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terça-feira, 26 de julho de 2016

Parábola do tesouro escondido

Comentários Mt 13, 44 Parábola do tesouro escondido
"O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo que, quando um homem o acha, esconde-o e, cheio de alegria pelo achado, vai e vende tudo o que tem e compra aquele campo."
Os detalhes secundários são omitidos pelo Evangelista. Terão, ou não, sido tratados pelo Divino Mestre? Não temos como o saber. Porém, pode-se imaginar o quanto a exposição de Jesus deve ter sido atraentíssima, pelo fato dEle discorrer sobre os temas através de Sua humanidade e, pari passu, ir iluminando, bem dispondo e auxiliando, pela graça e por Seu poder divino, o fundo da alma de cada um ali presente.
Mateus tem um objetivo concreto em mente. Por isso sintetiza a parábola nos seus elementos essenciais, deixando de lado, por exemplo, a indicação de como foi descoberto o tal tesouro. Conhecemos nós episódios havidos na História, a propósito de descobertas deslumbrantes nessa linha.
Por isso, fica ao encargo de nossa imaginação ambientá-la, completando os pormenores. O homem esconde novamente o tesouro. De uma perspectiva moral, procede bem, não se apropriando das riquezas encontradas. E, ao mesmo tempo, mostra-se prudente não deixando à vista aquelas preciosidades, para evitar as tentações que alguém pudesse ter ao deparar-se com elas.
"Não é necessário adequar este dado [o fato de esconder o tesouro] ao significado da parábola, porque, segundo minha teoria, não é parte dela, senão ornato".7
Maldonado discorre sobre este ponto em particular com muito e sábio critério, glosando considerações feitas por São Jerônimo e São Beda.
Parece-nos curioso que os autores concentrem seus comentários sobre o homem que encontra o tesouro, mas sejam displicentes em considerar o terreno onde estava ele escondido.
Seja-nos permitido fazer uma aplicação a esse propósito.
Olhando para os primeiros tempos da Igreja, vemos quanto custou aos judeus e pagãos convertidos "comprar o terreno" no qual se escondia o tesouro da Salvação. A renúncia exigida era total: família, bens, reputação e até a própria vida. Quão bem procederam, entretanto, os que então abraçaram a Fé Católica! A humanidade atual, qual dos dois papéis representa: o do homem que deseja comprar, ou o do que quer vender? Infelizmente, a quase totalidade dos fatos nos inclina à segunda hipótese. Muitos de nós, hoje em dia, caímos na insensatez de não mais nos importarmos com esse tesouro de nossa Fé, que tanto custou aos nossos antepassados, e pelo qual o Salvador derramou todo o Seu Preciosíssimo Sangue no Calvário. Por quão miserável preço vendemos, alguns de nós, esse tão elevado tesouro, tal como fez Esaú com sua primogenitura, ao trocá-la por um mísero prato de lentilhas! Hoje, mais do que nunca, multiplicam- se as "lentilhas" da sensualidade, da corrupção, do prazer ilícito, da ambição, etc.
Aqui também poderia estar incluída a figura do religioso que se deixa arrastar pelos afazeres concretos e vai se olvidando do "tesouro" pelo qual tudo abandonou em seu primitivo fervor.

Essa plenitude de alegria do homem da parábola deve nos acompanhar a vida inteira, sem interrupção, por ser um dos efeitos da verdadeira Fé. A virtude é um dom gratuito; não se compra. Entretanto, sua posse contínua e crescente custa esforços de ascese, piedade e fervor. É preciso "vendermos" todas as nossas paixões, caprichos, manias, vícios, sentimentalismos, etc., em síntese, toda a nossa maldade. É o melhor "negócio" que se possa fazer nesta Terra.

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