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domingo, 4 de outubro de 2015

Evangelho XXVIII Domingo do Tempo Comum - Ano B - Mc 10,17-30

Comentário ao Evangelho XXVIII Domingo do Tempo Comum
Naquele tempo, 17 quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se diante dele, e perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?”
18 Jesus disse: “Por que me chamas de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém. 19 Tu conheces os mandamentos: não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém; honra teu pai e tua mãe!”
20 Ele respondeu: “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude”. 21 Jesus olhou para ele com amor, e disse: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!”
22 Mas quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico. 23 Jesus então olhou ao redor e disse aos discípulos: “Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!”
24 Os discípulos se admiravam com estas palavras, mas ele disse de novo: “Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25 É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!”
26 Eles ficaram muito espantados ao ouvirem isso, e perguntavam uns aos outros: “Então, quem pode ser salvo?”27 Jesus olhou para eles e disse: “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível”.
28 Pedro então começou a dizer-lhe: 'Eis que nós deixamos tudo e te seguimos'. 29 Respondeu Jesus: 'Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa,  irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, 30 receberá cem vezes mais agora, durante esta vida - casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições - e, no mundo futuro, a vida eterna. (Mc 10,17-30)
O décimo terceiro Apóstolo?
Aquele que chegara correndo e se ajoelhara sôfrego diante de Nosso Senhor, retirou-se triste e abatido de Sua presença. Preferiu conservar os seus bens terrenos, desprezando — fato inédito no Evangelho — o “tesouro no Céu” oferecido pelo próprio Deus.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP  
I – Fomos criados com uma vocação
Desde toda a eternidade, esteve prevista na mente divina a criação, no tempo, de Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto homem,1 e de Sua Mãe, Maria Santíssima.2
Mas Deus não concebeu ambos isoladamente. Queria Ele que, à maneira de uma corte, houvesse quem os servisse. Todos nós estávamos incluídos nesse ato de pensamento e fomos amados por Ele como foi revelado a Jeremias: “Eu amo-te com eterno amor, e por isso a ti estendi o meu favor” (Jr 31, 3).
Nosso Senhor é o modelo tomado por Deus para a nossa criação, é Ele a nossa causa exemplar. Havendo de tornar possível, por Seus méritos, a nossa existência enquanto filhos de Deus, pois “todos nós recebemos da sua plenitude graça sobre graça” (Jo 1, 16), constitui-Se em nossa causa eficiente. E, por termos sido criados para servi-Lo e adorá-Lo, é também a nossa causa final.

Fomos, em suma, concebidos em, por e para Jesus, pois “nEle foram criadas todas as coisas nos Céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por Ele e para Ele” (Cl 1, 16). Isto configura um chamado feito a nós desde todo o sempre, tal como afirma o Apóstolo: “Deus nos salvou e chamou para a santidade, não em atenção às nossas obras, mas em virtude do seu desígnio, da graça que desde a eternidade nos destinou em Cristo Jesus” (II Tm 1, 9). Deus nos convida a fazer parte da Santa Igreja, e nos chama à santidade. Mas, junto com esse apelo genérico, somos chamados a exercer uma função específica dentro do Corpo Místico de Cristo. É uma missão que cada um tem particularmente e não será dada a mais ninguém.
O Novo Testamento nos apresenta inúmeros exemplos no chamado feito pelo próprio Jesus aos escolhidos para serem Seus Apóstolos: vê Mateus na coletoria de impostos e lhe diz: “Segue-Me” (Mt 9, 9); no caminho de Damasco, São Paulo é lançado por terra e, ao ouvir a voz que o interpelava, responde: “Senhor, que quereis que eu faça?” (At 9, 6); cheio de pasmo após a pesca milagrosa, Pedro se prosterna diante do Mestre, exclamando: “Retira-Te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador”, e escuta a divina promessa: “Doravante, serás pescador de homens” (cf. Lc 5, 8-10).
Tal como Mateus, Paulo ou Pedro, que tudo abandonaram imediatamente para seguir o Mestre, precisamos responder com prontidão, generosidade e alegria ao chamado que Jesus faz a cada um de nós.
Este é o ensinamento contido no Evangelho do 28º Domingo do Tempo Comum, como veremos a seguir.
II – O episódio do jovem rico
São Marcos, tão sintético em outras passagens, mostra-se minucioso ao narrar o episódio do jovem rico. Já o primeiro versículo contém interessantes pormenores dignos de especial atenção.
Naquele tempo, 17quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se diante dele, e perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?”
Pelo fato de vir “correndo” ao encontro de Nosso Senhor, podemos supor o quanto esse “alguém” estava sôfrego de obter aquilo que ia pedir. Certamente ouvira a pregação de Jesus e, sob o impulso de uma graça sensível, deixou-se arrebatar por Seus divinos ensinamentos. Almejando, de um lado, alcançar a vida eterna e, de outro, não tendo a certeza de merecê-la, sentiu no fundo da alma ser Jesus capaz de mostrar-lhe com segurança o caminho da salvação.
A própria pergunta feita por ele ao Salvador, fala neste sentido, pois, como aponta Didon, ela “revelava uma natureza superior e uma alma sincera. As doutrinas da escola sobre o mérito das obras legais, sobre a santidade pela virtude dos ritos, não satisfaziam sua consciência; certamente ouviu o Mestre falar da vida eterna com uma acentuação que o tinha penetrado”.3
Daí o fato de ele correr até Jesus, ajoelhar-se e chamá-Lo de “Bom Mestre”, um qualificativo alheio aos costumes e gentilezas correntes na época. “Não se conhece exemplo de que alguém tenha chamado assim um rabino”, comenta Lagrange, acrescentando que essa saudação “ultrapassava os hábitos de cortesia então vigentes”.4
É também interessante destacar o teor da pergunta, tão diferente dos temas sobre os quais se conversa hoje em dia. Naquela época, as pessoas se preocupavam em saber como ganhar o Reino dos Céus. E nos dias de hoje?...

Sobre a pressa do jovem, observa Fillion: “Corria para não perder aquela ocasião de fazer ao Salvador uma pergunta que muito o preocupava”.5 Duquesne elogia essa atitude e a propõe como exemplo: “É com este fervor de espírito e esta rapidez de corpo, esta presteza e esta alegria espiritual que se deve ir a Jesus”.6
Continua no próximo post

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