realizados sobre a Terra.
Dois silêncios se entrecruzam
Com breves e inspiradas palavras, narra-nos São Mateus o mais grandioso acontecimento da História, a Encarnação do Verbo, e os episódios subsequentes.
À primeira vista, a singela descrição do Evangelista pode-nos causar a impressão de que tudo transcorreu de modo suave e aprazível, não havendo lugar para qualquer sofrimento e menos ainda para a terrível provação que levou São José à extrema decisão de “abandonar Maria em segredo”.
Tanto nesta passagem do Evangelho quanto na de São Lucas que, com igual simplicidade, narra a Anunciação do anjo a Maria (cf. Lc 1, 26-38), deparamo-nos com realidades situadas no mais alto plano da Criação, acessíveis à nossa inteligência somente pela luz da Fé, que nos faz vislumbrar os grandes mistérios da graça e da glória.
Conforme revela o anjo, Maria será Mãe por obra do Espírito Santo, sem concurso humano. Precisamente por esse motivo, dir-se-ia ser São José na Sagrada Família um mero complemento destinado a fazer o papel de pai apenas para efeitos civis e de opinião pública. Sua função seria, então, quiçá dispensável, no plano da Encarnação do Verbo e, portanto, na Redenção do gênero humano.
Sem embargo, uma consideração mais aprofundada do Evangelho proposto para este 4º Domingo do Advento nos revelará atraentes verdades a respeito deste varão incomparável, pai adotivo de Jesus e esposo da Virgem Imaculada.
Após a Encarnação, Maria guarda silêncio
18 “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua Mãe, estava prometida em casamento a José e, antes de viverem juntos, Ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo”.
De acordo com o direito judaico da época, o matrimônio entre israelitas era constituído por dois atos distintos aos quais poderíamos chamar de esponsais e núpcias.
Antes do casamento, os pais dos nubentes redigiam o contrato matrimonial, onde constavam os bens que cada parte entregaria para formar o patrimônio da nova família. Bem estabelecido esse ponto, realizava-se uma cerimônia, diante de testemunhas, na qual o noivo entregava simbolicamente à noiva um objeto de valor. Com esse gesto ficava selado o compromisso, tornando-se os contraentes marido e mulher, pois os esponsais judaicos “constituíam verdadeiro contrato matrimonial”.1
Embora a partir desse momento fosse permitido ao casal morar sob o mesmo teto, era costume esperar até as núpcias, que seriam celebradas algum tempo depois, durante as quais o esposo conduzia solenemente a esposa à sua casa, entre festas e manifestações de júbilo.
Assim, ao afirmar que Maria “estava prometida em casamento a José e, antes de viverem juntos, Ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo”, o Evangelista situa o momento da Encarnação do Verbo no período posterior à cerimônia do compromisso, mas antes de Maria ir habitar na casa do esposo.
É nesse intervalo que a Mãe de Deus, acompanhada por José, empreende a viagem à casa de sua prima. Ainda não eram visíveis os sinais da gravidez de Maria; e quando Isabel glorificou-Lhe a maternidade divina, proclamando-A bem-aventurada, falou sob inspiração do Espírito Santo.
A solene saudação da prima não perturbou nem surpreendeu a Virgem Maria; mas, exímia na prática da humildade, esforça-Se em elevar a atenção até Deus, proclamando no Magnificat as grandes maravilhas feitas n’Ela pelo Altíssimo. Nada diz da aparição do Arcanjo Gabriel, nem sequer anuncia a maior novidade de todos os tempos: a chegada do Redentor!
Pareceria compreensível que Ela convidasse parentes e amigos para se unirem em orações de preparação e de ação de graças, durante os nove meses de espera do nascimento do Messias. Entretanto, Maria guarda completo silêncio sobre aquele mistério inefável, até com o próprio esposo, pois nenhuma ordem recebera de Deus em sentido contrário. Revela, assim, uma excelsa submissão e docilidade aos desígnios da Providência.
O esposo de Nossa Senhora era justo
19ª “José, seu marido, era justo...”.
São José era justo, frisa o Evangelista. E diante dessa Virgem que lhe fora dada como esposa, cuja virtude deixou surpresos até os anjos,2 tomou uma atitude humilde e admirativa.
Pode-se conjecturar que, à medida que melhor A ia conhecendo, crescia seu enlevo por Ela. Percebia a indignidade de qualquer homem, por mais virtuoso que fosse, para ser esposo daquela Virgem angelicalmente pura, que não padecia da fames peccati, a inclinação para o mal presente em todos os seres humanos.
Certamente, admirava-se de ver como tudo Ela fazia de maneira perfeita: desde um simples movimento de mão ou um rápido olhar, até a forma de pronunciar as palavras com o mais harmonioso dos timbres de voz; o modo incomparavelmente afável de acolher os outros ou o recolhimento com que rezava. A cada dia devia aumentar sua convicção de estar em total desproporção com aquela Virgem Santíssima que a Providência lhe outorgara por esposa.
Ora, alguns meses depois, quando São José foi buscar Nossa Senhora na casa de Santa Isabel, eram visíveis os sinais da gestação do Menino Jesus. Contudo, Ela nada lhe disse... E ele nada perguntou...
Uma coisa era certa: como afirma um famoso mariólogo, “ele bem sabia como era admirável a virtude de Maria, e, apesar da evidência exterior dos fatos, não conseguia acreditar ser Ela culpada”.3
A santidade da Virgem Maria era inquestionável e afastava qualquer suspeita da mente do Santo Patriarca. Todavia, também evidente e inexplicável era a realidade. Compreendeu, então, que se deparava com um mistério e, não diminuindo em nada sua admiração pela Virgem das Virgens, aceitou sem reparos os desígnios divinos que não alcançava a entender. A virtude ímpar de sua Esposa falava mais alto do que aquela situação incompreensível, como canta com inspiradas palavras São João Crisóstomo: “Ó inestimável louvor de Maria! Acreditava São José mais na castidade de sua Esposa do que naquilo que seus olhos viam, mais na graça que na natureza: percebia claramente que Ela era Mãe, e não podia crer que fosse adúltera; julgou ser mais possível uma mulher conceber sem concurso de varão do que Maria poder pecar”.4

Não há dúvida de que São José, diante do mistério da milagrosa Encarnação do Verbo, proclama um verdadeiro “fiat!”. Pois, sem deixar-se levar por uma visualização humana, e confiando inteiramente na virtude da Mãe de Deus, põe-se docilmente nas mãos da Providência: “Faça-se aquilo que Vós quereis, embora eu não chegue a compreendê-lo!”.
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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Evangelho 3º Domingo do Advento - Ano A - 2013 Mt 11, 2-11

Conclusão dos comentários ao Evangelho III Domingo do Advento  Mt 11, 2-11 ( Domingo Gaudete) Ano A – 2013
O caminho da verdadeira felicidade
A Liturgia deste domingo nos convida à alegria, mostrando o rumo para alcançá-la. O contraste entre os protagonistas da cena de hoje é notório: enquanto São João está no cárcere e se submete a este padecimento com plena resignação, animado pela felicidade de ser íntegro e cumprir seu chamado, os discípulos veem-se privados dessa felicidade pela inveja que os consome. Semelhante amargura acompanha Herodes Antipas, escravizado por suas paixões, como também os fariseus que vivem à procura de louvor e incenso, movidos pela sede de glória terrena. Os próprios Apóstolos tampouco estão inteiramente felizes nesse período da vida pública do Divino Mestre, pois aguardavam um Messias diferente do que têm diante de si.
A alegria, então, onde está? Na loucura da Cruz. Nosso Senhor Jesus Cristo não podia estar triste nem abraçar um caminho de depressão, e, todavia, escolheu o do Calvário para nos dar o exemplo e indicar que a conquista da felicidade comporta a adversidade e a dor. Lembremo-nos de seu ensinamento: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me” (Mt 16, 24). A ideia de que a felicidade exclui o sofrimento é infundada, pois uma vez que somos tendentes ao mal pela queda de nossos primeiros pais, o sofrimento tornou-se um elemento indispensável para a nossa santificação.
Com efeito, o problema do sofrimento não está tanto naquilo que o ocasiona, mas no modo como é suportado. Ele existe em todas as situações da vida e pede de nossa parte o ânimo que esta Liturgia apresenta, do qual Maria Santíssima é modelo. Ela aceitou todos os padecimentos que se abateriam sobre seu Divino Filho e Se dispôs a dar seu contributo ao sacrifício redentor, pois queria a salvação de todos
Nossa finalidade é pertencer a Jesus
Feito para pertencer a Nosso Senhor Jesus Cristo, o ser humano se realiza na medida em que assume com seriedade sua condição de batizado, membro da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, dando passos adiante na prática da virtude e na busca da santidade. Quanto mais avançamos nessa via, maior é a alegria que nos invade, assim como o desejo de progredir ainda mais.
Consideremos de frente nosso destino eterno enquanto esperamos a vinda do Salvador. Na noite de Natal Ele nascerá de novo, misticamente, e se aplicarmos em nossas vidas a lição desta Liturgia nascerá também em nossos corações, onde encontrará uma digna pousada para Se recolher.
1 Cf. VON CLAUSEWITZ, Karl. Grundgedanken über Krieg und Kriegführung. Leipzig: Insel, 1915, p.47-48.
2 Cf. SCHUSTER, Ignacio; HOLZAMMER, Juan B. Historia Bíblica. Nuevo Testamento. Barcelona: Litúrgica Española, 1935, t.II, p.157-158.
3 SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilía XXXVII, n.2. In: Obras. Homilías sobre el Evangelio de San Mateo (1-45). 2.ed. Madrid: BAC, 2007, v.I, p.734.
4 LA LUZERNE, César-Guillaume de. Explication des Évangiles des Dimanches. 9.ed. Paris: Mequignon Junior, 1847, t.I, p.42.

5 SÃO JERÔNIMO. Comentario a Mateo. L.II (11, 2-16, 12), c.11, n.80. In: Obras Completas. Comentario a Mateo y otros escritos. Madrid: BAC, 2002, v.II, p.131.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Evangelho 3º Domingo do Advento - Ano A - 2013 Mt 11, 2-11

Continuação dos comentários ao Evangelho III Domingo do Advento  Mt 11, 2-11 ( Domingo Gaudete) Ano A – 2013
6 “Feliz aquele que não se escandaliza por causa de Mim!”.
Por fim, Nosso Senhor completa a resposta com estas palavras, sinal claro de que os discípulos de João Batista não aceitaram bem a mensagem e estavam com inveja da graça fraterna. Ao invés de se alegrarem por comprovar que outro fora favorecido pela benevolência de Deus, numa manifestação patente de seu poder, veem na Pessoa de Jesus uma sombra projetada sobre si mesmos.
Tendo concluído que o objetivo de Nosso Senhor não era a restauração do reino de Israel, sentiram-se frustrados, pois imaginavam que, pelo fato de haverem abandonado tudo para seguir o Precursor, seriam os primeiros junto ao Messias. Percebem agora que estão em segundo plano e, para se justificarem, têm de encontrar n’Ele defeitos que demonstrem, de acordo com seus conceitos, não ser o Enviado: “Ele só fala do Pai, do Reino Eterno, da vida após a morte; vem pregando uma ressurreição...ˮ. Em suma, escandalizaram-se, a exemplo dos fariseus, que decerto ali estavam e se tinham como os primeiros, muito acima dos discípulos de São João. Vaidosos de seu conhecimento da Lei e da perfeita observância das regras, viam os milagres de Jesus e diziam que agia pelo poder dos demônios (cf. Mt 9, 34).
Mais ainda, os próprios Apóstolos receavam que Ele enfrentasse as autoridades do establishment israelita, com receio de perder a oportunidade de seguir uma grande carreira baseada em seus dotes excepcionais, da qual eles tirariam o consequente proveito. Também para os Doze aquele Messias não correspondia ao que pretendiam e se escandalizavam. Por isso Nosso Senhor afirma: “Feliz aquele que não se escandaliza por causa de Mim!”, ou seja, “Feliz aquele que, apesar de o mundo defender que a alegria se obtém de outra forma, sabe que ela está na cruzˮ.
Os lábios divinos elogiam o Precursor
7 “Os discípulos de João partiram, e Jesus começou a falar às multidões sobre João: ‘O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 8 O que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Mas os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis. 9 Então, o que fostes ver? Um profeta? Sim, Eu vos afirmo, e alguém que é mais do que profeta. 10 É dele que está escrito: Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de Ti’”.
Em seguida partiram os discípulos de João, sem que o Evangelho registre se reconheceram Jesus como Messias ou não. Contudo, as palavras de Nosso Senhor são uma proclamação evi dente de sua identidade, pois Ele evoca as profecias e prova que as está cumprindo.
Após a saída deles, Jesus passa a falar sobre aquele que está encarcerado, elogiando-o por não ser um caniço agitado pelo vento ― uma pessoa inconstante ―, mas um homem firme, inabalável e íntegro, semelhante a uma torre ou uma rocha. Em sua austeridade recusara-se a usar roupas finas, como faziam os que se embrenhavam pelas vias políticas sem se importarem com o aspecto religioso, preocupados antes de tudo em traçar uma carreira social brilhante junto aos poderosos deste mundo.
Nosso Senhor quer ainda mostrar que a grandeza de João vai muito além de sua condição de profeta. Este, como é sabido, está incumbido de anunciar, ensinar e apontar, de acordo com a vontade de Deus, os caminhos do dever, quase sempre contrários às vias libertinas propostas pelo mundo. Ora, por que ultrapassou o Precursor o marco do profetismo? Por ter sido também chamado ― além de proclamar a verdade ― a preparar as veredas do Homem-Deus. É o que comenta São João Crisóstomo: “Em que, pois, é maior? No fato de estar mais próximo d’Aquele que tinha vindo. […] Assim como numa comitiva régia os que se encontram mais próximos à carruagem real são os mais ilustres entre todos, assim João, que aparece momentos antes do advento do Senhor. Notai como por causa disso [Jesus] declarou a excelência do Precursor”.3
Com profundidade e beleza, o Cardeal de La Luzerne exalta a figura de São João Batista, ressaltando seu papel ímpar na História: “Ele encerra a sucessão dos profetas e abre a missão dos Apóstolos. Ele pertence ao mesmo tempo à Antiga Lei e à Nova, e se eleva entre uma e outra como uma coluna majestosa, para marcar o limite que as separa. Profeta, apóstolo, doutor, solitário, virgem, mártir, ele é mais que tudo isso, porque é tudo isso ao mesmo tempo. Ele enfeixa todos os atributos da santidade, e ao juntar em si mesmo tudo aquilo que constitui as diferentes classes de Santos, forma entre eles uma classe particular”.4
O valor do Reino dos Céus
11 “Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele”.
À primeira vista este versículo parece incompreensível, pois como pode o maior dentre os já nascidos ser o menor quando comparado aos habitantes do Reino dos Céus? Aqui Nosso Senhor Se refere a duas etapas e, portanto, a dois diferentes nascimentos. São João Batista recebeu a vida da graça no claustro materno de Santa Isabel, pelos efeitos da voz de Nossa Senhora, e nasceu sem pecado original. Nessa perspectiva, é o maior, uma vez que nenhum outro teve o privilégio de ser batizado dessa sublime maneira. Porém, para entrar no Céu faz-se necessário nascer para a eternidade, e tão mais importante é o Reino Eterno que o mais elevado dos homens deste mundo torna-se pequeno perto dos justos que já gozam da visão beatífica. É o que defende São Jerônimo: “todo santo que já está com Deus é maior do que o que ainda se encontra em batalha. Pois uma coisa é possuir a coroa da vitória e outra estar ainda lutando na linha de combate”.5

Apesar da diferença entre o estado dos Bem-aventurados na glória e dos homens justos que ainda integram as fileiras da Igreja militante, todos os que se encontram junto a Deus obtiveram suas coroas seguindo a mesma via trilhada por São João Batista, que o fez grande neste mundo e maior ainda no outro. A sua glória deve-se à fidelidade a toda prova aos desígnios divinos pela aceitação do sofrimento, e isso o tornou digno do maior elogio feito por Nosso Senhor a alguém em todo o Evangelho.
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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Evangelho 3º Domingo do Advento ( Domingo Gaudete) Ano A - 2013

Comentários ao Evangelho III Domingo do Advento  Mt 11, 2-11 ( Domingo Gaudete) Ano A – 2013
 Mons João Clá Dias
“Naquele tempo, 2 João estava na prisão. Quando ouviu falar das obras de Cristo, enviou-Lhe alguns discípulos, 3 para Lhe perguntarem: ‘És Tu, Aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?’.
4 Jesus respondeu-lhes: ‘Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: 5 os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. 6 Feliz aquele que não se escandaliza por causa de Mim!’.
7 Os discípulos de João partiram, e Jesus começou a falar às multidões sobre João: ‘O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 8 O que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Mas os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis.
9 Então, o que fostes ver? Um profeta? Sim, Eu vos afirmo, e alguém que é mais do que profeta. 10 É dele que está escrito: ‘Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de Ti’. 11 Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele’” (Mt 11, 2-11).


Uma lufada de ânimo para chegar até o fim
Dizia o célebre teórico de guerra Karl von Clausewitz1 que a melhor forma de vencer um adversário é fazê-lo perder o ânimo de combater, pois a quebra de sua força moral é a causa principal de seu aniquilamento físico. Assim, quando empreendemos uma ação com desânimo, não atingimos a meta. Pelo contrário, quem tem uma confiança sólida, baseada numa fé vigorosa, desenvolve energias e entusiasmo para perseverar até o fim com galhardia. Se, por acaso, na realização de um árduo esforço, sentimos faltar o fôlego, basta uma lufada de esperança para redobrar as boas disposições e garantir o sucesso.
A Igreja, no 3º Domingo do Advento — chamado Domingo Gaudete —, tem em vista este propósito: fazer uma pausa nas admoestações do período de penitência e amenizar a tristeza causada pela lembrança dos pecados cometidos, para considerar com alegria a perspectiva do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em breve seremos libertados de nossa miséria, se soubermos ouvir os seus ensinamentos e nos abrirmos às graças que Ele nos traz, e poderemos seguir adiante com entusiasmo, confortados pela certeza de que nos será dada a salvação. Esse verdadeiro gáudio pela próxima vinda do Redentor é a nota tônica desta Missa, simbolizada pela cor rósea dos paramentos e expressa nos textos litúrgicos, sem, todavia, excluir totalmente o caráter penitencial. Depois do pecado original, a cruz tornou-se indispensável para obtermos a glória no cumprimento da finalidade para a qual fomos criados.
A sede de felicidade da criatura humana
Se voltarmos nossa atenção para cada criatura humana, encontraremos em todas elas o desejo de alcançar a felicidade. Quando Adão, belíssimo boneco de barro, saiu das mãos divinas e lhe foi infundido um sopro de vida, já possuía ele essa aspiração que era atendida com largueza por sua participação na própria natureza de Deus, a Felicidade Absoluta. Tão elevada era a figura deste varão que o Senhor ia visitá-lo no Paraíso, à hora da brisa da tarde (cf. Gn 3, 8). Eram felizes nossos primeiros pais! Porém, expulsos daquele local de delícias em consequência do pecado, Adão e Eva viram-se obrigados a habitar este mundo repleto de dificuldades, sem perder, entretanto, aquele anseio de felicidade. Ardiam de desejo de retornar ao estado de outrora, de gozar das maravilhas que tinham conhecido no Éden. Mais tarde, constituído o povo de Israel, especialmente amado pela Providência, esperava ele o advento de um Salvador que o tirasse dessa desditosa situação.
Com o transcurso dos séculos e dos milênios, os hebreus ― sempre numa tremenda instabilidade e submetidos à escravidão por diversas vezes ― foram alimentando a ideia de  que o Messias seria um homem aquinhoado por dons meramente naturais, portador de soluções humanas e políticas para todos os problemas. Sua grande incógnita era acerca da vinda deste enviado que traria a felicidade, a qual já não concebiam como uma condição semelhante à do Paraíso, mas segundo padrões terrenos. Algo parecido ocorre conosco, pois sabemos que o centro de nossa vida e a fonte da alegria é Nosso Senhor Jesus Cristo; contudo, as ilusões do mundo apontam para uma pseudofelicidade baseada em boa carreira, na aquisição de um valioso patrimônio, numa posição de prestígio, num vantajoso casamento ou, talvez, em negócios lucrativos. Numa palavra, a felicidade para os que assim pensam está na matéria, e não em Deus. Eis aí o lamentável equívoco.
Para desfazer esta falácia, a Liturgia do Domingo da Alegria nos indica o verdadeiro caminho da felicidade e oferece um exemplo seguro a seguir.
A alegria de cumprir a própria missão
O episódio narrado na sequência evangélica do 3º Domingo do Advento dá-se em circunstâncias muito especiais. Nosso Senhor estava adentrando o segundo ano de sua vida pública e já realizara inúmeros milagres, encontrando-Se de regresso da pequenina cidade de Naim, onde por sua iniciativa ressuscitara o filho de uma viúva (cf. Lc 7, 11-15). Ao passar pelas estradas tortuosas da região entrou no vilarejo e deparou-Se com alguns homens transportando um morto. Mandou parar o cortejo e restituiu a vida ao defunto, entregando-o em seguida à sua mãe. Este fato teve enorme repercussão que, somada à de muitos outros, moveu Israel inteiro a falar do grande Profeta que havia surgido.
O Precursor pagou sua fidelidade à verdade com a prisão
“Naquele tempo, 2a João estava na prisão”.
João Batista, varão íntegro que recentemente abalara Israel com sua pregação e exemplo de vida, havia sido preso. Em sua retidão, o Precursor dissera algumas verdades ao rei Herodes Antipas ― que, escravo das próprias paixões, era dominado por uma concubina, a esposa de seu irmão Filipe ― e, por isso, o tirano resolvera prendê-lo. Pungente contraste: as paixões desregradas e soltas de Herodes dão-lhe uma liberdade de ação ilegítima, e a honestidade de João leva-o à prisão.
Na perspectiva do Domingo Gaudete surge uma pergunta: qual dos dois goza de autêntica alegria, Antipas, o adúltero, ou São João, encarcerado por sua fidelidade? Devemos nos compenetrar de que Deus criou o homem para um destino eterno, no gáudio ou no sofrimento. Portanto, a verdadeira alegria é a que nos conduz à felicidade do Céu, e não aquela que nos acarreta a desgraça sem fim. No entanto, a humanidade bem gostaria de criar uma terceira via: um limbo onde não houvesse sofrimento nem possibilidade de visão beatífica, mas apenas uma vida natural, puramente sensitiva, pela eternidade inteira.
Lembremo-nos da importante máxima: “non datur tertius ― não há uma terceira posição”. Esta foi inventada por satanás ao cair do Céu e é feita de fumaça, é ilusória, pois na realidade não existe: ou violamos a moral e damos vazão às nossas más inclinações, reproduzindo em nós a pseudoalegria de Herodes Antipas, ou somos íntegros, a exemplo de João, e também nós estamos a todo instante na “prisão”, ou seja, subjugando e acorrentando nossas tendências e paixões desordenadas.
Preocupação exclusiva com a glória de Cristo
2b “Quando ouviu falar das obras de Cristo, enviou-Lhe alguns discípulos, 3 para Lhe perguntarem: ‘És Tu, Aquele que há de vir ou devemos esperar um outro?’”.
Que acontecimentos teriam levado o Precursor, já no cárcere, a mandar seus discípulos fazerem esta pergunta ao Divino Mestre? Antes de aventar qualquer hipótese, tenhamos presente que ele é um Santo, considerado por Nosso Senhor como o maior homem nascido até aquele momento. Logo, não se trata de uma incerteza sobre a identidade de Cristo, que já fora apresentado por ele em termos claríssimos:
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29); “Depois de mim vem outro mais poderoso do que eu, ante o qual não sou digno de me prostrar para desatar-Lhe a correia do calçado. Eu vos batizei com água; Ele, porém, vos batizará no Espírito Santo” (Mc 1, 7-8). João Batista sabia perfeitamente quem era Jesus, e não precisava de qualquer explicação.
Então, por que os envia com a incumbência de indagar a respeito do caráter messiânico de Nosso Senhor? Fiel à sua missão de apontar o Filho de Deus, arde de desejo que todos reconheçam o Salvador que está entre eles e quer transmitir aos outros a sua felicidade de tê-Lo visto e ser seu contemporâneo. São João Batista encontrava-se preso na torre de Maqueronte ― inacessível fortaleza de Herodes, localizada nas proximidades do Mar Morto, a 1158 metros de altitude sobre o nível deste2 ―, sem qualquer possibilidade de atuação.
Em dado momento, chegaram-lhe aos ouvidos, por meio de seus seguidores, as repercussões dos grandes e numerosos milagres operados por Jesus. Esta pareceria ser a hora propícia para mandar um recado Àquele que é o Criador do universo, o Onipotente: “Senhor, estou preso, libertai-me!ˮ. Por um simples ato de vontade de Deus Nosso Senhor, as correntes se desfariam, as algemas se abririam e ele sairia da prisão. Mas o Precursor não pensava em si ou nos infortúnios padecidos naquele estado e nem sequer lhe ocorreu a ideia de pedir um alívio. Para ele era indiferente morrer ou viver: sua preocupação voltava-se exclusivamente para a glória do Redentor.
Conceito messiânico desviado
Por isso, João Batista se empenhava em criar condições para que Nosso Senhor Se manifestasse cada vez mais. Ele já estava extenuado pelas vãs tentativas de convencer seus discípulos, que insistiam numa concepção política a respeito do Messias. Anelavam um rei humano que ascendesse ao trono de Israel e desse força ao seu povo. Conforme iam acompanhando o ministério de Nosso Senhor Jesus Cristo tomavam-se de insegurança, porque Ele era um Homem capaz de fazer milagres estrondosos, embora não Se pronunciasse em matéria de política e pregava o advento de um misterioso Reino de Deus que não parecia ser deste mundo. Instigados pela inveja, custava-lhes acreditar que Aquele fosse o Cristo, por não corresponder às suas expectativas e ao modelo por eles idealizado. Considerações como estas pululavam em suas mentes: “É nascido em Nazaré...ˮ; “O pai d’Ele era carpinteiro!ˮ; “Mas será, de fato, o Messias?ˮ (cf. Mt 13, 54-57). Aliás, algo análogo se passava em relação ao próprio Precursor, o qual não havia preenchido as esperanças nele depositadas quando começaram a segui-lo.
Esta cegueira, sem dúvida, deixava São João indignado, até que percebeu restar apenas uma saída para quebrar aquela frieza: que eles tivessem contato direto com Jesus, o único que poderia transformá-los a fim de compreenderem quem Ele era. Tudo o que estava ao seu alcance havia feito por eles, não poupando esforços para comunicar-lhes a extraordinária alegria na qual se sentia imerso por exercer sua missão de Precursor. Enviou-os, pois, confiante em que Nosso Senhor fizesse por eles o que pessoalmente ele não conseguira, e de que a conversa com o Mestre fosse ocasião para receberem uma graça que agisse no fundo de suas almas e viessem a se converter. Essa persistência em querer mais para os outros do que para si e em procurar torná-los felizes, de uma felicidade sobrenatural, era característica do Precursor.
O Evangelista frisa: “Quando ouviu falar das obras de Cristo”, indicando que São João discernira ser a hora apropriada para enviá-los, dada a forte impressão causada pelos milagres de Jesus. É no teor da pergunta que fica consignado o fato de ansiarem por um Messias segundo outros padrões: “És Tu, Aquele que há de vir ou devemos esperar um outro?”.
Em contraste com a despretensão de seu mestre, que vivia completamente esquecido de si e preocupado com eles, os discípulos de São João não pediram a Nosso Senhor por aquele que os formara. Tinham-lhe tão pouco amor que não se interessaram em tirá-lo do cárcere e livrá-lo daquela penosa situação. Esses somos nós, sempre que nos fechamos e só atendemos às solicitações do egoísmo e às nossas vantagens pessoais, mais dedicados a nós mesmos do que a Deus e ao próximo. Em consequência, a felicidade foge de nós e cresce o egocentrismo.
Os milagres provavam que Ele era o Messias
4 “Jesus respondeu-lhes: ‘Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: 5 os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados’”.
A resposta de Nosso Senhor, cheia de sabedoria, não foi: “Eu sou o Messias”. Provavelmente, dado o estado de espírito de quem o interrogava, uma declaração nesses termos não seria bem recebida. Sua afirmação oferecia elementos para que eles compreendessem a verdade por si, como se dissesse: “Analisem o que acontece, vejam as minhas obras e as suas consequências, e em função disso tirem conclusões.
Quem vê todos os prodígios que Eu faço e não acredita que sou o Messias, não tem inteligência”. E recorre aos vaticínios de Isaías, bastante conhecidos por todos os israelitas (cf. Is 26, 19; 29, 18; 35, 5; 42, 7; 62, 1), como uma confirmação.

De fato, qualquer cego que gritasse à distância pedindo a cura saía de sua presença enxergando e dando graças a Deus. Havia também devolvido a saúde a inúmeros paralíticos, como o da piscina de Betesda (cf. Jo 5, 1-9) ou aquele que fora descido pelo teto (cf. Mc 2, 3-12). Bastava tocar nos leprosos que as chagas desapareciam, ou nos surdos e mudos, que eram sanados. Ele acabara de ressuscitar um morto com grande estrépito no país, como acima foi recordado, e estava levando a Boa-nova a todos. Por meio dela, muitos adquiriam ― é este o maior milagre! ― a noção de que eram deficientes, não conseguiam caminhar por si nas vias da virtude, e tomavam consciência de necessitarem do auxílio de Deus. Estes eram evangelizados e acolhiam a doutrina com entusiasmo. Entretanto, se escandalizaram...

Continua no próximo post.