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domingo, 18 de janeiro de 2015

Evangelho III Domingo do Tempo Comum – Ano B – Mc 1, 14-20

Comentário ao Evangelho – III Domingo do Tempo Comum – Ano B – Mc 1, 14-20

Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: 15 “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” 16 E, passando à beira do Mar da Galileia, Jesus viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. 17 Jesus lhes disse: “Segui-Me e Eu farei de vós pescadores de homens”. 18 E eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus. 19 Caminhando mais um pouco, viu também Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes; 20 e logo os chamou. Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados, e partiram, seguindo Jesus (Mc 1, 14-20).
Não se deve dar tempo ao tempo, mas sim à eternidade
O chamado à conversão e o anúncio do Reino nos colocam na perspectiva de um “tempo abreviado” que deve ser vivido em função da eternidade.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
I – Viver no tempo sob a perspectiva da eternidade
A comunicação de Deus com o homem — em particular nos episódios mais salientes narrados na Escritura Sagrada — é o ponto central a partir do qual se desenrola a História. Como seria desejável assistir a todas as maravilhas da ação divina ao longo dos séculos, do grande mirante da eternidade, que só abandonaríamos no curto período entre nosso nascimento e o instante da morte! No entanto, dado que vivemos dentro do tempo, isto não é possível. Mas também fazemos parte da História, e tudo o que veio antes de nós, assim como o presente e o futuro, tem íntima relação conosco. Como, então, nos associarmos aos passos de Deus em todas as épocas?
A Liturgia permite reviver a História da salvação
Eis a maravilha da Liturgia! Com efeito, ela nos faz participar não só dos acontecimentos celebrados, mas, inclusive, das mesmas graças concedidas em cada um deles, conforme afirma o Papa Pio XII na Encíclica Mediator Dei: “O Ano Litúrgico, que a piedade da Igreja alimenta e acompanha, não é uma fria e inerte representação de fatos que pertencem ao passado, ou uma simples e nua evocação da realidade de outros tempos. É, antes, o próprio Cristo, que vive sempre na sua Igreja e que prossegue o caminho de imensa misericórdia por Ele iniciado, piedosamente, nesta vida mortal, quando passou fazendo o bem (cf. At 10, 38) com o fim de pôr as almas humanas em contato com os seus mistérios e fazê-las viver por eles, mistérios que estão perenemente presentes e operantes, não de modo incerto e nebuloso”.1
Há um mês e meio abriu-se o novo Ciclo Litúrgico com o período do Advento, que revive ao longo de quatro semanas — dedicadas à penitência e ao pedido de perdão por nossas faltas — a espera da humanidade pela chegada do Messias. Vinculamo-nos, assim, aos milênios que se seguiram desde a saída de Adão e Eva do Paraíso até o nascimento do Redentor. Exultando de alegria pela certeza de que uma mudança se verificaria e as coisas tomariam outra perspectiva, acolhemos Jesus na noite de Natal, O visitamos com os pastores e os Reis Magos, fugimos com Ele para o Egito, e O encontramos no Templo, separado de Nossa Senhora e de São José. Mais tarde assistimos ao seu Batismo, cuja comemoração encerra as festas e introduz o Tempo Comum, em que contemplaremos ao longo dos meses o começo da vida pública de Nosso Senhor, os milagres por Ele realizados, a indignação dos fariseus por perceberem a difusão de uma doutrina nova dotada de potência (cf. Mc 1, 27), diferente de tudo quanto ensinavam, bem como a insegurança e a inveja que os leva a querer matar o Filho de Deus.
Tempo Comum significa tempo de luta, de esforço no cumprimento do dever, de abnegação, de arrancar as nossas vaidades, medidas fundamentais para a formação do caráter. Não é por acaso que neste 3º Domingo ouvimos o Divino Mestre declarar: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo”.
Que tempo é este? Qual é o tempo que estamos vivendo? Avançam sem interrupção os ponteiros do relógio, sucedem-se os segundos, os minutos vão se escoando. A nossa vida se pauta pela expectativa dos instantes posteriores e do dia de amanhã... Que mensagem nos traz esta Liturgia ao falar da criatura tempo, enquanto nos convida a entrar no Reino de Deus?
A pregação de Jonas
Na primeira leitura (Jn 3, 1-5.10) Deus incumbe o profeta Jonas, pela segunda vez, de pregar em Nínive, missão que, como lemos em capítulos precedentes, ele aceita de má vontade. Convicto de que seus habitantes não iriam se converter, quiçá ele tenha pensado que as admoestações ao menos serviriam de elemento para condená-los, e por isso partiu com ímpeto de destruição, tanto mais que os ninivitas se contavam então entre os adversários dos judeus. Como era uma cidade entregue aos vícios e de conceitos religiosos desviados, predizer o seu castigo acabava sendo um deleite para Jonas. Grande era a extensão de Nínive, a ponto de serem necessários três dias para ser percorrida, mas o profeta não poupou esforços em proclamar: “Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída” (Jn 3, 4).

Ora, o rei e o povo levaram a sério sua palavra: “acreditaram em Deus; aceitaram fazer jejum, e vestiram sacos, desde o superior ao inferior” (Jn 3, 5). Por que agiram assim? Porque o Senhor lhes mostrou o seu caminho, e a sua verdade os orientou e conduziu, como reza o Salmo Responsorial (Sl 24, 4a.5a) da Liturgia de hoje. Desta forma eles adquiriram uma noção clara do rumo a ser seguido, e corresponderam à graça, atraindo a benevolência do Céu: “Vendo Deus as suas obras de conversão e que os ninivitas se afastavam do mau caminho, compadeceu-Se e suspendeu o mal que tinha ameaçado fazer-lhes, e não o fez” (Jn 3, 10). Neste domingo a Igreja deseja que, a exemplo dos ninivitas, também nós atendamos à voz de Jesus que nos exorta: “Convertei-vos e crede no Evangelho!”.
Continua no próximo post

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