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sábado, 14 de maio de 2011

Domingo do Bom Pastor

Deus, na sua inesgotável sabedoria, dispôs em perpétua ordem e harmonia todos os seres, fazendo muitas vezes os inferiores símbolos dos superiores. Assim, no sexto dia de sua obra, criou entre os animais a espécie ovina, com o intuito de, no futuro, o cordeiro servir de título ao Redentor, o Cordeiro de Deus. Conferiu características próprias aos rebanhos de ovelhas, assim como ao relacionamento entre estas e seus pastores, para facilitar a compreensão do amor entre o Fundador da Igreja e seus fiéis.

Já nos primórdios do Antigo Testamento, há uma insistência na figura do pastor (cf. Gn 4, 4 e 20), na pessoa de Abraão (Gn 12, 16), de Lot (Gn 13, 5) e do próprio Rei Davi (1 Sam 17, 34-35). Aos poucos, a condução do rebanho vai se tornando símbolo dos guias do povo de Deus, a ponto de a Escritura referir-se a eles com estas palavras: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com inteligência e sabedoria”(Jr 3, 15). Ou como neste trecho: “Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; dize-lhes, a esses pastores, este oráculo: eis o que diz o Senhor Javé: ai dos pastores de Israel que só cuidam do seu próprio pasto. Não é seu rebanho que devem pastorear os pastores? Vós bebeis o leite, vestis-vos de lã, matais as reses mais gordas e sacrificais, tudo isso sem nutrir o rebanho. Vós não fortaleceis as ovelhas fracas; a doente, não a tratais; a ferida, não a curais; a transviada, não a reconduzis; a perdida, não a procurais; a todas tratais com violência e dureza. Assim, por falta de pastor, dispersaram-se minhas ovelhas, e em sua dispersão foram expostas a tornarem-se presa de todas as feras. Minhas ovelhas vagueiam em toda parte sobre a montanha e sobre as colinas, elas se acham espalhadas sobre toda a superfície da terra, sem que ninguém cuide delas ou se ponha a procurá-las” (Ez 34, 2-6).
Porém, a figura do Pastor toma a plenitude de seu significado no Ser por excelência, o próprio Deus: “Eis o que diz o Senhor Javé: vou castigar esses pastores, vou reclamar deles as minhas ovelhas, vou tirar deles a guarda do rebanho, de modo que não mais possam fartar-se a si mesmos; arrancarei minhas ovelhas da sua goela, de modo que não mais poderão devorá-las. Pois eis o que diz o Senhor Javé: vou tomar Eu próprio o cuidado com minhas ovelhas, velarei sobre elas. Como o pastor se inquieta por causa de seu rebanho, quando se acha no meio de suas ovelhas tresmalhadas, assim me inquietarei por causa do meu; Eu o reconduzirei de todos os lugares por onde tinha sido disperso num dia de nuvens e de trevas. Eu as recolherei dentre os povos e as reunirei de diversos países, para reconduzi-las ao seu próprio solo e fazê-las pastar nos montes de Israel, nos vales e nos lugares habitados da região. Eu as apascentarei em boas pastagens, elas serão levadas a gordos campos sobre as montanhas de Israel; elas repousarão sobre as verdes relvas, terão sobre os montes de Israel abundantes pastagens. Sou Eu que apascentarei minhas ovelhas, sou Eu que as farei repousar — oráculo do Senhor Javé. A ovelha perdida, Eu a procurarei; a desgarrada, Eu a reconduzirei; a ferida, Eu a curarei; a doente, Eu a restabelecerei, e velarei sobre a que estiver gorda e vigorosa. Apascentá-las-ei todas com justiça. (...) E vós, minhas ovelhas, vós sois homens, o rebanho que apascento. E Eu, Eu sou o vosso Deus — oráculo do Senhor Javé”(Ez 34, 10-16; 31).
Jesus, o Bom Pastor
Por fim apareceu nos céus da História o Pastor arquetípico, o Bom Pastor: “Eu irei em socorro de minhas ovelhas para poupá-las de serem atiradas à pilhagem; e julgarei entre ovelha e ovelha: Para pastoreá-las suscitarei um só pastor (...). Será ele quem as conduzirá à pastagem e lhes servirá de pastor” (Ez 34, 22-23).
Jesus é o Pastor que deu a vida por seu rebanho; ademais, sempre disposto a ir atrás da ovelha perdida e, encontrando-a, retornar alegre e feliz com ela sobre os ombros; a tirá-la do valo, ainda que em dia de sábado. Quem de nós pode afirmar nunca ter sido objeto da busca do Bom Pastor, às vezes até em circunstâncias trágicas? Quem alguma vez não se sentiu ovelha desgarrada, mas nos ombros de Jesus, sendo reconduzida ao aprisco?
É nesta perspectiva que se insere o Evangelho do 4º Domingo da Páscoa: “Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor expõe a sua vida pelas ovelhas. O mercenário, porém, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, quando vê que o lobo vem vindo, abandona as ovelhas e foge; o lobo rouba e dispersa as ovelhas. O mercenário, porém, foge, porque é mercenário e não se importa com as ovelhas. Eu sou o Bom Pastor. Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem a mim, como meu Pai me conhece e eu conheço o Pai. Dou a minha vida pelas minhas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor. O Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo e tenho o poder de a dar, como tenho o poder de a reassumir. Tal é a ordem que recebi de meu Pai” (Jo 10, 11-18).
Jesus não só conhece como efetivamente ama suas ovelhas desde toda a eternidade. Ele as criou, uma a uma, e as redimiu com seu próprio sangue, elevando-as a participarem de sua vida. Ademais, deixou-se como alimento na Eucaristia até a consumação dos séculos. Seu trato para com o rebanho atinge extremos inimagináveis até mesmo pelo mais perfeito dos Anjos.
Através da Fé e em virtude da Graça, suas ovelhas, por reciprocidade, conhecem-No, n’Ele esperam e operosamente O amam. Assim, Bom Pastor e ovelhas relacionam-se de maneira semelhante ao convívio existente entre as três pessoas da Santíssima Trindade, em um só Deus. Essa é a principal razão de seu desejo-profecia: “Haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10, 16).
Através da entrega de sua própria vida, sobre a qual Ele tem um poder absoluto, obterá Jesus uma unidade entre Pastor e redil.

domingo, 8 de maio de 2011

Multiplicação dos pães

Jo 6, 26
26“Em verdade, em verdade eu vos digo, estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos”.


Muitas vezes fazemos algo e sentimos um bem-estar enorme, mas, por que fizemos? Porque Deus, Nosso Senhor, nos deu a graça de fazer e, ao mesmo tempo, nos deu a consolação de estar fazendo. No entanto, nós, em vez de remontarmos à causa ficamos apegados à consolação, ou seja, apegados ao “pão” que foi multiplicado e esquecemos de olhar para quem fez o pão.

Com isso perdemos um fruto extraordinário da nossa vida espiritual, mais do que fruto, uma essência fundamental da nossa vida espiritual, que deve estar sempre unida à fonte, sempre remontado à causa, sempre restituindo.

A restituição é fundamental, mas para restituir eu não posso parar na consolação, tenho de subir e remontar à fonte dessa consolação.
 Quem dos efeitos remonta à causa, diz São Tomás, tem admiração. [Na multiplicação dos pães] faltou admiração a esse povo, porque Nosso Senhor está dizendo que eles foram atrás do pão que deu a eles um bem-estar extraordinário; é compreensível.