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sábado, 14 de março de 2015

EVANGELHO DO 5º DOMINGO DA QUARESMA – ANO B– Jo 12, 20-33

COMENTÁRIO AO EVANGELHO DO 5º DOMINGO DA QUARESMA – ANO B– Jo 12, 20-33
Naquele tempo, 20 havia alguns gregos entre os que tinham subido a Jerusalém, para adorar durante a festa. 21 Aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e disseram: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”. 22 Filipe combinou com André, e os dois foram falar com Jesus. 23 Jesus respondeu-lhes: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. 24 Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto. 25 Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. 26 Se alguém me quer seguir, siga-me, e onde eu estou estará também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará. 27 Agora sinto-me angustiado. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora?’ Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. 28 Pai, glorifica o teu nome!” Então veio uma voz do céu: “Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo!” 29 A multidão, que aí estava e ouviu, dizia que tinha sido um trovão. Outros afirmavam: “Foi um anjo que falou com ele”. 30 Jesus respondeu e disse: “Essa voz que ouvistes não foi por causa de mim, mas por causa de vós. 31 É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai ser expulso, 32e eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim”. 33 Jesus falava assim para indicar de que morte iria morrer”. ( Jo 12, 20-33 )
“Pai, glorifica o teu nome!”
Ao receber um sinal de sua Paixão próxima, Jesus vê chegar a hora da glorificação.
A liturgia seleciona o Evangelho deste domingo com vistas à preparação da Paixão de nosso Salvador. A morte de Jesus se avizinha e, ao mesmo tempo, já se antecipam os primeiros lampejos de sua glorificação posterior. “Per crucem ad lucem” — chegará aos esplendores do triunfo por meio da cruz. Analisemos o relato de São João Evangelista.
Alguns gregos desejam conhecer Jesus
Naquele tempo, 20havia alguns gregos entre os que tinham subido a Jerusalém, para adorar durante a festa. 21Aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e disseram: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”. 22Filipe combinou com André, e os dois foram falar com Jesus.
Conforme muitos comentaristas, esse episódio está relacionado com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Tudo leva a crer que Nosso Senhor estava ainda com os discípulos no chamado Pátio dos Gentios.
O grupo que se aproximou de Filipe era constituído por gentios gregos, e não por judeus vindos da Grécia. Contudo, eram prosélitos, ou pelo menos fortes simpatizantes da religião hebraica, tanto que subiram ao Templo para adorar o verdadeiro Deus.

A presença de gregos junto de Nosso Senhor indica a próxima conversão dos gentios. Serão estes convidados a se unirem ao triunfo messiânico de Cristo, incorporando-se ao seu rebanho. Pelo contexto do Evangelho de São João, vê-se que não desejam encontrar-se com o Divino Mestre apenas por curiosidade. Deviam ter ouvido narrações sobre os atos maravilhosos operados por Jesus, e ecos de sua divina doutrina. Cheios de admiração, estavam ansiosos para se aproximarem d’Ele, e talvez quisessem apresentar-Lhe questões como as que com frequência surgem entre neo-convertidos. Quiçá até já tivessem tido contato com os apóstolos. Filipe — como faz questão de sublinhar o evangelista — era de Betsaida, local onde os gregos eram numerosos. Assim, sentiram-se mais à vontade dirigindo-se a ele.
Ao ouvir-lhes o pedido, Filipe não o recusou. Este é mais um indício de que já os conhecia e os achava dignos de se aproximarem do Senhor. Contudo, sentiu-se em dificuldade. Com efeito, tinha já assistido às reações nada favoráveis do Mestre para com os gentios. Por exemplo, o episódio da cananéia. Esta, por sua humilde insistência, acabou conseguindo que o Senhor a atendesse: “Disse-lhe, então, Jesus: Ó mulher, grande é tua fé! Seja-te feito como desejas. E na mesma hora sua filha ficou curada” (Mt 15, 22-28). Quiçá por receio do que poderia acontecer, o jovem apóstolo tenha achado melhor apoiar-se em André.
E os dois foram juntos apresentar a Jesus o pedido dos gregos. Terão sido atendidos pelo Mestre? Se o foram, quais os temas tratados? São João não nos informa, pois seu Evangelho normalmente focaliza menos os fatos que a substância moral deles.
O sinal esperado por Nosso Senhor
23Jesus respondeu-lhes: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado.
Ao longo do Evangelho, várias vezes a natureza humana de Nosso Senhor aparece com maior intensidade, enquanto noutras ocasiões refulge sua divindade. No presente episódio, Ele reage como homem àquele pedido dos gregos, com o qual ficou profundamente impressionado. Por quê? Porque estava à espera de um sinal claro de que sua hora estava chegando. A aproximação desses gentios — conforme comenta Santo Agostinho — era esse sinal, pois dava a entender que povos de todas as nações haveriam de crer n’Ele depois de sua Paixão e Ressurreição. Indício, portanto, do caráter universal de sua pregação e missão, e da aproximação da hora em que seria glorificado.
Vinham, assim, mesclados, o presságio da glorificação e o dos horríveis tormentos pelos quais Ele haveria de passar: “E quando eu for levantado da terra” — dirá Ele pouco mais adiante — “atrairei todos os homens a mim. Dizia, porém, isto, significando de que morte havia de morrer” (Jo 12, 32-33). O enfoque dado por Jesus à sua morte é, pois, de triunfo, de glorificação. Procuremos aprofundar este ponto.
Aproxima-se a hora da glorificação
Sabemos que a humildade é uma alta virtude, cuja prática é imposta a todos pelo Divino Mestre: “Todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será exaltado” (Lc 14,11). E Nossa Senhora cantou no Magnificat: “Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes” (Lc 1, 51-52).
A condenação dos orgulhosos encontra-se praticamente do início ao fim da Sagrada Escritura, na mesma linguagem contundente destes dois trechos.
Entretanto, vemos agora nosso Redentor afirmar: “É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado”. Já anteriormente Jesus havia dito: “Não busco a minha glória. Há quem a busque e Ele fará justiça” (Jo 8, 50). E mais próximo à Paixão, “Jesus afirmou essas coisas e depois, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora. Glorifica teu Filho, para que teu Filho glorifique a ti; (...) Agora, pois, Pai, glorifica-me junto de ti, concedendo-me a glória que tive junto de ti, antes que o mundo fosse criado” (Jo 17, 1 e 5).
Como explicar essa aparente contradição?

Na verdade, existe uma glória verdadeira ao lado da glória vã. Assim, Jesus não procura sua própria glória, mas não deixa de afirmar a máxima excelência de sua natureza divina e de manifestá-la aos outros, sempre que as circunstâncias o exijam. Há, então, uma exaltação e uma glória que são boas. Como se distinguem da vanglória? Com sua consagrada clareza, São Tomás de Aquino elucida esse problema na Suma Teológica.
Continua no próximo post

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