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segunda-feira, 18 de maio de 2015

EVANGELHO SOLENIDADE DE PENTECOSTES - ANO B - Jo 20, 19-23

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DA SOLENIDADE DE PENTECOSTES
Mons João Clá Dias
19 Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, Pondo-Se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. 20 Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.
21 Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai Me enviou, também Eu vos envio”. 22 E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Epírito Santo. 23 A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados: a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20, 19-23).
Pentecostes, esperança para o século XXI
A instantânea e radical mudança dos Apóstolos no dia de Pentecostes, há dois mil anos, deita caudais de luz nas obscuras perspectivas de um século que voltou as costas a Deus
I - UMA EFUSÃO DE FOGO DIVINO NO NASCEDOURO DA IGREJA
Solenidade de Pentecostes, na qual celebramos a descida do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos, é uma das festividades mais importantes do calendário litúrgico. Este acontecimento conferiu maturidade à Igreja, pois, até então ela repousava nas mãos da Santíssima Virgem, como criança. E assim como Maria estivera presente no Calvário, aos pés da Cruz, enquanto Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Cenáculo Ela estava como Mãe do Corpo Místico de Cristo. Mãe da Cabeça no Calvário, Mãe do Corpo no Cenáculo, Ela queria que esta Igreja recém-nascida crescesse e se desenvolvesse, a fim de tornar-se apta a exercer sua missão evangelizadora.
Naquele dia Nossa Senhora pôde ver como este amadurecimento se deu num instante, quando Se derramou o Espírito Santo em línguas de fogo, primeiro sobre Ela e, depois, d’Ela para todos os Apóstolos, discípulos e Santas Mulheres que ali se encontravam em grande número. A partir daí a Igreja passou a ter mais efusão de santidade, de dons e de graça, e foi instituída na prática, no que se refere à sua ação externa, potência e expansão. O Cenáculo é o começo do assombroso crescimento da Igreja, uma verdadeira explosão evangelizadora.
Assim comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira este acontecimento: “Apesar de tudo quanto Nosso Senhor até então fizera pela Igreja, poder-se-ia de algum modo dizer — não quero fazer uma comparação exata — que a Igreja era, antes de Pentecostes, um boneco de barro, que recebeu de Deus um sopro de vida em Pentecostes, com o Divino Espírito Santo. Ali tudo mudou, tudo passou a viver e tudo passou a pegar fogo no mundo, a contagiar o mundo, até o apogeu dos dias de hoje, em que o Evangelho é pregado a todos os povos”.1

Mudança instantânea e completa
É evidente que, já antes, os Apóstolos estavam na graça de Deus, como testemunha o episódio ocorrido no lava-pés, durante a Santa Ceia, quando São Pedro manifestou resistência e o Divino Mestre o admoestou: “Se Eu não os lavar, não terás parte comigo’. Exclamou então Simão Pedro: ‘Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça’. Disse-lhe Jesus: ‘Aquele que tomou banho não tem necessidade de lavar-se; está inteiramente puro. Ora, vós estais puros” (Jo 13, 8-10). Entretanto, a presença divina tem graus; condição altíssima é o estado de graça, porém, é melhor ter o Espírito Santo na alma de uma maneira tão atuante que ela seja cumulada de sabedoria e de discernimento.
Tal foi o transbordamento de sobrenatural que se verificou em Pentecostes, como podemos comprovar pela diferença dos Apóstolos depois da vinda do Espírito Santo: eles se tornaram outros; decerto, até a fisionomia se transformou, começaram a se exprimir numa linguagem mais elevada, os gestos devem ter mudado... Por quê? Porque algo se havia operado no fundo de suas almas e, uma vez que a alma é a forma do corpo,2 é indubitável que esta repercussão se tenha feito sentir. Também alcançaram ciência e compreensão, como no passado não possuíam, conforme Nosso Senhor lhes anunciara: “o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14, 26). Receberam, ainda, os dons de profecia, de fazer milagres e o das línguas, pelo qual falavam no seu idioma e todos os que os ouviam entendiam no próprio!
O impulso imprescindível para a expansão da Igreja
Vemos ali uma infusão de graças, totalmente sui generis, que deu início a uma nova etapa para a Igreja, pois, para os Apóstolos e discípulos exercerem a missão de pregar o Evangelho e administrar os Sacramentos, de modo que a face da Terra fosse penetrada pela Boa-nova, era indispensável serem confirmados na fé e pervadidos por uma plenitude, um ímpeto de amor. Eles foram inflamados, como bem o simbolizam as línguas de fogo! A língua é sinal de comunicação e interlocução, mas, neste caso, elas eram de fogo porque vinham aquecidas e cheias de luz, isto é, prenunciando que as palavras deles comoveriam. A tal ponto que, ao sair dali, São Pedro fez um eloquente sermão, em virtude do qual três mil pessoas se converteram e foram batizadas (cf. At 2, 41).
Eis uma rápida síntese de tudo quanto o Espírito Santo trouxe à Igreja nascente naquela ocasião insuperável. Contudo, ao celebrar este acontecimento, podemos cair no engano de considerá-lo um episódio longínquo, meramente histórico, sem qualquer relação conosco. Acaso Pentecostes não deita seu abundante fulgor também em nossos dias? Tendo já comentado em outras ocasiões 3 a Liturgia desta Solenidade, abordaremos aqui o tema por um enfoque útil para a atualidade.

II - PENTECOSTES NO SÉCULO XXI
Continua no próximo post

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