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segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Festa da Exaltação da Santa Cruz - Jo 3, 13-17

Comentários ao Evangelho da Festa da Exaltação da Santa Cruz - Jo 3, 13-17

Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: 13“Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. 14Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna.
16Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. 17De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”. ( Jo 3, 13-17)

A Cruz, centro e ápice da História

Para compreender a arquitetonia do magnífico plano divino da criação, devemos ver a Redenção operada na Cruz como o centro da História, em torno do qual tudo se conjuga para a glória de Deus, até mesmo o pecado.
I – A CRUZ NOS ABRIU AS PORTAS DO CÉU
Quando Adão e Eva, por causa do pecado, foram expulsos do Paraíso, as portas do Céu se fecharam para o homem, e assim teriam permanecido até hoje se não fosse a Redenção. Poderíamos chorar nossa culpa, mas as lamentações de nada adiantariam para nos alcançar o convívio eterno com Deus, pois só uma iniciativa d’Ele o poderia fazer. E foi o que aconteceu quando Se encarnou e morreu por nós na Cruz.
É por isso que a Igreja quer concentrar a atenção dos fiéis nesse augusto Madeiro, celebrando a festa da Exaltação da Santa Cruz, e no dia seguinte a comemoração de Nossa Senhora das Dores, que une à Cruz as lágrimas de Maria Santíssima, Corredentora do gênero humano. Em ambas as celebrações, a Liturgia nos permite venerar de modo especial o instrumento de nossa salvação, o qual passou a ser objeto de adoração a partir do momento em que Jesus Cristo foi nele crucificado, com terríveis cravos que transpassaram sua Carne sagrada. Tal é o poder do preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo! Devemos adorar a Cruz com a mesma latria que tributamos ao Homem-Deus, tanto por ser imagem d’Ele quanto por ter sido tocada por seus membros divinos e inundada por seu Sangue.1 Por este motivo, recomenda-se manter duas velas acesas durante a exposição de uma relíquia do Santo Lenho.
Diante do panorama apresentado pela Igreja nesta ocasião, é preciso considerarmos de maneira apropriada o mistério de um Deus crucificado.
O universo é ótimo no seu conjunto
Como ensina a teologia, tudo quanto Deus criou poderia ser mais perfeito, à exceção de três criaturas: a humanidade santíssima de Jesus Cristo, a visão beatífica e a Mãe de Deus.2 No entanto, é importante lembrar, no seu conjunto o universo não poderia ser melhor, pois sua ordem é insuperáve1. O Gênesis descreve como, ao longo dos dias da criação, Deus deitou seu olhar sobre cada uma das partes de sua obra e viu que eram boas; no sexto dia, porém, quando a contemplou inteira, viu que era ótima (cf. Gn 1, 31).
Contudo, parece difícil conciliar essa ideia de perfeição do universo com a existência do pecado. Seria bem mais do nosso agrado um mundo livre de qualquer entrave, problema ou complicação, em que todas as criaturas fossem excelentes, os Anjos e os homens correspondessem plenamente à graça, sem cometer uma só falta, e não houvesse inferno. Ora, nessas condições a Redenção seria desnecessária, e é provável que o Verbo também não Se encarnasse, do que se infere que Deus não escolheria uma Mãe para Si. Das três criaturas perfeitíssimas existentes agora — Jesus, Maria e a visão beatífica —, só ficaria esta última. O universo seria menos belo e daria ao Criador uma glória menor do que o nosso, maculado pela culpa original e por todas as suas consequências.
Passemos, então, a analisar a Liturgia de hoje de dentro dessa perspectiva, para entendermos com profundidade o problema da Cruz.
II – UMA PRÉ-FIGURA DE CRISTO CRUCIFICADO
A primeira leitura, extraída do Livro dos Números (21, 4-9), aborda um episódio da travessia do deserto rumo à Terra Prometida: “Os filhos de Israel partiram do Monte Hor, pelo caminho que leva ao Mar Vermelho, para contornarem o país de Edom” (Nm 21, 4). Era uma marcha penosa, por ser um terreno árido, inóspito e sem água.4 Além disso, o povo se enfastiara com o maná, o “pão vindo do céu” (Sl 104, 40) que Deus lhes concedia para sustento, fazendo-o chover junto com o orvalho (cf. Nm 11, 9). Como os israelitas, por terem saído de um ambiente impregnado de tremenda volúpia, deviam adquirir gostos temperantes, o maná, que era uma comida leve, da qual só se podia recolher uma determinada medida. embora satisfizesse o apetite deixava-os com a sensação de que lhes faltava algo. Eles queriam alimentos fortes, como as cebolas e os alhos do Egito de cuja privação já se haviam lamentado pouco antes (cf. Nm 11, 5).
Essa situação do povo hebreu nos sugere uma analogia com a vida espiritual. Todos nós, batizados, somos convocados a entrar na “Terra Prometida” da santidade e, a certa altura do percurso, temos de atravessar o deserto da aridez. A sensibilidade do sobrenatural se retira, desaparece de nosso panorama interior qualquer consolo ou amparo palpável e, se não soubermos sofrer a ausêncja desses estímulos, choramos pelas “cebolas do Egito”, que são os elementos do passado aos quais renunciamos para trilhar as vias da virtude. Em tais fases de provação, só temos para a caminhada um maná vindo do Céu: a graça cooperante, que Deus nunca deixa de conceder, mas exige de nós o esforço e o sacrifício.5

Continua no próximo post

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