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sábado, 21 de março de 2015

DOMINGO DE RAMOS DA PAIXÃO DO SENHOR

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DOMINGO DE RAMOS DA PAIXÃO DO SENHOR
O verdadeiro Messias e seu glorioso triunfo
Sedentos de glória humana e incapazes de aceitar o Reino de Deus que lhes era oferecido, os inimigos de Nosso Senhor terminaram por crucificá-Lo... propiciando assim seu verdadeiro e perene triunfo.
I - OS PARADOXOS DO DOMINGO DE RAMOS
Domingo de Ramos é o pórtico da Semana Santa, ao longo da qual contemplamos o cerne da vida e missão de Nosso Senhor Jesus Cristo e, portanto, o ponto central de nossa Fé Católica Apostólica Romana. E o Salvador, Ele mesmo, quem decide iniciar sua Paixão, entrando em Jerusalém montado num jumento, assim como foi Ele quem escolheu a carne humana para realizar a Redenção e a Gruta para nascer.
Algumas semanas antes de Se dirigir à Cidade Santa, Jesus ressuscitara Lázaro, falecido havia quatro dias. Bem podemos imaginar o espanto dos circunstantes quando Ele mandou abrir o túmulo, pois àquelas alturas o corpo já deveria estar em de composição. A despeito do constrangimento geral, removeram a lápide e, à ordem de Nosso Senhor — “Lázaro, vem para fora!” (Jo 11, 43) —, este não só ressuscitou como subiu a escada de acesso à saída do sepulcro, “tendo os pés e as mãos ligados com faixas, e o rosto coberto por um sudário” (Jo 11, 44). 0 fato alcançou grande repercussão em Israel, causando tal estupor que a opinião pública se tomou de sofreguidão por conhecer aquele extraordinário Taumaturgo. Como a Páscoa estava próxima, os judeus que subiam ao Templo para se purificar procuravam o Divino Mestre e se perguntavam uns aos outros: “Que vos parece? Achais que Ele não virá à festa?” (Jo 11, 56). Ao saber que Ele vinha chegando, a multidão saiu-Lhe ao encontro com ramos de palmas nas mãos, aclamando-O, “porque tinha ouvido que Jesus fizera aquele milagre” (Jo 12, 18).
Cena simples na aparência, grandiosa na essência
Nosso desejo seria de que esta entrada se verificasse de modo apoteótico, com um cortejo triunfal em que os jumentinhos carregassem, quando muito, os últimos auxiliares do Salvador. Ele mereceria desfilar num animal imponente, um elefante ou um belo corcel branco, semelhante àquele sobre o qual aparece figurado no Apocalipse, com uma espada entre os dentes (cf. Ap 19, 11-15). Pelo contrário, o Senhor prefere uma singela montaria, Se apresenta com suas vestes habituais, sem ostentar um manto real, e não Se faz anunciar. As autoridades — o sumo pontífice, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo —, a quem caberia promover uma solenidade para recebê-Lo, não Lhe prestam homenagem. Nada do que acontecia estava à altura d’Ele!
Contudo, se esta cena foi simples na sua exterioridade, foi riquíssima no que diz respeito à substância, pois ali estava o próprio Deus feito Homem, “nascido para ser Rei, da maneira mais admirável e augusta do mundo, já que o era pela admiração que despertavam seus exemplos, sua santa vida, sua santa doutrina, suas grandes obras e seus grandes milagres [...]. Nada em sua aparência impressionava à vista; este Rei pobre e benigno montava um burrico, humilde e mansa cavalgadura, e não aqueles cavalos fogosos, atrelados a uma charrete cuja suntuosidade atraía os olhares. Não se viam servos nem guardas, nem a imagem das cidades derrotadas, nem seus despojos ou seus reis cativos. [...] A Pessoa do Rei e a lembrança de seus milagres faziam toda a consideração desta festa”.1
Jesus pede “um jumentinho que nunca foi montado” — pois estava reservado para Ele — e o animal não se mostra arisco, mas caminha docemente, trazendo no dorso o Soberano do universo e nosso Redentor, em função de quem todas as coisas foram criadas. Quanto simbolismo há por detrás disso! Como gostaríamos de ter aquele burrico empalhado e conservado numa catedral!
À passagem de Nosso Senhor, o povo exclama maravilhado: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o Reino que vem, o Reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos Céus!”. Conforme a narração de São Lucas, em certo momento os fariseus interpelaram Jesus pra exigir que reprimisse as ovações, e Ele lhes respondeu: “Digo-vos: se estes se calarem, clamarão as pedras!” (Lc 19, 40). Sim, não só as pedras, como também as plantas, os insetos, as aves do céu, enfim, todos os animais, se congregariam em torno d’Ele naquela ocasião e saltariam de alegria cantando-Lhe as glórias, não os houvesse Ele refreado por um milagre. Com efeito, se no Paraíso Terrestre o homem tinha tal domínio sobre os seres irracionais que estes obedeciam às suas ordens, tanto mais Nosso Senhor Jesus Cristo, sendo Deus, em relação à natureza criada por Ele!
O povo esperava um rei temporal
Não há dúvida de que, com aqueles brados, a multidão reconhecia a realeza de Jesus como autêntico descendente de Davi. Entretanto, eram aclamações baseadas numa perspectiva deformada, segundo a concepção — generalizada entre os judeus — de um Messias político que os libertaria do jugo romano e restauraria o reino de Israel, obtendo-lhe a supremacia sobre todas as outras nações. Eles associavam a vinda desse Messias, portanto, mais a uma salvação temporal do que à salvação eterna. Assim, receberam Jesus com honras, na expectativa de que Ele, afinal, tomasse conta do poder e se iniciasse para os judeus uma época diferente.
De fato, o Redentor abria uma era diferente, mas do ponto de vista sobrenatural. E eles, muito naturalistas, não percebiam isto. Em consequência, aquele contentamento que manifestavam não estava timbrado pela admiração à divindade de Cristo. Arrebatados por graças místicas e consolações extraordinárias, acolheram-No entre gritos e cânticos de entusiasmo, transbordando de alegria; porém, devido a esta mentalidade errada, aplicaram tais graças num rumo destoante dos desígnios de Deus. Desejosos de um reino humano, imaginavam como sendo o máximo sucesso ter um monarca dotado da capacidade de operar qualquer espécie de milagres, pois, deste modo, todos os seus problemas seriam resolvidos. No fundo, almejavam uma felicidade meramente terrena e, com tal ardor a procuravam, que se fosse possível, quereriam passar a eternidade neste mundo. Numa palavra, eram “limbolatras”, ou seja, adoradores de uma situação que fizesse desta vida uma espécie de limbo, sem sofrimento nem gozo sobrenatural.

Estas reflexões contêm uma lição para nós: devemos ser muito cuidadosos em não nos aproveitarmos das graças para nossos interesses pessoais e jamais nos apropriarmos dos dons de Deus para com eles nos autoprojetarmos, buscando satisfazer nosso amor-próprio, vaidade e orgulho.
Continua no próximo post

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