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sábado, 18 de abril de 2015

Evangelho IV Domingo da Páscoa – Ano B – Jo 10, 11-18

Comentários ao Evangelho 4º Domingo da Páscoa – Ano B – Jo 10, 11-18
Naquele tempo, disse Jesus: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas.
O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. Pois ele é apenas um mercenário e não se importa com as ovelhas.
Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas.
Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor.
É por isso que meu Pai me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho poder de entregá-la e tenho poder de recebê-la novamente; esta é a ordem que recebi de meu Pai”.  (Jo 10, 11-18)
“O SENHOR É MEU PASTOR”
A propósito da cura do cego de nascença, e da polêmica provocada por ela entre os fariseus, Jesus se revelou como o Bom Pastor, que arrisca a vida por suas ovelhas. Foi esta uma das ocasiões nas quais Ele exprimiu de modo mais tocante seu amor infinito por nós.
Deus, na sua inesgotável sabedoria, dispôs em perpétua ordem e harmonia todos os seres, fazendo muitas vezes os inferiores símbolos dos superiores. Assim, no sexto dia de sua obra, criou entre os animais a espécie ovina, com o intuito de, no futuro, o cordeiro servir de título ao Redentor, o Cordeiro de Deus. Conferiu características próprias aos rebanhos de ovelhas, assim como ao relacionamento entre estas e seus pastores, para facilitar a compreensão do amor entre o Fundador da Igreja e seus fiéis.
Na civilização de hoje, demasiadamente industrial e planificada, causa agradável surpresa encontrar pelos campos rebanhos que nos recordam aquela sociedade pastoril dos primeiros séculos da História. Alheios às transformações técnicas e sociais, esses animais continuam a se comportar como outrora. Impressiona observar sua sensibilidade à voz ou assobio de seu guia.
Certa ocasião, estando em um ambiente campestre nas cercanias do Palácio do Escorial, não muito distante de Madri (Espanha), assisti a um “sermão” dirigido por um pastor a seu rebanho. As ovelhas ouviam com atenção exemplar as admoestações sobre os cuidados que deveriam ter durante a permanência naquele local. Terminada a “pregação”, ele as dispersou com um simples bater de palmas. Bem mais tarde, convocou-as todas pela voz — chegando a chamar algumas pelo nome próprio — e as fez retomar a estrada, rumo ao seu redil. O fato me emocionou e me fez lembrar o Evangelho que devemos aqui analisar: “As ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo 10, 4).
Pedagogia divina
Entre os vários instintos do homem, o mais forte e importante é o de sociabilidade. Aristóteles afirmava que, por natureza, o ser humano é um animal político, ou seja, sociável. A apetência (e a necessidade) dos homens de se relacionarem uns com os outros leva-os a se unirem, dando sequência ao plano divino da Criação, pois Deus nos deu esse instinto precisamente para estimular a constituição da vida em sociedade. Mas não foi esta a única razão; antes de tudo, tinha Ele em vista seu próprio desejo de entrar em contato com as almas.
Conforme explica o Catecismo da Igreja Católica, Deus “quer comunicar sua própria vida divina aos homens, criados livremente por Ele, para fazer deles, no seu Filho único, filhos adotivos. Ao revelar-se, Deus quer tornar os homens capazes de responder-Lhe, de conhecê-Lo e de amá-Lo bem além do que seriam capazes por si mesmos” (nº 52). Para levar adiante o “projeto divino da Revelação”, a “pedagogia divina” consistiu, desde os primórdios da humanidade, em preparar o homem por etapas para esse relacionamento com Ele, cujo ápice ocorreria na encarnação, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. idem, nº 53).
Dessa pedagogia fazia parte essencial a linguagem simbólica. Quiçá não tenha Deus escolhido melhor signo para exprimir os vínculos a serem estabelecidos entre Jesus e nós do que a figura do pastor com seu rebanho.
Já nos primórdios do Antigo Testamento, há uma insistência na figura do pastor (cf. Gn 4, 4 e 20), na pessoa de Abraão (Gn 12, 16), de Lot (Gn 13, 5) e do próprio Rei Davi (1 Sam 17, 34-35). Aos poucos, a condução do rebanho vai se tornando símbolo dos guias do povo de Deus, a ponto de a Escritura referir-se a eles com estas palavras: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com inteligência e sabedoria”(Jr 3, 15). Ou como neste trecho: “Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; dize-lhes, a esses pastores, este oráculo: eis o que diz o Senhor Javé: ai dos pastores de Israel que só cuidam do seu próprio pasto. Não é seu rebanho que devem pastorear os pastores? Vós bebeis o leite, vestis-vos de lã, matais as reses mais gordas e sacrificais, tudo isso sem nutrir o rebanho. Vós não fortaleceis as ovelhas fracas; a doente, não a tratais; a ferida, não a curais; a transviada, não a reconduzis; a perdida, não a procurais; a todas tratais com violência e dureza. Assim, por falta de pastor, dispersaram-se minhas ovelhas, e em sua dispersão foram expostas a tornarem-se presa de todas as feras. Minhas ovelhas vagueiam em toda parte sobre a montanha e sobre as colinas, elas se acham espalhadas sobre toda a superfície da terra, sem que ninguém cuide delas ou se ponha a procurá-las” (Ez 34, 2-6).
Porém, a figura do Pastor toma a plenitude de seu significado no Ser por excelência, o próprio Deus: “Eis o que diz o Senhor Javé: vou castigar esses pastores, vou reclamar deles as minhas ovelhas, vou tirar deles a guarda do rebanho, de modo que não mais possam fartar-se a si mesmos; arrancarei minhas ovelhas da sua goela, de modo que não mais poderão devorá-las. Pois eis o que diz o Senhor Javé: vou tomar Eu próprio o cuidado com minhas ovelhas, velarei sobre elas. Como o pastor se inquieta por causa de seu rebanho, quando se acha no meio de suas ovelhas tresmalhadas, assim me inquietarei por causa do meu; Eu o reconduzirei de todos os lugares por onde tinha sido disperso num dia de nuvens e de trevas. Eu as recolherei dentre os povos e as reunirei de diversos países, para reconduzi-las ao seu próprio solo e fazê-las pastar nos montes de Israel, nos vales e nos lugares habitados da região. Eu as apascentarei em boas pastagens, elas serão levadas a gordos campos sobre as montanhas de Israel; elas repousarão sobre as verdes relvas, terão sobre os montes de Israel abundantes pastagens. Sou Eu que apascentarei minhas ovelhas, sou Eu que as farei repousar — oráculo do Senhor Javé. A ovelha perdida, Eu a procurarei; a desgarrada, Eu a reconduzirei; a ferida, Eu a curarei; a doente, Eu a restabelecerei, e velarei sobre a que estiver gorda e vigorosa. Apascentá-las-ei todas com justiça. (...) E vós, minhas ovelhas, vós sois homens, o rebanho que apascento. E Eu, Eu sou o vosso Deus — oráculo do Senhor Javé” (Ez 34, 10-16; 31).
Jesus, o Bom Pastor
Por fim apareceu nos céus da História o Pastor arquetípico, o Bom Pastor: “Eu irei em socorro de minhas ovelhas para poupá-las de serem atiradas à pilhagem; e julgarei entre ovelha e ovelha: Para pastoreá-las suscitarei um só pastor (...). Será ele quem as conduzirá à pastagem e lhes servirá de pastor” (Ez 34, 22-23).
II – O Pastor por excelência
Jesus é o Pastor que deu a vida por seu rebanho; ademais, sempre disposto a ir atrás da ovelha perdida e, encontrando-a, retornar alegre e feliz com ela sobre os ombros; a tirá-la do valo, ainda que em dia de sábado. Quem de nós pode afirmar nunca ter sido objeto da busca do Bom Pastor, às vezes até em circunstâncias trágicas? Quem alguma vez não se sentiu ovelha desgarrada, mas nos ombros de Jesus, sendo reconduzida ao aprisco?
É nesta perspectiva que se insere o Evangelho do 4º Domingo da Páscoa
As circunstâncias: a cura do cego de nascença
Essas palavras se prendem a um episódio antecedente, denso de emocionante carga simbólica. Inicia-se ao incidir o olhar de Jesus sobre um cego de nascimento. Era comum julgarem os judeus haver uma relação entre as enfermidades e os pecados cometidos pelo doente, ou por seus parentes. Por isso perguntaram os discípulos ao Senhor: “Mestre, quem pecou, este homem ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo 9, 2). A resposta firme de Jesus e o desenrolar dos acontecimentos subsequentes deitarão luz para melhor entendermos o Evangelho de hoje: “Nem este pecou nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus” (Jo 9, 3). Tendo feito essa profética afirmação, tomou a iniciativa de curar o cego.
Como não podia deixar de ser, o portentoso milagre causou comoção entre todos os conhecidos do miraculado, levando-os a desejarem encontrar “aquele homem que se chama Jesus” (Jo 9, 11).
O burburinho popular cresceu a ponto de conduzirem o beneficiado diante dos fariseus. Narrado o ocorrido, constatou-se ter sido realizada a cura em dia de sábado. Isto configurava um grande crime, condenado pelos fariseus. Um violador da lei do sábado — portanto, um pecador — não podia ser de Deus! Eis, finalmente, encontrada uma grave acusação contra aquele Homem que tanto os perturbava. Todavia, esta conclusão entrava em choque frontal com uma pergunta levantada por outros fariseus: como explicar que um tal prodígio pudesse ser praticado por um pecador?
Em meio à dissensão perplexitante, a esperança de acharem uma saída fez os maus se voltarem para o próprio ex-cego. Quiçá pudesse este dizer algo que desabonasse inteiramente Jesus. Entretanto, iludiam-se por completo. Aquela era uma ovelha que conhecia a voz de seu Pastor, e assim não se deixava enganar pelos ladrões e salteadores. Convicto, afirmou ser Nosso Senhor um profeta. Embaraçados, os inquiridores resolveram interrogar os pais daquele homem, na esperança de provarem ter tido sempre vistas normais. Afinal, desqualificar a testemunha é uma saída bem conhecida daqueles que se encontram em apuros. Contudo, mais uma vez não conseguiram seu intento, pois o casal confirmou ser seu filho cego de nascença, e sabiamente evitou quaisquer outros comentários sobre o acontecido: “[Eles] temiam os judeus, pois os judeus tinham ameaçado expulsar da sinagoga todo aquele que reconhecesse Jesus como o Cristo. Por isso é que seus pais responderam: Ele tem idade, perguntai-lho” (Jo 9, 22-23).
O interrogatório final, em um ambiente de ansiedade e fraude, acabou despertando indignação dos fariseus, por esbarrarem na robustez de fé e honestidade do ex-cego. Havendo eles declarado não saberem de onde era Jesus, “respondeu aquele homem: O que é de admirar em tudo isso é que não saibais de onde ele é, e entretanto ele me abriu os olhos. Sabemos, porém, que Deus não ouve a pecadores, mas atende a quem lhe presta culto e faz a sua vontade. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se esse homem não fosse de Deus, não poderia fazer nada. Responderam-lhe eles: Tu nasceste todo em pecado e nos ensinas?... E expulsaram-no” (Jo 9, 30-34).
A Igreja é o redil, cuja porta é Cristo
Após essa injusta conclusão de seu inquérito, não tardou o antigo cego a se reencontrar com Jesus. Este, conhecendo desde toda a eternidade aqueles fatos, perguntou-lhe se acreditava no Filho de Deus. Diante de não poucos curiosos, o tal homem não só afirmou sua crença em Nosso Senhor, mas também prosternou-se diante d’Ele e O adorou.
Essa bela e virtuosa atitude deixou emudecido o público presente. O Divino Mestre aproveitou a ocasião para tirar todo o proveito do episódio, e afirmou: “Vim a este mundo para fazer uma discriminação: os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos” (Jo 9, 39).
A partir desse instante, entrando em contenda aberta com os fariseus, Jesus passa a desenvolver a parábola narrada no Evangelho de hoje. Começa por referir-se a um hábito comum, bastante conhecido entre os judeus: o ladrão não entra pela porta do aprisco, mas “sobe por outro lugar” (Jo 10, 1). O pastor, pelo contrário, utiliza-se tão-só dessa porta, fazendo ouvir sua voz pelas ovelhas.
Não havendo os fariseus entendido essa alegoria, o Divino Mestre declarou ser, Ele mesmo, a porta do aprisco.
Comentando com brilho esse trecho do Evangelho, a Constituição Dogmática Lumen Gentium afirma: “A Igreja é o redil, cuja porta única e necessária é Cristo. É o rebanho, do qual o próprio Deus anunciou que seria o Pastor, e cujas ovelhas, embora governadas por pastores humanos, são incessantemente conduzidas às pastagens e alimentadas pelo próprio Cristo, bom Pastor e Príncipe dos pastores, que deu sua vida pelas ovelhas”(LG 6).
Um só rebanho e um só Pastor
Pelos antecedentes e por todo o contexto no qual ocorre, a presente parábola leva-nos a compreender a divina excelência do Bom Pastor. Jesus não só conhece como efetivamente ama suas ovelhas desde toda a eternidade. Ele as criou, uma a uma, e as redimiu com seu próprio sangue, elevando-as a participarem de sua vida. Ademais, deixou-se como alimento na Eucaristia até a consumação dos séculos. Seu trato para com o rebanho atinge extremos inimagináveis até mesmo pelo mais perfeito dos Anjos.
Através da Fé e em virtude da Graça, suas ovelhas, por reciprocidade, conhecem-No, n’Ele esperam e operosamente O amam. Assim, Bom Pastor e ovelhas relacionam-se de maneira semelhante ao convívio existente entre as três pessoas da Santíssima Trindade, em um só Deus. Essa é a principal razão de seu desejo-profecia: “Haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10, 16).
Através da entrega de sua própria vida, sobre a qual Ele tem um poder absoluto, obterá Jesus uma unidade entre Pastor e redil.
Também nós devemos ser pastores...
Dispôs Deus que as figuras do cordeiro, do rebanho e do pastor facilitassem ao homem a compreensão da necessidade do apostolado. Em sua substância simbólica, elas reforçam princípios enunciados ao longo da Sagrada Escritura: “E impôs a cada um deveres para com o próximo” (Ecli 17, 12).
Em relação a Jesus, somos cordeiros; é nossa obrigação moral e religiosa reconhecer-Lhe a voz e seguir-lhe os passos. Mas somos também muitas vezes chamados a representar o papel de pastores para com nossos irmãos, dever de caridade, como nos ensina São Pedro: “Cada um, segundo o que recebeu, comunique-o aos outros, como bons dispenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pe 4, 10). Caso assim não procedamos, seremos julgados como o servo mau e preguiçoso da parábola dos talentos (cf. Mt 25, 14-30).
O trecho do Evangelho que acabamos de analisar constitui uma premente conclamação para a participação efetiva, dedicada e entusiasmada de todos os fiéis nas tarefas de apostolado. A obrigação de evangelizar não é exclusiva dos religiosos, mas também de todo batizado. Por este sacramento, cada um de nós é incorporado a uma sociedade espiritual — a Santa Igreja Católica — regida pela Comunhão dos Santos, recebendo uma vocação geral de apostolado e uma missão individual de expandir o Reino de Cristo. Mais especialmente encontram-se concernidas nisto as associações e movimentos católicos.
Para a realização dessa atividade, o campo de trabalho mais indicado é a paróquia. Em outros termos, nada mais louvável e eficiente do que contribuir para o revigoramento de nossas paróquias, esforçando-nos por incluir neste âmbito todos aqueles que estejam a nosso alcance.
Recorramos à Mãe do Bom Pastor
“Maria é a estrela na nova evangelização”, lembra-nos sempre o Papa João Paulo II. Quem quiser ter sucesso nesse sublime empreendimento de atrair seus próximos para o aprisco de Jesus Cristo, não pode deixar de colocar seus trabalhos e sua própria pessoa sob a proteção e a orientação da Mãe do Bom Pastor.
Nas catacumbas de Santa Priscila, em Roma, pode-se ver, bem-conservada, uma pintura que representa Nosso Senhor como o Bom Pastor. Significativamente, leva Ele aos ombros a ovelha perdida e caminha em direção a sua Mãe, em cujas mãos vai entregá-la.

Peçamos a esse Coração Maternal e Imaculado que nos conduza ao Bom Pastor, e assim possamos cumprir com santidade nossos deveres de apostolado para com nossos irmãos. 

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Evangelho III Domingo Da Páscoa - Ano B - Lc 24, 35-48

Conclusão dos comentários ao Evangelho — 3º Domingo Da Páscoa - Ano B - Lc 24, 35-48
Prova de Seu ilimitado amor de Salvador
Os Santos Padres afirmam ter Nosso Senhor querido conservar as marcas dos tormentos sofridos por Ele, com vistas ao Juízo Final, para a confusão dos maus e alegria dos bons. Serão elas um símbolo de Sua infinita misericórdia, prova de Seu ilimitado amor de Salvador, desprezado, renegado e ultrajado por alguns, e fonte inesgotável de bênçãos e graças para outros, objeto de ação de graças e adoração por toda a eternidade.
Confusão para uns, júbilo para outros. Naquele dia, dies iræ, todas as criaturas humanas verão as chagas dEle; portanto, também eu poderei adorá-las e nelas me alegrar, se tiver andado pelos caminhos da virtude, da graça e da santidade. Através desse meio, Jesus fortificava a Fé dos Apóstolos, eliminando qualquer pretexto para a incredulidade, ou até mesmo para uma simples dúvida, tornando-os verdadeiras testemunhas, pelos séculos afora. Manifesta, ademais, seu amor por eles e, em consequência, também por nós, proporcionando-nos um poderoso estímulo para retribuirmos Seu incomensurável afeto, pela disposição de a Ele nos entregarmos inteiramente.
Ali, naquelas santas chagas, encontramos uma excelente âncora para a nossa confiança. Elas como que nos dizem: “Não temais, Eu venci o mundo!” (Jo 16, 33). Vivamos o conselho dado por São Paulo: “Corramos com perseverança ao combate proposto, com o olhar fixo no autor e consumador de nossa Fé, Jesus. Em vez de gozo que Se lhe oferecera, Ele suportou a Cruz e está sentado à direita do trono de Deus” (Hb 12, 1-2).
Incutem-lhes forças para aceitar os suplícios
Não podemos descartar a hipótese de que Jesus quis fazer os Apóstolos apalparem Suas santas chagas para facilitar-lhes a paciência que deveriam praticar, face às imensas dificuldades que sobre eles adviriam, na difusão do Evangelho, de parte dos tiranos, gentios e dos seus próprios conacionais. Os sagrados estigmas, ora glorificados, incutiam-lhes forças para aceitar com resignação, fortaleza e ânimo todos os suplícios a eles reservados.
Dessa forma, também nós, na adoração a essas chagas, somos estimulados a, com calma, serenidade e paz, suportar as adversidades tão comuns à nossa passagem por este vale de lágrimas. Quando algo desagradável, doloroso ou dramático vier atravessar nossa caminhada, adoremos as marcas dos tormentos aceitos pelo Salvador em nosso benefício, e saibamos, em algo, retribuir tão incomensurável misericórdia. E, no Céu, teremos inegável alegria em considerar as chagas que nos obtiveram a salvação eterna: “Vosso coração se alegrará e ninguém tirará vossa alegria” (Jo 16, 22).

terça-feira, 14 de abril de 2015

Evangelho III Domingo Da Páscoa - Ano B - Lc 24, 35-48

Continuação dos comentários ao Evangelho — 3º Domingo Da Páscoa - Ano B - Lc 24, 35-48
O Sinédrio considera de frente o milagre
Paralelamente ao que se tratava com tensão, suspense e certo medo no Cenáculo, os príncipes dos sacerdotes e o Sinédrio em geral discorriam sobre a narração feita pelos soldados, a qual tornava patente que Jesus havia ressuscitado. Era uma hipótese árdua igualmente para eles, mas sabiam considerá-la de frente, medindo bem todos os prejuízos que de uma realidade dessas poderiam decorrer.
Na cidade, celebrado já o sábado, os trabalhos haviam sido retomados com toda normalidade, no transcurso do dia. Só no Cenáculo e no Sinédrio dominava a febricitação, àquelas horas de após-ceia. O tema era o mesmo, as testemunhas, porém, bem diferentes, e muito mais os destinatários dos relatos. O dogma da Ressurreição seria fundamentalíssimo para o futuro da Religião e era indispensável haver vários que testemunhassem com solidez de declaração o terem visto Jesus vivo, nos dias logo posteriores à Sua morte. Apesar de Seus insistentes avisos e profecias, se não houvesse testemunhas visuais, difícil seria crer em tão grande milagre.
É bem a essa altura que, estando trancadas as portas e janelas, entrou Jesus no Cenáculo, iniciando-se o trecho evangélico da Liturgia de hoje.
II – Aparição do Senhor no Cenáculo
As sete palavras proferidas por Nosso Senhor no Calvário têm, com muita razão, merecido belíssimos comentários ao longo da História. Mas a primeira palavra por Ele dita aos Apóstolos, ao penetrar no Cenáculo, não merece menos atenção.
Jesus deseja aos Apóstolos a verdadeira paz
36 “Enquanto falavam nisto, apresentou-Se Jesus no meio deles e disse-lhes: 37 ‘A paz seja convosco!’”.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Evangelho III Domingo Da Páscoa - Ano B

Comentários ao Evangelho — 3º Domingo Da Páscoa - Ano B - Lc 24, 35-48
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
 “E eles contaram também o que lhes tinha acontecido no caminho, e como O tinham reconhecido ao partir o pão. 36 Enquanto falavam nisto, apresentou-Se Jesus no meio deles e disse-lhes: 37 ‘A paz seja convosco!’. Mas eles, turbados e espantados, julgavam ver algum espírito. 38 Jesus disse-lhes: ‘Por que estais turbados, e por que se levantam dúvidas nos vossos corações? 39 Olhai para as Minhas mãos e os Meus pés, porque sou Eu mesmo; apalpai e vede, porque um espírito não tem carne, nem ossos, como vós vedes que Eu tenho’. 40 Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. 41 Mas, estando eles, por causa da alegria, ainda sem querer acreditar e estupefatos, disse-lhes: 42 ‘Tendes alguma coisa que se coma?’. Eles apresentaram-Lhe uma posta de peixe assado. 43 Tendo-o tomado, comeu-o à vista deles. 44 Depois disse-lhes: ‘Isto é o que Eu vos dizia quando ainda estava convosco; que era necessário que se cumprisse tudo o que de Mim estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos’. 45 Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras, 46 e disse-lhes: ‘Assim está escrito que o Cristo devia padecer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, 47 e que em Seu nome havia de ser pregado o arrependimento e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. 48 Vós sois as testemunhas dessas coisas’” (Lc 24, 35-48).
A notícia da Ressurreição de Jesus despertou, no Cenáculo e no Sinédrio, um clima de febricitação. O tema era o mesmo, as testemunhas, porém, bem diferentes, e muito mais os destinatários dos relatos. O dogma da Ressurreição seria fundamentalíssimo para o futuro da Religião e era indispensável haver vários que comprovassem com solidez de declaração o terem visto Jesus vivo, nos dias logo posteriores à Sua morte.
I – Os Apóstolos e o sinédrio perante a ressurreição
A hipótese de que, tendo morrido Jesus, Seus discípulos roubaram e ocultaram Seu corpo, com o intuito de espalhar o boato de Sua Ressurreição, reaparece com frequência ao longo da História.
Originou-se ela momentos depois de o Salvador ter operado o grande milagre de retomar Sua vida humana em corpo glorioso. Seus adversários, aqueles mesmos que haviam planejado e exigido Sua morte, compraram o testemunho de soldados venais e — por temor e ódio — puseram em circulação essa hipótese (cf. Mt 28, 11-15).
Ainda nos dias de hoje, não é raro ouvir ecos dessa insolente zombaria.
O contrário de fanáticos e alucinados
Por outro lado, a ideia de considerar a Ressurreição do Senhor um mito nascido da alucinação sofrida por alguns poucos não esteve alheia aos próprios Apóstolos. Foi o que se deu quando ouviram a narração feita pelas Santas Mulheres após seu encontro com Jesus naquele “primeiro dia” (cf. Lc 24, 1-11).
Este mesmo fato comprova que os discípulos não podem ter sido os autores de uma fábula sobre esse milagre, pois a experiência nos mostra o quanto é em função de um grande desejo, ou de um grande temor, que o alucinado passa a ver miragens. Entretanto, a hipótese de que — por pura alucinação — foram os Apóstolos os autores do “mito” da Ressurreição do Senhor não deixou de circular por meio dos lábios e plumas de hereges, nestas ou naquelas épocas.
Na realidade, eles não haviam compreendido o alcance das afirmações do Divino Mestre sobre o que se passaria no terceiro dia após Sua morte e, portanto, nem chegaram a temer ou desejar a Ressurreição. E isso a tal ponto que não hesitaram em negar a veracidade da narração feita pelas Santas Mulheres. Ou seja, eles demonstraram estar bem no oposto da acusação de terem sido uns fanáticos e alucinados a propósito da Ressurreição, pois não aceitavam sequer a simples possibilidade de ela vir a se tornar efetiva. O exemplo máximo dessa impostação de espírito deu-se com São Tomé, o qual só se rendeu diante de um fato irrefutável: colocar o dedo nas adoráveis chagas de Jesus.
Ademais, negar a veracidade da Ressurreição, lançando a calúnia de ter sido ela uma invenção de alucinados, corresponderia, ipso facto, a reconhecer a existência de um milagre não muito menor: o da conquista e reforma do mundo, levada a cabo por um reduzido número de desvairados.
Domingo de Ressurreição no Cenáculo
A História nos faz conhecer o quanto, na manhã daquele domingo, os Apóstolos estavam na dor e na tristeza (cf. Mc 16, 10). Faltava-lhes a esperança, pois nenhum deles acreditava na hipótese de o Mestre retornar à vida.
Os fatos se sucediam, mas apesar de as Santas Mulheres haverem entrado no Cenáculo com muita agitação para relatar o surpreendente acontecimento de terem encontrado vazio o sepulcro e um Anjo em seu interior, ninguém era levado a supor a Ressurreição. Sem embargo, Pedro e João se deslocaram, em seguida, com Maria Madalena para o sepulcro. Ao retornarem, os dois Apóstolos, disseram ser real o relato das Santas Mulheres: o sepulcro estava vazio (cf. Lc 24, 1-12). Os que viviam em Emaús voltaram para casa muito abatidos, desconsolados e comentando os exageros — segundo eles — da imaginação feminina.
Nesse meio tempo, Maria Madalena regressou ao Cenáculo para euforicamente anunciar o encontro que havia tido com o Senhor. Logo a seguir, as outras Santas Mulheres entraram para narrar a aparição do Senhor quando iam pelo caminho. Contudo, mesmo somando esses episódios aos anteriores, uma vez mais, não creram na palavra delas (cf. Mc 16, 1-11). Pedro, porém, saiu para o sepulcro e, ao regressar, afirmou que de fato o Senhor tinha ressuscitado, pois Ele lhe aparecera (cf. Lc 24, 34). Uns creram, outros não (cf. Mc 16, 14).

À noite, foi a vez dos dois discípulos de Emaús darem seu minucioso testemunho sobre o famoso acontecimento que culminaria com a abertura dos olhos de ambos, “ao partir o pão” (Lc 24, 35). No Cenáculo, depararam-se com todos reunidos e comentando a aparição do Senhor a Pedro. Ainda assim, a maioria continuava negando a Ressurreição de Jesus.
Continua no próximo post