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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Evangelho Solenidade da Epifania do Senhor - Ano C - Mt 2, 1-12

Comentário ao Evangelho Solenidade da Epifania do Senhor – Ano – C Mt 2, 1-12
1Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, 2perguntando: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”.
3Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém.
4Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. 5Eles responderam: “Em Belém, na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: 6E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo”.
7Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido. 8Depois os enviou a Belém, dizendo: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo”.
9Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. 10Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande.
11Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra.
12Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho.
 Diante do Rei, os bons reis e o mau
Na longa viagem empreendida pelos Magos, nada há de razões profanas ou mundanas. E, diante de um tirano de má fama como Herodes, é comovedora sua confiança penetrada de coragem. Sem dúvida, estavam sustentados por uma especial moção do Espírito Santo.
Natal e Epifania
A festa da Epifania — também denominada pelos gregos de Teofania, ou seja, manifestação de Deus — era celebrada no Oriente já antes do século IV. É uma das mais antigas comemorações cristãs, bem como a Ressurreição de Nosso Senhor.
Não nos devemos esquecer que a Encarnação do Verbo se tornou efetiva logo após a Anunciação do Anjo; entretanto, apenas Maria, Isabel, José e, provavelmente, Zacarias tiveram conhecimento do grande mistério operado pelo Espírito Santo. O restante da humanidade não se deu conta do que se passava no período de gestação do Filho de Deus humanado. A Revelação feita pelos Profetas era envolta em certo mistério que só após o testemunho dos Apóstolos se tornou evidente.
A Liturgia do Tempo do Advento

domingo, 27 de dezembro de 2015

Solenidade da Santa Mãe de Deus

Comentários ao Evangelho - Lc 2, 16-21 - Solenidade da Santa Mãe de Deus
Naquele tempo, 16 os pastores foram às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura.
17Tendo-O visto, contaram oque lhes fora dito sobre o Menino. 18E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam.
19Quanto a Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração.
20 Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido, conforme lhes tinha sido dito. 21 Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do Menino, deram-Lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo Anjo antes de ser concebido (Lc 2, 16-2 1).
Predestinada desde toda a eternidade
Da consideração do maior dentre os privilégios marianos emanam maravilhas que nos permitem vislumbrar a sublime grandeza da Mãe de Deus e nossa.
UM PRIVILÉGIO CONCEBIDO DESDE SEMPRE
A Igreja escolhe o primeiro dia do calendário civil para celebrar a maternidade divina de Nossa Senhora, a fim de que iniciemos o ano por meio da gloriosa intercessão de Maria. Ela derrama sobre nós suas bênçãos de maneira muito especial nesta Solenidade, cuja coincidência com a Oitava do Natal nos indica que a melhor forma de louvar o Menino Jesus é exaltar as qualidades da Mãe d’Ele e nossa, bem como a melhor forma de elogiar a Mãe é festejar o nascimento de seu Divino Filho.

sábado, 26 de dezembro de 2015

Evangelho Domingo da Sagrada Família - Lc 2, 41-52 - Ano C

Comentários ao Evangelho Domingo da Sagrada Família - Lc 2, 41-52
41 “Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa. 42 Quando Ele completou doze anos, subiram para a festa, como de costume. 43
Passados os dias da Páscoa, começaram a viagem de volta, mas o Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o notassem. 44Pensando que Ele estivesse na caravana, caminharam um dia inteiro. Depois começaram a procurá-Lo entre os parentes e conhecidos. 45 Não O tendo encontrado, voltaram para Jerusalém à sua procura.
46 Três dias depois, O encontraram no Templo. Estava sentado no meio dos mestres, escutando e fazendo perguntas. 47 Todos os que ouviam o Menino estavam maravilhados com sua inteligência e respostas. 48 Ao vê-Lo, seus pais ficaram muito admirados e sua mãe Lhe disse: ‘Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e Eu estávamos angustiados, à tua procura’. 49 Jesus respondeu: ‘Por que Me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?’. 50 Eles, porém, não compreenderam as palavras que Lhes dissera. 51 Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e era-Lhes obediente. Sua Mãe, porém, conservava no coração todas essas coisas. 52 E Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e diante dos homens (Lc 2, 41-52).
Como encontrar Jesus na aridez?
Há momentos de nossa vida espiritual em que também nós “perdemos o Menino Jesus”. Ou seja, com ou sem culpa, a graça sensível pode desaparecer. Para reencontrá-Lo, devemos procura-Lo por meio da oração e dos seus ensinamentos.
O paradoxo da Sagrada Família
Uma bela metáfora oriental, relatada pelo presbítero Hesíquio de Jerusalém (séc. V), narra que a Santíssima Trindade estaria num verdadeiro impasse, por serem as três Pessoas totalmente iguais. E seria preciso haver algum acontecimento pelo qual o Pai pudesse ser louvado enquanto pai, o Filho ser inteiramente filho, e o Espírito Santo dar mais ainda do que já havia dado. Nessa dificuldade, a solução teria surgido no momento em que Nossa Senhora aceitou a encarnação do Verbo em seu virginal corpo, tornando-Se, deste modo, o “complemento da Santíssima Trindade”.1

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Evangelho do Dia do Natal do Senhor - Ano C - Jo 1, 1-18

Comentários ao Evangelho do Dia do Natal do Senhor - Ano C
1No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus.
2No princípio estava ela com Deus. 3Tudo foi feito por ela, e sem ela nada se fez de tudo que foi feito.
4Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. 5E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la. 9Era a luz de verdade, que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano.
10A Palavra estava no mundo — e o mundo foi feito por meio dela — mas o mundo não quis conhecê-la. 11Veio para o que era seu, e os seus não a acolheram.
12Mas, a todos que a receberam, deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus, isto é, aos que acreditam em seu nome, 13pois estes não nasceram do sangue nem da vontade da carne nem da vontade do varão, mas de Deus mesmo.

14E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que recebe do Pai como Filho unigênito, cheio de graça e de verdade. 15Dele, João dá testemunho, clamando: 'Este é aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim passou à minha frente, porque ele existia antes de mim'. 16De sua plenitude todos nós recebemos graça por graça. 17Pois por meio de Moisés foi dada a Lei, mas a graça e a verdade nos chegaram através de Jesus Cristo. 18A Deus, ninguém jamais viu. Mas o Unigênito de Deus, que está na intimidade do Pai, ele no-lo deu a conhecer.(Jo 1, 1-18)
“Se não vos tornardes como meninos não entrareis no Reino dos Céus” 
Quer na Gruta de Belém, quer durante sua vida familiar, Jesus foi o divino exemplo de quanto devemos nos fazer “como meninos”. Sua inocência cresceu em manifestações ao longo de sua vida até o momento em que, morrendo crucificado, redimiu o gênero humano. Passados dois milênios, continua necessária a inocência. Cabe aos homens tornarem-se “como meninos” para a resolução da grande crise atual. Bem junto ao Presépio, meditemos sobre o Divino Infante neste proceloso Natal de 2015.
 I–Fez-se menino e habitou entre nós 

 A pleno júbilo repicam os sinos à meia-noite. Numa envolvente atmosfera de alegria, paz e harmonia, marcam eles o início da Missa do Galo. No interior do edifício sagrado quase não há sombras, a luz domina o ambiente, em inefável sintonia com o órgão e as melodiosas vozes. Os fiéis sentem-se atraídos a meditar sobre um dos principais mistérios de nossa fé, a Encarnação do Verbo, o nascimento do Menino Jesus.
Deus quis se fazer conhecer pelos homens
Cada festa litúrgica, ao nos propor a consideração de um determinado aspecto do Salvador, desperta em nós reações às vezes intensas: o Tabor nos causa admiração pelo brilho do acontecimento; acompanhando os Passos da Paixão, as lágrimas banham nossas faces; vibramos de gáudio ao considerar a Ressurreição e a Ascensão. E a doçura radiante emitida pela manjedoura de Belém não só nos encanta, como pervade nossas almas e as envolve em doce suavidade.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Evangelho da Missa da Noite do Natal do Senhor – Ano C – Lc 2,1-14

Comentários ao Evangelho da Missa da Noite do Natal do Senhor – Ano C – Lc 2,1-14
1Aconteceu que, naqueles dias, César Augusto publicou um decreto, ordenando o recenseamento de toda a terra.
2Este primeiro recenseamento foi feito quando Quirino era governador da Síria.
3Todos iam registrar-se cada um na sua cidade natal. 4Por ser da família e descendência de Davi, José subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, até a cidade de Davi, chamada Belém, na Judeia, 5para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida.
6 Enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto, 7 e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria.
8Naquela região havia pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do seu rebanho. 9Um anjo do Senhor apareceu aos pastores, a glória do Senhor os envolveu em luz, e eles ficaram com muito medo. 10O anjo, porém, disse aos pastores: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: 11Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor. 12Isto vos servirá de sinal: Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura”.
13E, de repente, juntou-se ao anjo uma multidão da corte celeste. Cantavam louvores a Deus, dizendo: 14“Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados”.

“Lux in tenebris lucet”

A mais fulgurante das luzes brilha nas trevas e oferece à humanidade a verdadeira paz, sobretudo em nossa era crivada de guerras, catástrofes e ameaças. Junto a Maria, a José e aos pastores, no Pesépio, adoremos o Menino-Deus, o Príncipe da Paz.
Cristo, o Centro da História
Vivemos no ano de 2006 e ninguém levanta a menor dúvida a este propósito, pois assim foi estabelecido, por consenso universal, o critério para elaborar o nosso calendário. Só esse fato seria, de si, suficiente para comprovar que há dois milênios e seis anos, numa gruta em Belém, nasceu o Menino-Deus com a missão de salvar o mundo. Essa é uma das provas da grande importância que todos os povos, crentes ou não-crentes, atribuíram ao acontecimento que acabou por dividir a História em dois grandes períodos: antes e depois de Cristo. Não tardaram muitos séculos para que urbi et orbe, três vezes ao dia, os sinos das igrejas ecoassem a fim de recordar e alçar seus louvores aos Céus pela Encarnação do Verbo; o Ângelus passou a ser uma devoção universal. A emoção e o júbilo pervadiram a terra e, ao longo dos tempos, na celebração do Natal, sempre ressoaram os cantos litúrgicos e as canções destinadas a manifestar a mesma alegria de há mais de vinte séculos: “Hodie Christus natus est” (1).
“Uma luz resplandece nas trevas” (Jo 1, 5): “Christus natus est nobis”, foi para nós que Ele nasceu, para a humanidade de todas as épocas, até o Juízo Final. O glorioso nascimento do Menino Jesus constitui uma inesgotável fonte de salvação. E, invariavelmente — sobretudo neste ano tão atravessado por ameaças de guerras, convulsões e terrores — o convite que nesta festividade é feito aos homens vem carregado de promessas. Junto ao Divino Infante pode-se encontrar a verdadeira paz, como ocorreu com os pastores e os Reis Magos. Movidos por um sopro do Espírito Santo, abandonaram seus afazeres e puseram-se a caminho em busca da Paz Absoluta, para adorá-La. Esse mesmo convite nos é dirigido a nós na noite de hoje: “Venite adoremus”, pois “a graça de Deus, nosso Salvador, apareceu a todos os homens. (...) Manifestou-se a bondade de Deus nosso Salvador e o seu amor pelos homens” (Tt 2, 11; 3, 4).
Viagem de José e Maria a Belém

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Comentários Jo 1, 19-27

E este é o testemunho de João, quando os judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para o interrogarem: “Quem és tu?” 20Ele confessou e não negou; mas declarou francamente: “Eu não sou o Cristo.
Ele fez questão de usar estes dois verbos: um afirmativo e outro negativo. Confessou e não negou. Bastaria ele dizer: “Confessou”, ou então: “Não negou.” Mas ele faz questão de dizer: “Confessou e não negou.” Ele quer dar a ideia de que houve uma confissão. Confissão é aquele que declara, que manifesta a sua fé. Então, está aqui para nós, já um primeiro ponto de conselho espiritual: nós devemos confessar e não negar. Confessou e não negou.
Ele vai repetir ainda.
João confessou e não negou. Confessou: “Eu não sou o Messias.”
Isso perturbava enormemente os judeus que tinham mandado os sacerdotes e levitas. Perturbava, porque eles gostariam de que fosse dito: “Eu sou o Messias.” Porque aí eles obrigariam João Batista a ir ao Sinédrio. O que aconteceria se ele não fosse ao Sinédrio? Aconteceria que João Batista, enquanto Messias, estaria rompendo com o Sinédrio e o Sinédrio podia fazer uma guerra. Assim como eles mataram os profetas ao longo dos séculos, eles também arrumariam um meio de matar este que se dizia Messias, porque estava prejudicando completamente toda a política deles, levitas, sacerdotes e judeus.
Mas ele diz que não: “Eu confesso, não sou o Messias.” Isso cria uma insegurança. Porque, uma vez que não é o Messias, então quem é ele? Isso perturba. “Será que tem alguém que ele vem anunciando?” Porque eles sabiam que era a época do Messias. Se ele não é o Messias, então ele vem anunciando-O.
Eles perguntaram: “Quem és, então? És tu Elias?”
A fama de São João Batista era tal que os sacerdotes e levitas, a mando dos judeus, perguntaram-lhe se ele era ou não o Messias, se ele era ou não Elias. A primeira idéia era a de ser o Messias. Eles vão descendo a escala dos personagens. “Bom, uma vez que ele nega ser o Messias, então, de repente é Elias. Se ele diz que é Elias, estamos perdidos!”
Sim, porque Elias é aquele que manda abrir a terra, vir fogo do céu, que pára a chuva... Então, será Elias? E a tensão nervosa na pergunta:  “Então és tu Elias? És Elias? Dize com sinceridade...”
João respondeu: “Não sou.”
Com essas respostas, eles tinham um alívio imediato, mas depois crescia ainda mais a insegurança. Por que? Porque João devia ser uma figura meio mítica, legendária, saída de alguma toca ou gruta, ou de alguma eternidade desconhecida. Parecia uma figura eterna. E depois, anacoreta mesmo, alimentando-se de gafanhotos e mel silvestre, vestido de pele de camelo, com um cinturão. Era um homem que espantava, dono de uma voz forte, segura. Ele era um homem seguro. Nada dessa indecisão: “Eu? Eu não... eu não sou Elias...” “Não sou!” 
Eles perguntaram: “Quem és, então? És tu Elias?” João respondeu: “Não sou.” Eles perguntaram: “És o profeta?”
Porque podia ser um profeta. E já isto os apavorava também, porque a palavra dele seria tomada como palavra de Deus. Mas eles iam pedir um sinal se ele dissesse que era um profeta, porque nenhum judeu aceitava a presença de um profeta sem um sinal. No entanto, eles aceitavam Elias. Primeiro, devido àquele sacrifício feito, os oitocentos e cinquenta sacerdotes de Baal. Elias era o homem. E depois, o profeta que desapareceu e que tem ainda uma missão no fim do mundo. Isso tudo a respeito de Elias impressionava muito. Se ele dissesse:
— Sou um profeta.
 Imediatamente pediriam:
 — Dê-nos um sinal.
 E São João vai dizer mais uma vez com segurança, com firmeza.
“És o profeta?” Ele respondeu: “Não!” Perguntaram então: “Quem és, afinal?”  
 “Temos de levar uma resposta para aqueles que nos enviaram.”
Como que dizendo: “Diga-nos quem és, porque se nós chegarmos lá sem resposta, eles nos enforcarão.” Imaginem a pressão provavelmente feita sobre eles! ─ “Não apareçam aqui sem uma resposta muito clara.”
A resposta que ele vai dar é um discurso lindíssimo.
João declarou: “Eu sou a voz que grita no deserto:”
 “Que clama no deserto.” É uma referência a Isaías que eles conheciam perfeitamente. Antes do aparecimento do Messias, haverá uma voz que clamará no deserto. “Eu sou aquele que Isaías previu.”
Pânico. 
Eu sou a voz que clama no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’ — conforme disse o profeta Isaías.
Eles sabiam perfeitamente. Isaías tinha dito isso, e, no fundo, ele está dizendo: “Eu sou a realização dessa profecia de Isaías.”
E ninguém ousa dizer o contrário. Eles conheciam a Escritura, conheciam Isaías, sabiam perfeitamente esse trecho. Esse trecho devia ter girado pela cabeça deles incontáveis vezes. E estavam preocupados de que realmente se tratasse de uma voz que clama no deserto. “Sou a voz que clama no deserto.”
Ora, os que tinham sido enviados, pertenciam aos fariseus...
Portanto, eram sacerdotes levitas que pertenciam aos fariseus.
E perguntaram...
Porque os fariseus eram os mestres em obedecer todo o ritual.
Os fariseus tinham constituído uma religião com base em seiscentas e vinte três regras para serem observadas. E aquelas regras todas eram um tormento. Eles exigiam o cumprimento com lupa em uma mão e chicote na outra: “Tem que fazer isto agora, tem que fazer aquilo.”
E, segundo os fariseus, não era permitido haver um ritual fora das seiscentas e vinte e três regras; não se podia batizar outros se não fosse Elias, ou profeta, ou o Messias. Porque se fosse o Messias era compreensível. Se fosse profeta, também. E, mais ainda, se fosse Elias. Então, não entendiam. E por isso é que São João coloca aqui em tom ridicularizante. Por serem fariseus, eles não entendiam o batismo de João. Ora, todo o povo entendeu o batismo de João e aceitou-o. E agora está diante dele um grupo que não aceitou o batismo: os fariseus. Então os fariseus perguntaram:
“Por que, então, andas batizando, se não és o Messias, nem Elias, nem o profeta?” João respondeu:
E a resposta é tremenda... “Eu batizo com água...”
Como se dissesse: “Qual é o mal de batizar com água? Qual é o problema?”
“Eu batizo com água, mas, no meio de vós, está aquele que vós não conheceis e que vem depois de mim.”
Já aqui é um deboche de São João Batista em relação a eles: diz que os fariseus que estavam aí não O conheciam. Ou seja, havia um no meio deles que eles não conheciam. Ou seja, ele está dizendo: “Eu sou o precursor. Eu venho antes daquele que vem depois de mim.”
“Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias.”
Este homem, com poder de influência, fama, mito, glória, com uma aura impressionante, no meio de toda a opinião pública, diz: “Eu não sou digno de me agachar e desamarrar as sandálias deste que vem depois de mim. Não é indignidade de lavar os pés, é de desamarrar as sandálias. Ou seja, perto d’Ele eu não sou nem sequer escravo. Eu não sirvo para ser escravo d’Ele.”
Isso deixou os fariseus, os que eram sacerdotes e levitas, assustadíssimos. “Quem será que este homem vem precedendo? Quem será?”
Isso aconteceu em Betânia, além do Jordão, onde João estava batizando.
E São João Evangelista coloca isso no começo do Evangelho dele. Isso é o capítulo I, versículos 19-28. Isso é para deixar claro que a figura de Nosso Senhor tinha sido atestada por São João Batista e por ele também, enquanto evangelista. Portanto, não havia como colocar em dúvida.
 Nós devemos ser aqueles que aplainam os caminhos do Senhor com nossas palavras e nossa atitude
Fica para nós, subjacente neste Evangelho, o seguinte convite: nós devemos ser aqueles que aplainam o caminho do Senhor. Nós devemos ser aqueles que clamam no deserto. Nós devemos clamar com as nossas palavras e com a nossa atitude.
E, pondo isto no Evangelho, São João está dizendo que não basta conhecer. É bom conhecer, porque quem não conhece, não ama; é preciso conhecer para amar. O conhecimento é fundamental, é preciso conhecer. Mas só o conhecimento não basta. É preciso que, além do conhecimento, nós sejamos testemunhas.
Então, cada um de nós, na sua idade; cada um de nós, no seu chamado; cada um de nós, na sua categoria social; cada um de nós, no seu ambiente, cada um de nós tem que dar testemunho. Cada um de nós deve, além de conhecer, viver aquilo que conhece e transpor o conhecimento à sua própria vida. E, na liturgia de hoje, nós somos chamados a clamar no deserto e a aplainar os caminhos do Senhor.

Muitas vezes, o que é preciso para aplainar os caminhos do Senhor? Tirar uma pedra. Se há uma pedra no caminho e não dá para passar, é preciso retirá-la.

Mons João Clá Dias - homilia 2/01/2006 - sem revisão do autor. 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Evangelho IV Domingo do Advento – Ano C – Lc 1, 39-45

Comentários ao Evangelho IV Domingo do Advento – Ano C – Lc 1, 39-45
39Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 
Com um grande grito exclamou: “ Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu."( Lc 1, 39-45)
A arrebatadora excelência da voz de Maria
Ao ouvir a voz da Mãe de Deus, São João Batista foi imediatamente purificado do pecado original. Tal prodígio prenunciava as grandes transformações reservadas aos que, ao longo da História, seriam objeto da maternal intercessão de Maria.
O OLHAR HUMANO E O OLHAR DA FÉ
Ensina o Apóstolo que “o justo viverá pela fé” (Gal 3, 11). Esta afirmação ressalta a natural insuficiência de nossa razão para atingir, por si mesma, determinadas verdades da Religião Católica. Quando a inteligência se dissocia de Deus, perde a capacidade de apreender o que a realidade possui de mais essencial: a presença d’Ele na alma e em todo e universo criado. Basta recordarmos o testemunho de Santo Agostinho que, após percorrer em vão o mundo do pensamento à procura do sentido de sua existência, exclamou: “Tu estavas dentro de mim, mais interior que o meu próprio íntimo e mais elevado que o ápice do meu ser”.1 Ora, esse conhecimento foi-lhe dado pela fé, pois a vista humana não alcança a Deus diretamente.2
De igual forma, quando analisamos as Sagradas Escrituras não é possível acompanhá-las com a pura inteligência. Esta fica aquém da amplitude sobrenatural dos episódios da História Sagrada, de modo especial dos Evangelhos, e a partir de certo limite deve se abrir para as inspirações do Espírito Santo a fim de penetrar em seu sentido divino. Cabe-nos meditar tais fatos enquanto acontecimentos movidos pela ação direta e eficaz do Criador.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Comentários à Primeira Carta de São João 3,1

1 Vede que grande presente de amor o Pai nos deu:  de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!
Há milênios, a humanidade estava na pior situação possível por causa do pecado de Adão e Eva. Porque, no Paraíso Terrestre, gozavam de uma alegria extraordinária. Era a felicidade da imortalidade, da impassibilidade em relação às doenças, a felicidade de comandar todos os animais, de comandar a própria natureza; era a ciência infusa de Adão, que devia ser um homem cheio de conselhos, de observações e inteligência. Além disso, o dom de integridade, por onde o homem não tinha a menor convulsão interna: as inclinações, tendências, paixões não o levavam para este ou para aquele canto; era tudo inteiramente controlado pela razão e pela Fé. A inteligência entendia e os instintos todos se coordenavam em relação à razão, mas a inteligência também não desviava um só milímetro dos rumos e dos caminhos da Fé.
Pecam e estabelece-se uma desordem colossal na natureza humana. Não é só a morte que entra, mas é pior do que isso: é a morte da alma, o pecado. Começa dentro do homem um caos, porque as leis todas começam a brigar entre si e o homem vive num verdadeiro torvelinho de aflições e de solicitações para o mal. A partir deste momento, o homem torna-se incapaz, por sua natureza, de praticar estavelmente qualquer dos mandamentos.
Depois do pecado original, de si, o homem não tem forças para resistir às más inclinações que existem no âmago de sua alma
Portanto, o homem se torna um pecador. Porque, uma vez que ele não consegue manter-se na prática estável dos mandamentos, torna-se pecador. Ora, enquanto pecador — esta é a pior das desgraças — porque morrer é um mal físico, traz o tormento da separação da alma do corpo, mas não é o pior. Ter doenças também não é o pior; ter angústias, provações: isto não é nada. O pior é viver na escuridão, viver nas trevas do pecado, por onde o homem perde inteiramente o senso das coisas e a capacidade de julgar com segurança, com inerrância, as atitudes e tudo o que faz. A justiça humana fica inteiramente falha.
Isso não tinha solução. Solução de mandar um Anjo para segurar o homem e para o orientar? Ainda que o homem convivesse com um Anjo, ele, em determinado momento, por mais que o Anjo quisesse segurá-lo, ele cometeria a falta, porque a natureza dele não tem forças para resistir às inclinações que se estabeleceram no âmago da alma humana depois do pecado. E pode ser que ele pratique um ato de virtude, uma, duas, dez vezes, mas, em certo momento, com ou sem a presença do Anjo, ele ofenderia a Deus.
Para o arrependimento perfeito é preciso um auxílio especial de Deus
Tragédia, porque uma ofensa a Deus significa uma condenação eterna. Quem vai reparar esta falta cometida pelo homem? Então, a humanidade estava toda condenada ao Inferno. Porque, se não há um auxílio por onde o homem pratique estavelmente a virtude, ele, a não ser que tenha um arrependimento perfeito, vai para o Inferno. Ora, para o homem possuir o arrependimento perfeito, é preciso um auxílio especial de Deus, porque, de si, o homem não chega a esta perfeição.
Então, a situação da humanidade era a pior possível. E está escrito aqui, na Carta de São João:
Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados de filhos de Deus!
Nós passamos da pior situação possível para a melhor situação que possa haver. Porque os Anjos que caíram, estes eram filhos de Deus. Deixaram de ser filhos de Deus e foram parar no fundo do Inferno, sem possibilidade de nenhuma solução. O homem sai do Paraíso e recebe de presente, nada mais nada menos, o amor do Pai. Que amor? De sermos chamados filhos de Deus. Ser filho de Deus! E ele diz: “E realmente o somos!” E, além do mais, enquanto filiação divina, existe em nós esta grande esperança que vai se realizar, porque na epístola de hoje falava-se em Fé e esperança.

Esperança do quê? De que, quando Nosso Senhor vier, nós seremos semelhantes a Ele. Ou seja, nós O veremos tal qual Ele é. Vamos ver a humanidade d’Ele como foi vista em Belém, em Jerusalém, como foi vista até no Gólgota e Calvário. Nós vamos ver a humanidade d’Ele, e, ao mesmo tempo, a divindade d’Ele. E seremos como Ele, porque nós o veremos na sua divindade, nós também estaremos divinizados.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Evangelho III Domingo do Advento Ano C - Lc 3, 10-18

Comentários ao Evangelho  3ºDomingo do Advento – Lc 3, 10-18 – Ano C
Naquele tempo, 10 as multidões perguntavam a João: "Que devemos fazer?" 11 João respondia: "Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!"
12 Foram também para o batismo cobradores de impostos, e perguntaram a João: "Mestre, que devemos fazer?" 13 João respondeu: "Não cobreis mais do que foi estabelecido".  14 Havia também soldados que perguntavam: "E nós, que devemos fazer?" João respondia: "Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com o vosso salário!"
15 O povo estava na expectativa e todos perguntavam no seu íntimo se João não seria o Messias. 16 Por isso, João declarou a todos: "Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo. 17 Ele virá com a pá na mão: vai limpar sua eira e recolher o trigo no celeiro; mas a palha ele a queimará no fogo que não se apaga". 18 E ainda de muitos outros modos, João anunciava ao povo a Boa Nova. Lc 3, 10-18
 ‘Alegrai-vos”, mas... como?
No dia em que a Liturgia Católica oferece ao fiel uma pausa jubilosa em meio à penitencia do período de Advento, o Precursor nos indica o “que devemos fazer” para encontrar a verdadeira alegria, tão ansiada por toda criatura.
UM REMANSO DE ALEGRIA EM MEIO  À PENITÊNCIA
A Liturgia da Igreja reúne sucessivamente, ao longo do ano, os mais variados sentimentos: a tristeza na Semana Santa; o gáudio transbordante, porém cheio de temperança, na Ressurreição; a esperança durante o período do Tempo Comum; o júbilo festivo nas grandes solenidades. Em certo momento ainda, nos deparamos com uma manifestação — quiçá uma das mais acentuadas dentro da Liturgia — de conforto e felicidade em meio à penitência. Essa é a nota característica de dois domingos únicos no ano: o 4º Domingo da Quaresma, que leva o título de Lætare, e o 3º Domingo do Advento, designado pelo nome de Gaudete. Neste último, sobre o qual refletiremos, a Igreja abre um parêntese na ascese e na preocupação constante de uma conversão — atitudes próprias à época do Advento e preparativas para a vinda de Nosso Senhor — para tratar da alegria, infundindo-nos novo ânimo.
“Alegrai-vos sempre no Senhor!”

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

EVANGELHO DA SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE NOSSA SENHORA — 8 DE DEZEMBRO

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DA SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE NOSSA SENHORA — 8 DE DEZEMBRO —

O dom mais excelso de toda a ordem a criação

Em Maria, Deus quis unir a insuperável dignidade da maternidade divina ao maior dom da graça, o qual restaurou a beleza do universo criado e iniciou a história de nossa Redenção.

A VISÃO CERTA DAS COISAS É A DE DEUS

Contemplar os acontecimentos a partir de uma perspectiva divina é difícil para nós, criaturas humanas, enquanto vivemos na Terra. Por estarmos sujeitos às leis do tempo, nosso raciocínio é discursivo, diferente do modo de pensar próprio a Deus, para quem só existe o presente. Mas quando chegarmos à eternidade e nos encontrarmos face a face com Ele, tudo será muito mais simples, porque nossa inteligência se tornará deiforme.

Neste mundo, pelo contrário, conhecemos as coisas pelos sentidos e temos a tendência de considerar como realidade apenas aquilo que eles captam, pois julgamos ser este o meio mais eficaz para a analisarmos. Entretanto, tal ideia não é acertada, pois tudo está em Deus, como ensinou São Paulo no Areópago de Atenas: “é n’Ele que temos a vida, o movimento e o ser” (At 17, 28). Cada criatura esteve em Deus desde sempre, e, ao criar, Ele também o faz dentro de Si, porque nada existe fora de Deus. Enquanto nós vemos as coisas exteriormente, Deus vê tudo em Si mesmo com absoluta perfeição.

Dois modos de ver a realidade

Nada melhor do que um exemplo para nos ajudar a compreender a questão. No passado, os observatórios astronômicos eram equipados com grandes e pesadas lunetas, também chamadas de telescópios refratores. Além de serem de difícil manuseio, sua fabricação era bastante dispendiosa por causa da necessidade de lentes apropriadas. Com os avanços tecnológicos, esses aparelhos foram sendo substituídos por outros mais simples, eficientes e menos custosos, os telescópios refletores, constituídos sobretudo de espelhos em vez de lentes. Neste sistema, o observador não examina diretamente os astros com as lunetas, e sim as imagens dos corpos celestes refletidas nos espelhos. O resultado é uma análise mais acurada e precisa da abóbada celeste.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Aprendei de Mim porque sou manso e humilde de coração

... e aprendei de Mim porque sou manso e humilde de coração.
Deus se faz homem. E o que Ele escolhe para nascer? Agora, muitos estão montando um presépio; então, chega o momento de fazer o palácio de Nosso Senhor; e é aquele capim seco que se colhe no mato, põe-se no sol, esturrica-se bem para fazer o telhado. Depois, a palha que  faz o telhado, é a mesma palha que se  põe na manjedoura para colocar um bebezinho desprotegido ali dentro, feito de gesso e colocado ali.
Que palácio! E quem está ali? É a representação de um Deus que se fez homem! E como é que Ele se fez homem? Fez-se bebê! Onde Ele nasceu? Numa gruta! Por quê? Porque Ele é manso e humilde.

Ele não está querendo vir por cima da gente, cobrando: “Ah, olhe, como é que é? A minha lei, os dez mandamentos! Então, primeiro mandamento da Lei de Deus! Segundo! Como é?” Não, Ele diz: “Venha, venha, Eu perdoo tudo. Reconheça que andou mal, que é a primeira condição para Eu lhe pôr em um estado de perfeição imediatamente. Eu assumo tudo. Não se lembra que Eu dei até a minha última gota de sangue e de linfa na Cruz? Você acha que meu sangue vale pouco? Pois Eu dei justamente para perdoar todos os seus pecados. Venha, venha!”
Mons João Clá Dias
Linguagem oral, extraído da homilia 7/12/2005 , sem revisão do autor.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Livro dos Macabeus

Assista a um trecho da homilia de Mons João Clá Dias a respeito da leitura do livro dos Macabeus.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Evangelho da Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo - Ano B - Jo 18,33b-37

Comentários ao Evangelho da Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo - (Jo 18,33b-37)
Naquele tempo, 33b Pilatos chamou Jesus e perguntou-lhe: “Tu és o rei dos judeus?” 34 Jesus respondeu: “Estás dizendo isto por ti mesmo ou outros te disseram isto de mim?”
35 Pilatos falou: “Por acaso sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?”
36 Jesus  respondeu: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”.
37 Pilatos disse a Jesus: “Então tu és rei?”
Jesus respondeu: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”. (Jo 18,33b-37)
Rei da eternidade
Antes de ser flagelado, coroado de espinhos e crucijicado, Nosso Senhor Jesus Cristo declara diante de Pilatos a sua soberania sobre toda a criação: “Eu sou Rei”.
I - A MAIS AUTÊNTICA DAS MONARQUIAS
Ao percorrer as páginas do Antigo Testamento, um dos episódios da história da nação eleita atrai a atenção de modo especial. Qual seu verdadeiro significado?
Em determinado momento, os israelitas sentem-se inferiorizados em relação aos outros povos governados por reis, enquanto eles vivem num regime teocrático, conduzidos por Deus através dos juízes. Então, pedem um monarca a Samuel. Discutem com o profeta, que se toma de indignação, mas são afinal atendidos nos seus anseios. Por fim, é chegada a hora de estabelecer o novo regime e Deus mesmo manda Samuel ungir Saul como rei (cf. I Sm 8, 4-22; 9, 17; 10, 1).
Ora, esta monarquia, assim instituída, nasce de uma infidelidade, e as palavras divinas, explicando ao último juiz de Israel as razões que levam o povo a agir desta maneira, não deixam lugar a dúvidas: “Não é a ti que eles rejeitam, mas a Mim, pois já não querem que Eu reine sobre eles” (I Sm 8, 7). Portanto, a nação eleita não quer mais ser governada diretamente por Deus. Acrescente-se ainda que as vantagens do personagem escolhido parecem ser bastante terrenas e naturais: “Não havia em Israel outro mais belo do que ele; dos ombros para cima sobressaía a todo o povo” (I Sm 9, 2). A julgar pela descrição, bastou apenas uma apresentação fisica de destaque e 30 cm de estatura a mais que o comum dos homens para conferir a Saul o título da supremacia.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Evangelho da Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo - Ano B - Jo 18,33b-37

Conclusão dos comentários ao Evangelho da Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo - (Jo 18,33b-37)
A plenitude da realeza
Sim, Nosso Senhor Jesus Cristo é Rei e o seu império se estabelece em duas etapas. Na primeira, a deste mundo, seu campo de realização é a Santa Igreja Católica e seu objetivo a santificação das almas. A jurisdição de Nosso Senhor se exerce no interior dos corações pela graça e, na aparência, deixa agir os homens segundo os seus desejos, uma vez que ainda estão em estado de prova. Legisla pela infalibilidade pontifícia, julga no confessionário e executa seus decretos de forma não manifesta. Contudo, este Reino é invencível, como Ele mesmo afirmou quando prometeu a imortalidade à sua Igreja, dizendo “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18), e como já prenunciava também a profecia de Daniel: “Seu poder é um poder eterno que não Lhe será tirado, e seu Reino, um Reino que não se dissolverá” (7, 14b).
Além de não ser destruída — apesar de todas as tentativas dos seus inimigos —, a Santa Igreja irá produzindo incontáveis frutos ao longo dos séculos, sempre superiores uns aos outros; mas os seus últimos e mais belos aspectos reluzirão no fim do mundo, no dia em que o Divino Rei consumar a sua vitória sobre a morte, o pecado e o demônio, e for glorificado como fidelíssimo Filho do Pai.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Evangelho da Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo - Ano B - Jo 18,33b-37

Continuação dos comentários ao Evangelho da Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo - (Jo 18,33b-37)
III - JESUS DECLARA SUA REALEZA
Na primeira leitura (Dn 7, 13-14) desta Liturgia, a visão de Daniel mostra-nos Nosso Senhor Jesus Cristo na manifestação de sua grandeza régia: “Foram-Lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas O serviam” (Dn 7, 14a).
Com efeito, Ele é o Rei glorioso, coroado na eternidade e detentor da autoridade sobre toda a criação. Mas, paradoxalmente, o Evangelho de São João apresenta a figura deste Rei em situação de humilhação, com as mãos amarradas, prestes a ser flagelado, coroado de espinhos, condenado por seu próprio povo, morto e crucificado. E, então, inicia-se um dos mais belos diálogos de toda a Escritura.
O governador interroga o Todo-Poderoso
Naquele tempo, 33b pilatos chamou Jesus e perguntou-lhe: “Tu és o Rei dos judeus?”
Pela pergunta, percebe-se que o governador já ouvira as denúncias dos membros do Sinédrio contra o Divino Prisioneiro (cf. Mc 15, 3; Jo 18, 28-30) e desejava conhecer suas intenções. Pretenderia Ele subir ao trono de Israel e sublevar os judeus contra o domínio de Roma (cf. Lc 23, 1-2)? Ter-Se-ia arrogado, de fato, o título de Messias, quando foi aclamado pela multidão como Filho de Davi, ao entrar em Jerusalém poucos dias antes (cf. Mc 11, 9-10)? Contudo, o romano via diante de si um Varão tão respeitável, virtuoso, equilibrado e submisso! Tratava-se realmente de um revolucionário? Jesus respondeu: Estás dizendo Isto por ti mesmo, ou outros te disseram isto de Mim?”