-->

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Evangelho da Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo - Ano B - Jo 18,33b-37

Comentários ao Evangelho da Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo - (Jo 18,33b-37)
Naquele tempo, 33b Pilatos chamou Jesus e perguntou-lhe: “Tu és o rei dos judeus?” 34 Jesus respondeu: “Estás dizendo isto por ti mesmo ou outros te disseram isto de mim?”
35 Pilatos falou: “Por acaso sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?”
36 Jesus  respondeu: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”.
37 Pilatos disse a Jesus: “Então tu és rei?”
Jesus respondeu: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”. (Jo 18,33b-37)
Rei da eternidade
Antes de ser flagelado, coroado de espinhos e crucijicado, Nosso Senhor Jesus Cristo declara diante de Pilatos a sua soberania sobre toda a criação: “Eu sou Rei”.
I - A MAIS AUTÊNTICA DAS MONARQUIAS
Ao percorrer as páginas do Antigo Testamento, um dos episódios da história da nação eleita atrai a atenção de modo especial. Qual seu verdadeiro significado?
Em determinado momento, os israelitas sentem-se inferiorizados em relação aos outros povos governados por reis, enquanto eles vivem num regime teocrático, conduzidos por Deus através dos juízes. Então, pedem um monarca a Samuel. Discutem com o profeta, que se toma de indignação, mas são afinal atendidos nos seus anseios. Por fim, é chegada a hora de estabelecer o novo regime e Deus mesmo manda Samuel ungir Saul como rei (cf. I Sm 8, 4-22; 9, 17; 10, 1).

Ora, esta monarquia, assim instituída, nasce de uma infidelidade, e as palavras divinas, explicando ao último juiz de Israel as razões que levam o povo a agir desta maneira, não deixam lugar a dúvidas: “Não é a ti que eles rejeitam, mas a Mim, pois já não querem que Eu reine sobre eles” (I Sm 8, 7). Portanto, a nação eleita não quer mais ser governada diretamente por Deus. Acrescente-se ainda que as vantagens do personagem escolhido parecem ser bastante terrenas e naturais: “Não havia em Israel outro mais belo do que ele; dos ombros para cima sobressaía a todo o povo” (I Sm 9, 2). A julgar pela descrição, bastou apenas uma apresentação física de destaque e 30 cm de estatura a mais que o comum dos homens para conferir a Saul o título da supremacia.
Entretanto, podem-se fazer conjecturas sobre as causas do ocorrido. Não teria Deus inspirado no fundo da alma dos israelitas o desejo, talvez implícito, de uma realeza a ser instaurada de forma inédita na face da Terra e, de certo modo, ligada à eternidade? Não esperavam eles um rei muito acima de qualquer imaginação humana? Sob o influxo de tal inspiração, bem diferente deveria ter sido a formulação da súplica dos anciãos ao profeta: “Samuel, intercedei por nós junto a Deus! Esses reis, que governam outras nações, são homens miseráveis, egoístas e ególatras, que desprezam a natureza humana e procuram escravizar os súditos, a seu serviço e para sua glória pessoal. Pedi ao Senhor um monarca como jamais foi dado a nenhum povo! Seja ele entre nós o reflexo da bondade divina! Reine sobre nós como o próprio Deus e obtenha-nos a mais bela manifestação de nossa teocracia”.
Mas eles, desvairados pelo anelo de “ser como todas as outras nações” (I Sm 8, 20), não souberam interpretar o sopro da graça. Muito pelo contrário, materializaram-no, dizendo tão só “Dá-nos um rei que nos governe” (I Sm 8, 5), e solicitaram a humanização daquilo que Deus certamente queria dar-lhes, com imensa abundância, no campo sobrenatural.
Porém, Deus Se aproveitará desta infidelidade para realizar a maior das maravilhas, incomparavelmente superior ao que os hebreus desejavam: uma vez fundada a monarquia em Israel e, depois, estabelecida a nova dinastia a partir de Davi, dela nascerá o verdadeiro Soberano, não só do povo judeu, mas de todo o universo. Rei de majestade e grandeza divina, cuja origem se perde na eternidade, que desce de alturas infinitas para nos salvar; Rei que dá o seu precioso Sangue pelos seus súditos: Cristo Rei, que celebramos nesta Solenidade.
II - SOLENE PROCLAMAÇÃO CONTRA O RELATIVISMO
O Papa Pio XI 1 ensina como, ao longo da História, as festas da Santa Igreja nasceram e foram se acrescentando ao Ano Litúrgico, instituídas e organizadas pela Cátedra infalível de Pedro com o intuito de beneficiar os fiéis em função das necessidades de cada época. Assim, ao cultuar os mártires, desde os primeiros tempos, a Liturgia incentivava à fidelidade, fazendo com que as pessoas se sentissem apoiadas pelo seu exemplo e não renegassem a Fé em circunstância alguma. Mais tarde, debeladas as perseguições pela ação da graça e entrando os cristãos num período de paz, também se comemoraram as virgens, os confessores e as viúvas, figuras inúmeras com as quais a Igreja se ia enriquecendo. Surgem então as festas de Nossa Senhora e, no fim da Idade Média, quando diminui o fervor pelo Santíssimo Sacramento, constitui-se uma celebração própria, com a finalidade de adorar o Corpo Sagrado de Nosso Senhor Jesus Cristo sob as Espécies Eucarísticas. Posteriormente, medrando a frieza rigorista que os erros do jansenismo propagaram, foi instituída a festividade do Sagrado Coração de Jesus. Incutir o ânimo e reacender a esperança da salvação eterna foi seu efeito.

Por fim, no dia 11 de dezembro de 1925, fazendo-se já sentir a terrível e avassaladora onda de laicismo que invadiria todos os países e levaria a humanidade a voltar as costas a Deus, no momento em que muitos católicos entregavam seu sangue em defesa de Cristo e de sua Igreja, o Papa Pio XI2 fez uso do poder conferido a Pedro com as chaves do Reino dos Céus, e proclam ou com sua voz infalível: Cristo é Rei! A Encíclica Quas primas, estabelecendo a festa da realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo no término do Ano Litúrgico,3 tinha um especial significado como oposição ao relativismo e ao ateísmo: declarava ao mundo que tudo tem seu fim e seu princípio em Cristo, Rei do Universo.
Continua no próximo post

Nenhum comentário: