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sábado, 23 de maio de 2015

EVANGELHO SOLENIDADE DE PENTECOSTES - ANO B - Jo 20, I 9-2 3

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO SOLENIDADE DE PENTECOSTES
MONS JOÃO CLÁ DIAS
19 Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, Pondo-Se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. 20 Depois dessas palavras, mostrou-Ihes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.
21 Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai Me enviou, também Eu vos envio”. 22 E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Epírito Santo. 23 A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados: a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20, I 9-2 3).
Pentecostes, esperança para o século XXI
A instantânea e radical mudança dos Apóstolos no dia de Pentecostes, há dois mil anos, deita caudais de luz nas obscuras perspectivas de um século que voltou as costas a Deus
I - UMA EFUSÃO DE FOGO DIVINO NO NASCEDOURO DA IGREJA
Solenidade de Pentecostes, na qual celebramos a descida do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos, é uma das festividades mais importantes do calendário litúrgico. Este acontecimento conferiu maturidade à Igreja, pois, até então ela repousava nas mãos da Santíssima Virgem, como criança. E assim como Maria estivera presente no Calvário, aos pés da Cruz, enquanto Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Cenáculo Ela estava como Mãe do Corpo Místico de Cristo. Mãe da Cabeça no Calvário, Mãe do Corpo no Cenáculo, Ela queria que esta Igreja recém-nascida crescesse e se desenvolvesse, a fim de tornar-se apta a exercer sua missão evangelizadora.
Naquele dia Nossa Senhora pôde ver como este amadurecimento se deu num instante, quando Se derramou o Espírito Santo em línguas de fogo, primeiro sobre Ela e, depois, d’Ela para todos os Apóstolos, discípulos e Santas Mulheres que ali se encontravam em grande número. A partir daí a Igreja passou a ter mais efusão de santidade, de dons e de graça, e foi instituída na prática, no que se refere à sua ação externa, potência e expansão. O Cenáculo é o começo do assombroso crescimento da Igreja, uma verdadeira explosão evangelizadora.
Assim comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira este acontecimento: “Apesar de tudo quanto Nosso Senhor até então fizera pela Igreja, poder-se-ia de algum modo dizer — não quero fazer uma comparação exata — que a Igreja era, antes de Pentecostes, um boneco de barro, que recebeu de Deus um sopro de vida em Pentecostes, com o Divino Espírito Santo. Ali tudo mudou, tudo passou a viver e tudo passou a pegar fogo no mundo, a contagiar o mundo, até o apogeu dos dias de hoje, em que o Evangelho é pregado a todos os povos”.1
Mudança instantânea e completa

quinta-feira, 21 de maio de 2015

EVANGELHO DE PENTECOSTES - ANO B - Jo 20, 19-23

CONCLUSÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DA SOLENIDADE DE PENTECOSTES
A mística atualidade da Liturgia
Ora, que relação têm estas reflexões com a Solenidade de Pentecostes? A consideração das festas litúrgicas não deve ser focalizada como um mero exercício de memória, de maneira semelhante a alguém que, chegado o aniversário de falecimento de um parente ou amigo, toma uma fotografia deste e relembra quanto ele era bom, mas depois continua seus afazeres sem dar mais importância ao fato. Se é verdade que na Liturgia cabe, em parte, também a recordação, no entanto há uma atualidade mística que se verifica no momento da Santa Missa, trazendo uma participação real, autêntica e direta nas graças distribuídas naquele dia — hoje, em concreto, a efusão do Espírito Santo —, porque nos congrega em torno de Cristo vivo, e não constitui apenas uma reminiscência do período em que Ele estava na Terra.
Tal é a doutrina da Igreja, conforme ensina o Papa Pio XI na Encíclica Quas primas: “para instruir o povo nas coisas da Fé e atraí-lo por meio delas aos íntimos gozos do espírito, muito maior eficácia têm as festas anuais dos sagra dos mistérios que quais quer ensinamentos, por autorizados que sejam, do Magistério Eclesiástico”.5 E o Papa Pio XII, na Encíclica Mediator Dei sobre a Sagrada Liturgia, afirma: “O Ano Litúrgico, que a piedade da Igreja alimenta e acompanha, não é uma fria e inerte representação de fatos que pertencem ao passado, ou uma simples e nua evocação da realidade de outros tempos.
É, antes, o próprio Cristo, que vive sempre na sua Igreja e que prossegue o caminho de imensa misericórdia por Ele iniciado, piedosamente, nesta vida mortal, quando passou fazendo o bem (cf. At 10, 38) com o fim de colocar as almas humanas em contato com os seus mistérios e fazê-las viver por eles, mistérios que estão perenemente presentes e operantes, não de modo incerto e nebuloso, de que falam alguns escritores recentes, mas porque, como nos ensina a doutrina católica e segundo a sentença dos Doutores da Igreja, são exemplos ilustres de perfeição cristã e fonte de graça divina pelos méritos e intercessão do Redentor; e porque perduram em nós no seu efeito, sendo cada um deles, de modo consentâneo à própria índole, a causa da nossa salvação”.6
A Igreja pede para “agora” as graças concedidas no Cenáculo
Não nos é dado penetrar integralmente em todo o significado e substância do acontecimento de Pentecostes, visto estar ele cheio de mistério. Na verdade, o que se teria passado com a Esposa de Cristo se não descesse o Paráclito sobre os Apóstolos? Não nos esqueçamos de que — digamo-lo com todo o respeito —, durante a Paixão de Nosso Senhor eles foram covardes, O abandonaram, desapareceram, fugiram (cf. Mt 26, 56; Mc 14, 50). Após a Morte e Ressurreição de Jesus tornaram a reunir-se, desejosos de ver a implantação do reino de Israel sobre todos os povos (cf. At 1, 6), e não do Reino dos Céus que o Divino Mestre havia pregado! Esta é a natureza humana... incapaz, por si, de atos sobrenaturais. Quiçá a Providência tivesse permitido que fossem tão pusilânimes para mostrar qual a distância existente entre a nossa condição — da qual às vezes tanto nos orgulhamos — e a força do Espírito Santo. Com efeito, muitas vezes julgamos que os Santos eram pessoas de vontade extraordinária, graças à qual venceram os obstáculos até conquistarem a coroa da justiça. Ora, nenhum homem, por mais hábil que seja, alcança a perfeição por seu esforço pessoal; só praticará as virtudes de forma estável se assistido pelo Espírito Santo. E Ele quem santifica a Igreja inteira, como se deu naquela manhã, quando o vento invadiu toda a casa onde estavam e as línguas de fogo pousaram sobre a cabeça dos Doze e de seus companheiros, como narra a primeira leitura (At 2, 1-11) desta Solenidade: de medrosos que eram, tornaram-se heróis!

terça-feira, 19 de maio de 2015

EVANGELHO DE PENTECOSTES - ANO B - Jo 20, 19-23


COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DA SOLENIDADE DE PENTECOSTES
II - PENTECOSTES NO SÉCULO XXI
Como criaturas humanas que somos, habituados às coisas sensíveis, ou seja, ao que vemos, ouvimos ou apalpamos, vivemos muito mais voltados para a matéria do que propriamente para o espírito; por isso tendemos a crer apenas naquilo que é concreto, como o Apóstolo São Tomé que, ao receber a notícia da Ressurreição de Nosso Senhor, disse: “Se não vir nas suas mãos o sinal dos pregos, e não puser o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado, não acreditarei!” (Jo 20, 25). Assim somos nós: queremos comprovar para acreditar. Esquecemos, todavia, que uma vez demonstrado um fato, a razão conclui ante as evidências e torna-se desnecessária a crença; pelo contrário, a fé é justamente uma virtude que nos leva a aceitar aquilo que ultrapassa a nossa constatação, segundo lemos na Escritura: “A fé é [...] uma certeza a respeito do que não se vê” (Hb 11, 1).
Deus é todo-poderoso
Custa-nos, neste sentido, compenetrarmos-nos de um ponto, que é o da onipotência de Deus, embora sempre proclamemos no início do Credo: “Creio em Deus Pai todo-poderoso”. Até os Apóstolos se defrontavam com esta dificuldade, como se infere daquela passagem do Evangelho na qual, tendo o moço rico resolvido conservar seus bens e não seguir o Mestre, Ele disse: “E mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Lc 18, 25). Surpresos, os discípulos perguntaram: “Quem então poderá salvar-se?’. Respondeu Jesus: ‘O que é impossível aos homens é possível a Deus” (Lc 18, 26-27).
Devemos, portanto, colocarmo-nos diante desta perspectiva: Deus é todo-poderoso! Ele tirou do nada o universo, uma multidão de criaturas! Se, por exemplo, temos oportunidade de observar as formiguinhas que se preparam para o inverno, levando folhas e alimento para o formigueiro, tomamos isto com naturalidade e não refletimos que é o Criador quem as sustenta, bem como a todos os demais seres: pedregulhos, árvores, insetos.., tudo! Nós mesmos existimos, estamos cheios de vitalidade e somos capazes de ler este texto, porque Deus mantém a cada um.
Com seu poder absoluto Ele formou um boneco de barro que artista nenhum conseguiria imitar; depois, soprou-lhe nas narinas e a figura adquiriu vida (cf. Gn 2, 7), gozando de inteligência, vontade e sensibilidade, num corpo perfeito. Mais ainda, além de ser dotado de uma alma espiritual, o homem possuía o estado de graça, com todos os dons sobrenaturais acrescidos dos preternaturais, como o dom de integridade, que o impedia de apetecer o mal, a não ser que “se rompesse previamente a harmonia resultante da sujeição de sua razão superior a Deus”;4 o dom de imortalidade, mediante o qual não morreria, mas passaria desta vida para a outra, no Céu, sem a dolorosa separação da alma e do corpo; o dom de ciência infusa que, na qualidade de rei da criação, lhe conferia o conhecimento de todas as coisas e das razões pelas quais Deus as fez. Quando os animais se enfileiraram diante de Adão para que lhes desse nome (cf. Gn 2, 19-20), ele os designou com o título correspondente àquilo que compreendia da essência de cada um: leão, tigre, avestruz, formiga... Todas estas maravilhas o primeiro homem as recebeu através de um sopro divino! Por quê? Porque Deus é todo-poderoso!
Um plano manchado pelo pecado
Não obstante, o plano concebido por Deus, ao dar a existência ao homem, foi desfeito pelo pecado. Em consequência, Adão perdeu o dom de integridade, a imortalidade, a ciência infusa e... sobretudo, a graça! A partir dele toda a sua posteridade nasceu com a mancha da culpa original e se foi multiplicando uma descendência, com algumas exceções, terrivelmente criminosa. Sobreveio o dilúvio, a Torre de Babel, e horrores sem conta acumularam-se ao longo de milênios de História, em que a decadência se fazia sentir a cada passo. Por fim, na plenitude dos tempos, a humanidade foi redimida pelo Sangue preciosíssimo de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas, apesar desta restauração, as gerações que se sucederam após a vinda do Messias, em sua maioria, voltaram as costas para os méritos infinitos da Paixão e afundaram novamente no vício; “o mundo não O reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não O receberam” (Jo 1, 10-11). A própria natureza humana vai se deteriorando: enquanto no Antigo Testamento as pessoas possuíam uma grande resistência física, que lhes permitia viver centenas de anos — como aconteceu a nossos pais, Adão e Eva, ou a Matusalém (cf. Gn 5, 5.27) —, no presente, a expectativa de vida do homem está entre 70 e 75 anos.

Além disso, a força de vontade e a constituição psíquica sofreram significativa degradação. Na sociedade antiga, muito mais orgânica que a de hoje, o equilíbrio nervoso e mental era mantido com mais firmeza; em nossos tempos, em meio à agitação da vida, diminuiu a estabilidade. Em síntese, a virtude vai desaparecendo da face da Terra, o belo está se despedindo do gênero humano. Assim, encontramo-nos numa situação dramática, talvez pior do que quando o Verbo Se encarnou para pregar o Evangelho e morrer na Cruz.
Continua no próximo post

segunda-feira, 18 de maio de 2015

EVANGELHO SOLENIDADE DE PENTECOSTES - ANO B - Jo 20, 19-23

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DA SOLENIDADE DE PENTECOSTES
Mons João Clá Dias
19 Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, Pondo-Se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. 20 Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.
21 Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai Me enviou, também Eu vos envio”. 22 E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Epírito Santo. 23 A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados: a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20, 19-23).
Pentecostes, esperança para o século XXI
A instantânea e radical mudança dos Apóstolos no dia de Pentecostes, há dois mil anos, deita caudais de luz nas obscuras perspectivas de um século que voltou as costas a Deus
I - UMA EFUSÃO DE FOGO DIVINO NO NASCEDOURO DA IGREJA
Solenidade de Pentecostes, na qual celebramos a descida do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos, é uma das festividades mais importantes do calendário litúrgico. Este acontecimento conferiu maturidade à Igreja, pois, até então ela repousava nas mãos da Santíssima Virgem, como criança. E assim como Maria estivera presente no Calvário, aos pés da Cruz, enquanto Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Cenáculo Ela estava como Mãe do Corpo Místico de Cristo. Mãe da Cabeça no Calvário, Mãe do Corpo no Cenáculo, Ela queria que esta Igreja recém-nascida crescesse e se desenvolvesse, a fim de tornar-se apta a exercer sua missão evangelizadora.
Naquele dia Nossa Senhora pôde ver como este amadurecimento se deu num instante, quando Se derramou o Espírito Santo em línguas de fogo, primeiro sobre Ela e, depois, d’Ela para todos os Apóstolos, discípulos e Santas Mulheres que ali se encontravam em grande número. A partir daí a Igreja passou a ter mais efusão de santidade, de dons e de graça, e foi instituída na prática, no que se refere à sua ação externa, potência e expansão. O Cenáculo é o começo do assombroso crescimento da Igreja, uma verdadeira explosão evangelizadora.
Assim comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira este acontecimento: “Apesar de tudo quanto Nosso Senhor até então fizera pela Igreja, poder-se-ia de algum modo dizer — não quero fazer uma comparação exata — que a Igreja era, antes de Pentecostes, um boneco de barro, que recebeu de Deus um sopro de vida em Pentecostes, com o Divino Espírito Santo. Ali tudo mudou, tudo passou a viver e tudo passou a pegar fogo no mundo, a contagiar o mundo, até o apogeu dos dias de hoje, em que o Evangelho é pregado a todos os povos”.1