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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Evangelho – XVII Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 13, 44-52

Comentário ao Evangelho – XVII Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 13, 44-52
 As parábolas sobre o Reino
Três parábolas sobre o Reino — a do tesouro escondido, a da pérola e a da rede —, preciosos ensinamentos para a nossa vida espiritual a fim de alcançarmos a eterna salvação. Quando os “pescadores” separarem os “peixes”, no fim do mundo, estaremos nós entre os bons, ou entre os maus?
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Naquele tempo disse jesus a seus discípulos: 44“O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo que, quando um homem o acha, esconde-o e, cheio de alegria pelo achado, vai e vende tudo o que tem e compra aquele campo.
45 O Reino dos Céus é também semelhante a um negociante que busca pérolas preciosas, e tendo encontrado uma de grande preço, vai, vende tudo o que tem e a compra.
47 “O Reino dos Céus é ainda semelhante a uma rede lançada ao mar, que apanha toda a espécie de peixes. Quando está cheia, os pescadores tiram-na para fora e, sentados na praia, escolhem os bons para cestos e deitam fora os maus. Será assim no fim do mundo: Virão os Anjos e separarão os maus do meio dos justos, e lançá-los-ão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes.
51 Compreendestes tudo isto?”. Eles responderam: “Sim”. Ele disse-lhes: “Por isso todo o escriba instruído nas coisas do Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13, 44-52).
 I – O Reino revelado pelo Divino Mestre
Tendo sido enviados alguns soldados pelas autoridades religiosas do Templo para prender Jesus, retornaram sem cumprir a missão, alegando ter sido impossível executá-la, pelo simples fato de nunca ninguém ter falado como Ele. Transparece, nesse episódio, o grande poder de expressão da verdade ensinada pela Verdade Encarnada. Ninguém jamais chegou a ser Mestre, ou virá a sê-lo, em toda significação do termo, como o foi Jesus Cristo. Quem, de fato, conseguirá ultrapassar em pedagogia o Pregador Divino?
Consideremos também quanto o homem é moralmente incapaz de conhecer por si só e plenamente as verdades religiosas, necessitando para tal do concurso da Revelação. E também a esse respeito devemos questionar: quem melhor do que o próprio Jesus para oferecer essa Revelação? Ele trazia do alto uma rica variedade de temas para nos instruir, entre os quais se encontrava o do Reino de Deus.
Objetivo dos ensinamentos de Jesus
Seu grande desejo era nos fazer conhecer diretamente as maravilhas que o Pai tinha nos preparado, pois não é fácil exprimi-las em linguagem humana, como o próprio São Paulo diria: “Nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem entrou no coração do homem, o que Deus preparou para aqueles que O amam” (I Cor 2, 9). Mas se Ele nos mostrasse o Reino dos Céus, ao invés de no-lo revelar, perderíamos os méritos. Por isso, tornava-se indispensável servir-se de imagens aproximativas, muito penetradas de lógica e verossimilhança, e facilmente acessíveis à nossa inteligência. Os recursos de uma oratória empolada não eram necessários ao Mestre, por ser Ele quem era e por comunicar uma doutrina eterna, grandiosa, portanto, na sua própria substância.
Em face do anteriormente dito, e analisando os fatos como se realizaram, torna-se claro para um simples leitor dos Evangelhos o quanto Jesus não teve por objetivo, em Sua vida pública, formar profissionais, artistas ou especialistas em ciência. Ele Se empenhou em constituir as pedras vivas de Sua Igreja para encaminhá-las ao Seu Reino eterno. Compreendemos também melhor algumas das razões que O levaram a Se apresentar, em Sua missão, como perfeito e excelente modelo para todos os que são chamados a ensinar. Pelo Seu modo de agir, advertia os erros, enganos e desvios daqueles que visam fazer-se conhecidos através da docência, ou daqueles que procuram se apropriar da verdade, quando na realidade é ela um bem comum.
Depois de Jesus, os Santos e os Doutores muito nos esclareceram sobre este ponto particular, como o fez Santo Agostinho ao escrever: “Quem reivindica para si próprio aquilo que Vós ofereceis para uso de todos, querendo como particular o que é de todos, é reduzido do que é de todos para o que é seu, isto é, da verdade para a mentira”.1 Sim, debaixo deste prisma, Jesus nos deu o mais alto exemplo de despretensão, tal como nos diz São Paulo: “Sendo de condição divina, não reivindicou o direito de ser igual a Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-Se semelhante aos homens” (Fl 2, 6-7). Por isso, invariavelmente, nós O encontramos reportando-Se ao Pai.
Supremacia do Divino Magistério
Eis alguns elementos que nos levam a melhor entender o porquê de Jesus Se fixar nos céus da História como o Divino Mestre. Assim, afirma o Doutor Angélico: “Cristo é o principal doutor da doutrina espiritual e da fé, conforme a Carta aos Hebreus: ‘Tendo começado a ser anunciada pelo Senhor, foi depois confirmada entre nós pelos que a ouviram, confirmando Deus o seu testemunho por meio de sinais, prodígios’, etc. (Hb 2, 3-4)”.2
E, de fato, com toda segurança pode-se falar numa excelência do Magistério de Cristo, pois “o poder de Cristo ao ensinar se vê, seja pelos milagres com que confirmava a doutrina, seja pela eficácia com que persuadia, seja pela autoridade com que falava, pois o fazia como quem tinha domínio sobre a lei, afirmando: ‘Eu, porém, vos digo’ (Mt 5, 34), seja finalmente pela retidão de seu proceder, vivendo sem pecado”.3
Reforçando ainda mais essa visualização sobre o Sagrado Magistério do Divino Mestre, São Tomás nos mostra como a ciência sagrada supera todas as outras, seja quanto ao seu objeto, pois se ocupa de temas elevados que são inacessíveis à pura razão humana, enquanto as outras só abrangem o que se encontra em seus limites; seja quanto à certeza, pois a ciência sagrada baseia-se na Luz divina que é infalível, e as outras na luz da razão, que é passível de erro. Daí concluir: “Logo, é evidente que, sob todos os aspectos, a ciência sagrada é mais nobre que as demais”.4
Diante dessa supremacia do Divino Magistério de Jesus, reconsideremos por que razão servia-se Ele de parábolas em Seu ensino.
Método que entrelaça simplicidade e eternidade
As parábolas eram muito comuns no Antigo Testamento. Entre elas podemos mencionar a do canto da vinha de Isaías (cf. 5, 1-7), ou a usada por Natã para invectivar Davi por seus pecados (cf. II Sam 12, 1-4). Tudo leva a crer que, nos tempos da vida pública de Nosso Senhor, elas haviam se tornado ainda mais utilizadas, sobretudo entre os rabinos. Eram de tipo muito variado, incluindo uma comparação com o intuito de tornar acessível um ensinamento árduo de ser entendido. Enquanto instrumento pedagógico, apesar de sua simplicidade –– e talvez até por essa razão —, acabavam por ser atraentes, pois, devido a certa nota de ambigüidade que sempre as acompanhava, resultavam enigmáticas. Assim, ficavam curiosamente intrigados aqueles que não alcançavam seu inteiro significado, e os que captavam seu conteúdo gozavam de alguma alegria. Daí dirigir-se o Divino Mestre aos Seus ouvintes nestes termos: “Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça” (Mc 4, 9).
Discutem entre si os autores a esse propósito. Alguns, através de um prisma feito de justiça, analisam as parábolas enquanto sendo um procedimento utilizado pelo Messias com o objetivo de castigar os que se negavam a acreditar na Revelação, apesar de Seus milagres. Entre eles sobressai Maldonado, bem como Knabenbauer e Fonk. Outros, pelo contrário, a partir da misericórdia explicam que o suave véu das parábolas visava estimular o interesse dos circunstantes, levandoos a fazer perguntas, e por isso afirma São Jerônimo: “Mistura o claro com o obscuro para que, por meio do compreensível, alcancem o que não entendem”.5
Também era indispensável que Jesus formasse Seus discípulos passo a passo — e não de maneira brusca — dentro dos novos horizontes. E sob este ponto de vista, o método por Ele adotado não poderia ser melhor. De si, a parábola deveria ser simples, desprovida de qualquer caráter rebuscado e, ao tratar de matéria ligada à eternidade, tornava-se sempre atual. Simplicidade e eternidade eram termos que se entrelaçavam no cerne da Revelação trazida por Jesus a respeito do Reino.
Duas visões opostas do Reino
Os judeus tinham uma concepção equivocada sobre este ponto em particular. Julgavam ser a vinda do Messias uma oportunidade única para a realização do sonho nacionalista do povo eleito: uma intervenção divina para instaurar uma era histórica na qual a supremacia política, social e financeira sobre todos os povos seria atingida com glória e triunfo.
Bem no sentido oposto estava o conteúdo da Revelação sobre o verdadeiro Reino. Neste, tudo é despretensão, lentidão e enfrentamento de obstáculos. Daí sua aproximação com as figuras do grão de mostarda, do joio e do trigo, parábolas contrapostas aos erros de visualização do povo judeu.
Jesus prega à multidão
Essa é a temática tratada ao longo de todo o capítulo 13, de São Mateus. Neste, acompanhamos a pregação de Jesus na Galiléia. Ao sair de casa, Jesus se senta à margem do mar de Tiberíades. Envolve-O tal multidão que se vê Ele na contingência de subir a uma das barcas, para dali falar a todos. Discorre novamente em parábolas: o semeador, a cizânia, o grão de mostarda, o fermento. Depois disso, despede os ouvintes e retorna para casa. Uma vez a sós com os discípulos, Lhe é feito o pedido de explicações sobre a metáfora da cizânia. Se continuarmos a ouvi-Lo, penetraremos no trecho do Evangelho da Liturgia de hoje.

Se bem que São Mateus apresente esses ensinamentos como tendo sido proferidos em casa, somente aos discípulos, e não à multidão, Maldonado opina em sentido contrário: “Eu creio ser mais provável que os tenha dito a todos antes, junto com as outras parábolas”.6
Continua no próximo post

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