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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Evangelho XXII Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 16, 21-27

Comentário ao Evangelho XXII Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 16, 21-27
“Naquele tempo 21 Jesus começou a mostrar a seus discípulos que devia ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia.
22 Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-Lo, dizendo: ‘Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca Te aconteça!’. 23 Jesus, porém, voltou-Se para Pedro, e disse: ‘Vai para longe, satanás! Tu és para Mim uma pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!’.
24 Então Jesus disse aos discípulos: ‘Se alguém quer Me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e Me siga. 25 Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder sua vida por causa de Mim, vai encontrá-la. 26 De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida? 27 Porque o Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com sua conduta’” (Mt 16, 21-27).
É a dor inevitável em nossa existência? Pode o fiel encontrar a verdadeira felicidade nesta vida? No que consiste ela?
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
 I – Os antecedentes
Em sua infinita bondade, aprouve a Deus deixar inscritos no Universo reflexos visíveis de suas perfeições invisíveis, para através deles os homens chegarem mais facilmente ao conhecimento de seu Criador. “Narram os céus a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos”, canta o salmista (Sl 18, 2). Um dos predicados divinos manifestados de maneira admirável na natureza é, sem dúvida, a inesgotável dadivosidade.
Com efeito, para justos e pecadores, para bons e maus, a cada dia nasce radiante o Sol, com renovada e deslumbrante beleza, proporcionando vida às criaturas. Sem cessar, brotam em profusão das nascentes as águas cristalinas que dessedentam homens e animais, alimentam rios e mares onde vive uma multidão incontável de seres; as chuvas irrigam regularmente toda a terra, as árvores dão seus frutos com abundância, e assim por diante, tudo obedecendo a uma majestosa sincronia.
O próprio Jesus, para melhor ensinar aos homens verdades eternas, recorreu a imagens como a dos lírios do campo e a das aves do céu. Dando-se contínua e inexaurivelmente, a natureza convida o homem a imitá-la, a contrariar sua má tendência de fechar-se em si mesmo e preocupar-se apenas com seus interesses.
Impelida pela graça, essa contemplação da ordem do universo pode levar o ser humano a elevar suas cogitações à procura dos valores transcendentais e movê-lo a empenhar-se em que todas as criaturas tributem a Deus a glória devida. Assim, a consideração admirativa dos reflexos divinos nas realidades materiais seria o primeiro passo para a alma se dar generosamente, em vista da superior ordenação de toda a Criação.
Praticando tal desprendimento — do qual foi exemplo máximo o Verbo encarnado, morrendo por nós numa cruz — encontrará o homem a quota de felicidade possível nesta Terra. “Deus ama quem dá com alegria” (II Cor 9, 7), ensina-nos o Apóstolo; e quem se doa por inteiro em benefício do próximo ou dos princípios estabelecidos pelo Criador, este experimentará quanto há mais de alegria em dar-se do que em fechar-se sobre si mesmo.
A isso nos convida o Evangelho deste 22º Domingo do Tempo Comum, no qual Nosso Senhor anuncia pela primeira vez, de forma explícita, sua Paixão.
Jesus quer ressaltar o caráter divino da Igreja
O episódio analisado hoje é imediatamente precedido pelo da profissão de Fé de São Pedro e da sua subsequente constituição como Pedra fundamental da Igreja, narrado no domingo anterior.
Encontrava-Se o Mestre nessa ocasião a caminho de Cesareia, local do primeiro milagre da multiplicação dos pães, capital da tetrarquia de Filipe, onde, sobre uma destacada formação rochosa, Herodes o Grande edificara um esplêndido templo de mármore branco em honra de Augusto. É muito provável, opina o padre Tuya, “que Jesus tenha utilizado aquela vista do rochedo-templo para expor a nova rocha sobre a qual edificaria sua Igreja; assim era seu estilo pedagógico”.1
Vendo aproximar-se o momento da sua Paixão, preocupava-Se em precaver os Apóstolos contra os erros da Sinagoga (da qual eles ainda se consideravam zelosos membros) ressaltando o caráter divino da Igreja por Ele fundada: muito mais do que uma mera continuação da Sinagoga, constituía ela, sobretudo, a realização de todas as profecias sobre a nova e eterna Aliança selada com o seu Sangue Preciosíssimo.

Chegara, afinal, a plenitude dos tempos anunciada pelos profetas e sonhada pelos justos, o supremo momento em que a figura cedia lugar à realidade, o símbolo ao simbolizado. Virava-se uma página na história do relacionamento de Deus com a humanidade: o próprio Verbo havia Se encarnado para habitar entre nós! Deus tornara-Se visível aos homens e ia oferecer em breve sua vida para redimi-los.

Continua no próximo post

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