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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A necessária cooperação humana com a graça

“Aquele que te criou sem o teu concurso não te salvará sem tua cooperação”, dizia Santo Agostinho, dirigindo-se aos fiéis.
Realmente, se é verdade fundamental da doutrina católica a incapacidade total do homem sem a graça, não é menos verdade por isto, que a doutrina católica afirma a necessidade da cooperação humana com a graça, para que seja efetiva a santificação. E quem negasse a necessidade de tal cooperação incidiria irremediavelmente em heresia.
A vida espiritual não pode, pois, limitar-se à recepção dos Sacramentos e à pratica da oração. Por meio dos Sacramentos e da oração, o homem adquire as luzes e as energias necessárias para a prática do bem e o combate às suas más inclinações. Munido destes recursos, é preciso que o homem deles se utilize efetivamente, por um trabalho muitas vezes lento e penoso, em que sua inteligência e sua vontade devem cooperar arduamente para aumentar o amor à virtude, aperfeiçoar-se na sua prática, e vencer as más inclinações e as tentações a que todos estamos sujeitos.
Uma alma que sinta em si a fraqueza resultante do pecado original, e a ação muitas vezes impetuosa das tentações, não se pode dispensar deste trabalho penoso. Seria inútil para ela cifrar-se à recepção dos Sacramentos, se sua vontade não travasse contra as más inclinações um combate cerrado e intransigente.
Exemplifiquemos, para maior clareza.
Em um século cujo ambiente intelectual está infestado por doutrinas as mais heréticas, que muitas vezes se apresentam sob forma subtil e inocente, o católico deve desenvolver um trabalho interior intensíssimo, no sentido de conservar virginalmente incorrupta de qualquer erro sua inteligência, .... de toda e qualquer doutrina oposta à da Igreja ou simplesmente a ela suspeita.
Em segundo lugar, deve o católico fazer toda uma educação de seus sentimentos, seus costumes, e suas inclinações. Quem tem um pouco de prática de vida espiritual sabe o que isto significa de esforços e até de violências sobre si mesmo. É necessária uma vigilância indefectível e atentíssima .... a fuga intransigente das ocasiões de pecado, para combater o mal. E, além disto, há o trabalho positivo de aumentar o amor do bem pela leitura, pela observação atenta a todos os exemplos edificantes, por toda uma serie de esforços enfim, que tendem a levar a vontade a se conformar em tudo com a santíssima vontade de Deus, e, portanto, com os Mandamentos d’Ele e da Igreja.
Claro está — volto a insistir neste particular — que é temeridade estulta e ridícula pretender alguém realizar este trabalho dissociando-o da vida da graça, haurida na oração e nos Sacramentos. Pelo contrário, quanto mais íntima e intensa for a vida da graça, quanto mais assídua e perfeita a recepção dos Sacramentos, tanto mais perfeito será este trabalho que, sem o auxilio da graça, será de todo em todo impossível.
No entanto, cumpre não esquecer que há aí uma parte da cooperação da vontade, e que, sempre que esta cooperação for omitida na formação espiritual, há os maiores desastres a recear.


Plinio Correa de Oliveira. Excertos de artigo do “Legionário”, nº 312.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Infinito amor para com os homens

Deus é caridade. E por isto mesmo a simples enunciação do Nome Santíssimo de Jesus lembra a idéia do amor. O amor insondável e infinito que levou a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade a se encarnar! O amor expresso através dessa humilhação incompreensível de um Deus que se manifesta aos homens como um menino pobre, que acaba de nascer em uma gruta.

O amor que transparece através daqueles trinta anos de vida recolhida, na humildade da mais estrita pobreza, e nas fadigas incessantes daqueles três anos de evangelização, em que o Filho do Homem percorreu estradas e atalhos, transpôs montes, rios e lagos, visitou cidades e aldeias, cortou desertos e povoados, falou a ricos e a pobres, espargindo amor e recolhendo na maior parte do tempo principalmente ingratidão.

O amor demonstrado naquela Ceia suprema, precedida pela generosidade do lava-pés e coroada pela instituição da Eucaristia! O amor daquele último beijo dado a Judas, daquele olhar supremo posto em São Pedro, daquelas afrontas sofridas na paciência e na mansidão, daqueles sofrimentos suportados até a total consumação das últimas forças, daquele perdão mediante o qual o Bom Ladrão roubou o Céu, daquele dom extremo de uma Mãe celestial à humanidade miserável.

Cada um destes episódios foi meticulosamente estudado pelos sábios, piedosamente meditado pelos Santos, maravilhosamente reproduzido pelos artistas, e sobretudo inigualavelmente celebrado pela liturgia da Igreja. Para falar sobre o Sagrado Coração de Jesus, só há um meio: é recapitular devidamente cada um deles.

Realmente, venerando o Sagrado Coração, outra coisa não quer a Santa Igreja, senão prestar um louvor especial ao amor infinito que Nosso Senhor Jesus Cristo dispensou aos homens. Como o coração simboliza o amor, cultuando o Coração, a Igreja celebra o Amor. 

terça-feira, 31 de julho de 2012

As etapas da vida espiritual

Rico em simbolismo é também o paulatino crescimento da planta. Após um lento germinar, desponta da terra o caule, tenro e débil de início, mas já à procura do Sol. Aos poucos ele vai crescendo e surge uma espiga, na qual se formam os grãos, fruto almejado pelo semeador.
Alguns autores, entre eles São Beda e São Gregório Magno, interpretam esta parte da parábola como uma alusão às várias etapas da vida espiritual.
Semelhante ao trigo recém-germinado, a alma, no desabrochar da vocação, está ávida de ensinamento e de doutrina, tomada de encanto por tudo aquilo que a conduz ao Céu. Entretanto, a raiz necessária para dar firmeza aos bons propósitos ainda não se formou nela; só depois de ter enfrentado corajosamente as tempestades e os ventos das provações, tornar-se-á apta a produzir o fruto agradável das boas obras.
São Jerônimo, por sua vez, assim sintetiza com base nesta passagem as três idades da vida interior: “‘Primeiro a planta’, isto é, o temor, porque o começo da sabedoria é o temor de Deus (Sl 110, 10). ‘Depois a espiga’, quer dizer, a penitência que chora. ‘E por último o grão na espiga’, ou seja, a caridade, porque a caridade é a plenitude da Lei (Rm 13, 10)”.